Maria Inês Nassif: Espelho distorceu imagem do PSDB

Tempo de leitura: 4 min

Sem sorte, sem arte e sem bater um bolão

Maria Inês Nassif, no Valor Econômico, via blog do Nassif

Um velho amigo jornalista, o José Roberto de Alencar e Silva, resolveu ser setorista de paraíso há uns anos e de forma pouco leal: um cara que nunca teve saúde, convenhamos que não podia simplesmente ter se livrado da pouca que tinha sem preparar muito bem seu séquito de irmãos, irmãos tortos, amigos, ex-mulheres, namoradas, ex-namoradas, que continuam irredutivelmente órfãos dele. Pois bem, Alencar tinha um humor invejável e um texto maravilhoso, usados especialmente quando as situações eram muito ruins. Para contar histórias de “furos” – fantásticos, inacreditáveis, cujo script era sempre um “causo” comprido de narrador mineiro -, o Zezão escreveu o “Sorte e Arte”. Botava a sorte na frente da arte, para não parecer que se achava com mais arte do que sorte – coisa antipática esta, de achar que você é tão Deus do “furo” que ele chega à sua mão trazido pela sua genialidade, sem que nada se tenha interposto entre ela e o pedaço de papel que vai estar na banca amanhã, e depois de amanhã sabe-se lá que volta vai dar para cumprir uma outra função muito distante daquela de informar distintos leitores que os tempos são bicudos mas que as coisas podem melhorar – ou piorar, vai saber.

Nesses três últimos dias que o DEM e o PSDB se separaram mais uma vez (eles racharam em 2002, lembram-se?) fiquei pensando no Zezão. Será que ele atribuiria o fracasso da aliança do DEM com José Serra à falta de sorte, ou à falta de arte, do próprio Serra, na impossibilidade de atribuir a um jornalista a sorte ou a arte de dar um furo sobre o azar da aliança oposicionista? Acho que, na cabeça do Zé (o meu amigo), a avaliação seria a de que faltou inteligência, tato; sobrou uma certa arrogância; passou pela frente também um espelho daqueles de parque de diversões, que mostra pessoas e coisas muito maiores do que elas são. Se o Zé (o Alencar) não tivesse tido a infeliz ideia de ver se tem alguma notícia relevante no céu, acho que ele iria ficar pasmo com a falta de sorte e a falta de arte dos personagens das notícias aqui do nosso pedaço.

Aqui conversando com o Zé (Alencar, bem entendido), o que mais me intriga é o espelho de aumento. Quando puxaram o tapete do DEM, lançando pelo twitter do Roberto Jefferson (PTB-RJ) – vejam só, do Roberto Jefferson – o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) para vice de Serra, o PSDB agiu como se o DEM não tivesse qualquer opção a não ser estar com ele, em qualquer circunstância. Isto é, que o ex-PFL era tão destituído de sorte e de arte que tinha mesmo era de comer o prato feito, e de sobremesa a observação do miniblog de Jefferson, de que “o DEM é um partido de m…”

Daí, a realidade, que não depende nem de sorte, nem de arte, em algum momento aparece. O DEM elegeu 65 deputados em 2006. O PSDB elegeu 66. Os dois têm direito rigorosamente ao mesmo tempo de propaganda eleitoral gratuita que o outro. O PTB, que agiu com toda a desenvoltura a que está acostumado Jefferson, carrega para a coligação 22 deputados. O tempo de televisão e rádio é proporcional à bancada eleita em 2006. Seria uma arte conseguir, por meio dessa aritmética esquisita onde os 66 do PSDB passaram a valer muito mais do que os 65 do DEM, uma aliança em torno de uma chapa puro sangue com Álvaro Dias, o senador do Paraná cujo irmão, Osmar, é do PDT e vai se coligar com a candidata do PT, Dilma Rousseff. Seria também uma baita sorte. Não foi nem uma coisa, nem outra. Nem azar foi. O espelhão do circo deu ao PSDB uma ideia muito maior do que a que tinha sobre si mesmo. O Serra agiu por impulso. E a candidatura de Dias durou alguma coisa próxima a três dias.

