Marcos Coimbra e a fragorosa derrota da mídia: “Inventaram candidaturas, imaginaram cenários, fizeram suposições”

Tempo de leitura: 3 min
Foto Facebook Lula

Foto Facebook Lula

A fragorosa derrota da mídia

por Marcos Coimbra, em CartaCapital

Foi uma sucessão de erros grosseiros, da incapacidade de enxergar a força de Lula à recusa em reconhecer que Bolsonaro é mais que bizarro

Não é por outros motivos que boa parte da aliança antipetista esteja pronta a apoiá-lo em um segundo turno contra o PT

É longa a lista de notícias falsas e interpretações equivocadas que a “grande” imprensa brasileira ofereceu aos leitores no acompanhamento da eleição presidencial.

Inventaram candidaturas, imaginaram cenários e fizeram suposições irreais a respeito daquilo que a população queria. Não conseguiram antecipar o quadro que temos hoje.

Apostaram que os eleitores buscariam a “novidade”, nutriram a ridícula expectativa de que o governo Temer “chegaria forte” à eleição.

Mais recentemente, difundiram a convicção de que o embate mais importante voltaria a ser travado entre PSDB e PT.

Dentre vários despropósitos, dois foram os principais. De um lado, a incapacidade de enxergar a força de Lula e do PT.

De outro, a recusa de reconhecer que Jair Bolsonaro é mais que um personagem bizarro.

O saldo desses erros é a dificuldade de compreender as duas candidaturas, que, juntas, representam mais de 70% das preferências, tomando como base o voto nominal nas pesquisas recentes.

A respeito da força de Lula, o máximo que conseguem é insistir na cantilena de que “os pobres têm saudade de uma época em que viviam (ilusoriamente) melhor”, subtraindo a condição de cidadãos, capazes de fazer escolhas qualificadas, das dezenas de milhões de pessoas que pretendem votar em seu nome e reduzindo-as a estômagos malsatisfeitos.

Em relação a Bolsonaro, o maior equívoco é vê-lo como uma espécie de Celso Russomano, o candidato paulista defensor televisivo dos direitos do consumidor, que sempre começa bem e termina mal as eleições majoritárias.

Não foram poucos os analistas que decretaram que o capitão apenas esquentava o lugar que Geraldo Alckmin ocuparia na hora H, quando o jogo efetivamente começasse e os profissionais entrassem em campo.

Nunca houve qualquer base para essa suposição, até ao contrário.

Bolsonaro não nasceu na televisão e não é o tipo de candidato que o eleitor desinteressado e desinformado identifica como alguém familiar, de quem tem algumas vagas referências positivas.

São frequentes os candidatos com esse perfil e quase tivemos um a presidente, quando Luciano Huck namorou a possibilidade de concorrer.

Mais sábio que Russomano, logo percebeu que era grande o risco de repeti-lo, preferindo retirar seu nome da disputa.

Bolsonaro vem de outro lugar.

Sempre teve um enraizamento real na sociedade, de início limitado à baixa classe média suburbana carioca, em especial à “família militar”, mas que aos poucos adquiriu expressão nacional.

Seu conservadorismo é de formação e não de ocasião.

Nunca foi figurinha fácil na televisão e recebe dos veículos da “grande” imprensa tratamento de persona non grata.

Sem pedir a opinião de nenhum iluminado ou permissão a ninguém, percebeu que o vento soprava a seu favor, quando subiu a taxa de animosidade na vida política nacional.

O ódio visceral dessa imprensa, do empresariado, da maioria do Judiciário e do Ministério Público contra o PT abriu um vasto espaço que poderia ocupar.

Veio a ocupá-lo de fato e hoje é favorito a ser o representante maior do antipetismo na eleição.

É verdade que sua performance é inflada pelo grande volume de preferências que ele tem em um público em particular, os homens mais jovens, de classe média e escolaridade elevada, residentes no interior das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Mas é falso que suas intenções de voto estejam circunscritas a esses segmentos.

Ele não alcançaria os números que ostenta se não estivesse presente no imaginário de pessoas pobres, de baixa escolaridade e moradores das periferias metropolitanas.

Erra quem supõe que todos os eleitores com esse perfil são lulistas ou estão próximos do PT.

Quem o recrimina por nada ter a dizer em termos programáticos se esquece de que o antipetismo é uma crença sem conteúdo afirmativo, fundamentalmente definido pela negação.

Quanto ao reacionarismo e ao obscurantismo de sua agenda moral, as semelhanças com seus companheiros na direita são maiores que as discordâncias.

No fundo, Bolsonaro não é tão diferente do resto dos conservadores brasileiros, mesmo daqueles que se acham “modernos”.

O que muda é o estilo (o que, aliás, o aproxima de um pedaço do eleitorado popular).

Não é por outros motivos que boa parte da aliança antipetista esteja pronta a apoiá-lo em um segundo turno contra o PT.

Do qual estaremos poupados se Lula for candidato, pois suas chances de vitória no dia 7 de outubro são reais.

Leia também:

CNDH: Decisão da ONU sobre Lula é legítima


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Bel

Ainda não perceberam que o candidato de Temer é Bolsonaro? Que Meireles é só para desviar a atenção? É só ver as crenças religiosas que defendem. Dizem ser pela família, mas parece que descasam e casam sem pensar muito nos juramentos que fizeram no altar.

Antônio César Guimarães

Os malabaristas em uso poético e fantasiosos da língua portuguesa, parecem ter adquirido tantos conhecimentos para no final, se desmantelarem em ilógicos elogios em pró de quem colocou o Brasil num patamar vergonhoso no campeonato da corrupção.

Lukas

Marcos Coimbra tem isenção para fazer pesquisas eleitorais?

Eduardo

Os reacionários unidos aos racistas, aos segregacionistas, aos fascistas e a todos aqueles cujo DNA recebeu mesmo de longe influências de Donald Trumph, Eduardo Cunha, Videla, Bush etc. que culminaram em tipos como Bolsonaro, não são felizmente capazes de elegê-lo honestamente. A eleição de Bolsonaro, caso ocorra, será resultado exatamente daquilo que o cientista Marcos Coimbra educadamente expõe, mas que eu classifico , como alguém consciente já disse na internet: “ uma insana ação resultante da decisão de uma elite burra cooptada pela Rede Globo, comandando um exército de otarios sob sua imoral liderança”! Então seremos todos , o povo brasileiro, reconhecidos historicamente como uma “ infantaria de ignorantes rumo ao desconhecido”

JOÃO RAMOS RIBETT

Tem coisa mais gratificante?? Lula liderando as pesquisas eleitorais, o PSDB, PIG, Judiciário golpista, todos derrotados, e a Globo, que faz todo coxinha de bobo, tendo que apoiar o PT ou Boçalnaro no segundo turno, e ainda ter que ouvir do próprio “mula sem cabeça” Boçalnaro, de dentro de seus estúdios, que ela sempre apoiou a ditadura, de ter de se ver obrigada a confirmar esse fato, além de ser exposta que usa malandragem pra sonegar impostos quando paga salários nababescos a alguns de seus funcionários?

Nelson

Ah, a livre imprensa. O apodrecimento moral da mídia hegemônica, dita de referência, que se diz defensora intransigente