Pois bem, o Zé que infelizmente não está aqui veria também o lado do DEM. Como o espelho deles não os diminuiu; como o partido tem consciência de que ele e o PSDB estão em situações muito ruim (ninguém pode se gabar nem um pouquinho do outro); como não lhes sobrou muita alternativa senão brigar pela vice – e olha, tem gente que nem queria brigar nada, bastava continuar do lado do Serra -, o DEM deu a volta por cima e conseguiu um vice. Sem qualquer uso de sorte ou arte. No grito, simplesmente. Se tivesse feito arte, o resultado teria que ser melhor do que um Índio da Costa (DEM-RJ). Mas daí é pedir muito: é torcer para o dono da bola, José Serra, ser um artista, e para a bola, por pura sorte, ser depositada nos pés do time. É pedir demais.

Ainda mais sabendo que o candidato Serra agiu sem sorte, e sem arte, em 2002, com situações, aliás, tão favoráveis a ele, que um pouquinho de arte teria ajudado muito. No mês de junho de 2002, quando os partidos se preparavam para fazer as convenções que oficializariam os candidatos a presidente, Serra foi o alvo de uma campanha de correligionários, destinada a tirá-lo da disputa. Os fiéis aliados do mercado financeiro e do mundo da economia, que vinham de uma lua de mel com Fernando Henrique Cardoso, armaram um “balão de ensaio” para tirá-lo do páreo. O balão é um boato que você espalha na mídia para ver se cola junto ao eleitor e junto ao partido. Se colar, vira fato. Serra, que já havia passado por cima de uma candidatura do então PFL, a de Roseana Sarney (MA), e comprado uma briga feia com Tasso Jereissati para ser o candidato de seu partido à Presidência, bancou sua pretensão. O balão furou. Sem nenhuma sorte, e sem nenhuma arte.


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Comentários

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jose b

eu moro no sul ,Paraná, aqui eles já iam perder, com o VICE, daqui, imaginem logo na semana que ele troca o VICE, DO SUL POR UM PLAYBOY CARIOCA, ele aumenta de 38 para 50% no SUL , AHHAHAHAHAHAHAHA, NEM O SERRA ACREDITA EM TAMANHA BESTEIRA, vai ti catá arruma outra , o BRASIL DA ELITE, JORNALESCA ACABOU, EXISTE A BENDITA INTERNET.,,,,,,,,,,,,,,,VIVA LULA ,

Vinícius Vitoi

Eu DILMEI, tem muita gente DILMANDO…
Muitos DILMARÃO….
Essa eleição será DILMAIS…
O verbo mais conjugado em 2010 será o verbo DILMAR que, no dicionário do futuro, significará voto certo, consciente, avanço político….

    Maria José Rêgo

    Concordo com voce Vinícius Vitoi. Pela manhã, desejo um 'Bom Dilma" para todos os colegas de trabalho que tenho certeza que simpatizam com a candidata petista.

@marisps

É a matemática do Serra (o coiso como disse um comentarista aqui do Viomundo… KKKK): 66 é muuiiiito maior do que 65, assim como 66 + 22 também é maior que 66 + 65! Grande "professor" e "economista": economizou na arte e na sorte!

PSDB perdeu a hegemonia, porque é de São Paulo | Conversa Afiada

[…] no Valor, pág. A4, sobre a batalha do vice: “Sem sorte, sem arte e sem bater um bolão” (ou leia aqui).(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e […]

sergio

demotucanos vanguardistas do atraso.

Vania Costa

E aqui no Rio Grande do Norte, fico a me perguntar: quando é que esse povo vai dar um chega prá lá no Agripino e na Rosalba? Nós não merecemos mais isso. Temos que evoluir.

Adriano

Antes do amigo Zé (Alencar) da autora do texto, o Machiavel já dizia que ao político é necessário virtù (compreensão da situação histórico-política, da conjuntura) e fortuna (ter uma dose de sorte). Lembrava também que alguns políticos conseguem se manter no poder valendo-se de uma série de lances favoráveis da fortuna. Mas considerava enquanto grande político (condottiere) aquele que consegue valer-se da virtù para controlar a fortuna.

Nassif deixou claro como falta ao Serra a virtù machiaveliana. Mais que isso: ao Zé Serra falta também a virtù dos romanos (aquelas virtudes cardeais – temperança, equilíbrio, altivez, magnificência, etc. etc.) que um César (um grande político) precisa ter e apresentar, já que ele é um espelho para a sua comunidade.

A ausência da segunda, romana, lhe deu condições de se manter no poder, apunhalando, no interior do seu partido, os opositores/concorrentes aos/dos seus projetos pessoais de poder (Alckminn, Jereissati, Aécio, etc); a ausência da primeira, maquiaveliana, favoreceu suas ambiçoes pessoais de poder enquanto a roda da fortuna girava em seu favor.

Todavia, como ele é um invertebrado político (ou seja, como ele não passa de um arrogante burocrata), incapaz de entender a própria correlação de força que existe no interior do seu bloco de aliados, quando a sorte (fortuna) lhe vira às costas, a ausência das duas virtù traz a nu a tacanheza de seu horizonte político e o atavismo "carlista" de sua prática.

O mais interessante dessa eleição vai ser assistir o declínio moral, a decadência política e a bancarrota pessoal de uma personagem política já minúscula, que tanto mal fez ao povo paulista e brasileiro.

E o mais gostoso dessa eleição vai ser poder dizer: Au revoir, José Serra, le petit.

Adriano

dukrai

O DEM elegeu 65 deputados em 2006. O PSDB elegeu 66 e no senado os dois partidos tem bancadas iguais, de 14 senadores.
Onde está o grande diferencial do PSDB? Na imprensa paulista e na tucanada "se achar", com toda a credulidade, ajudado pelo estilo cachorrinho do DEM, que vem desde a sua infância na ditadura com a Arena atendendo ao velho ditado da zelite, "manda quem pode, obedece quem tem juízo".
O DEM, que rachou com o PSDB em 2002, não conseguiu se livrar do abraço de afogado do Vampiro Brazileiro, vai junto para a cova e talvez renasça com o enterro de algumas das suas lideranças deletérias:
"… Na avaliação de Queiroz, dos principais senadores oposicionistas que buscam um novo mandato, apenas três – Heráclito Fortes (DEM-PI), Demóstenes Torres (DEM-GO) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) – estão em situação relativamente confortável. Já Arthur Virgilio (PSDB-AM), Sergio Guerra (PSDB-PE), José Agripino Maia (DEM-RN) e Marco Maciel (DEM-PE) enfrentam ao mesmo tempo os governos federal e estadual e contam com adversários fortes. …" http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=1

    Clarissa

    Heráclito Fortes, cacique maior do DEM no Piauí, não está lá tão confortável assim. Esse ano enfrenta uma eleição contra o ex-governador petista Wellington Dias, que saiu do governo há poucos meses com índices de aprovação quase tão favoráveis quanto os de Lula. Também tem como adversário a piada ambulante chamada Mão Santa [ex-PMDB, hoje no PSC], que, sabe-se lá porque, ainda goza de grande apoio popular no estado. Três candidatos para duas vagas. A briga promete ser feia! E, quem sabe, finalmente nos livremos do último demo a ainda deter algum poder no Piauí [Como no restante do Brasil, o partido que já foi todo poderoso também naufragou por lá].

Leider_Lincoln

AS parte em que ela trucida o Sérgio D'Ávila, expondo-o ao mais absoluto ridículo foi a melhor. Ele ficou tão desmoralizado que nem fez mais perguntas. Decerto estava tentando achar aonde enfiar a cara de tacho. O Heródoto, diga-se de passagem, foi, na melhor das hipóteses, um cretino. Ele não deixava a Dilma responde nem concluir raciocínios.

Geysa Guimarães

Sem sorte, sem arte e sem bater um bolão. Traduzindo: Serra está afunhanhado.

Jose Olavo

É de rir a observação do ex-presidente fhc, na televisão, minimizando a crise do vice: Política não se faz de afogadilho…
Depois de tantos meses para escolher o vice, depois de inumeras sondagens, inumeros candidatos, a escolha do vice não se faz de afogadilho…Só pode ser piada ou edntão escledrose senil no velho fhc…

Adriana Jota

Esse é o jeito Serra de fazer política… Sempre muito habilidoso e com muito tato. Sua vítimas estão espalhadas pelo Brasil: Roseana, Tasso, Aécio, Alckim. E sempre tam´bém com muito respeito, os xiita do PSDB vão destrossando reputações, nomes e sonhos nos 4 cantos do país.
Até em Goiás, o insuspeito Caiado foi "vítima" (se é que é possível) da sanha tucana de Marconi Perillo novamente.
Depois de ter jurado nunca mais compor com o antigo aliado que virou inimigo, Caiado entregou a convenção do DEM goiano de bandeja pra Marconi Perillo – tudo em nome (nova demominação de pressionado) da reeleição de Demóstenes Torres, o conservador e preconceituoso!!!!

Pablo

Grande Zezão!! Que falta nos faz nas redações – e nos bares da vida.

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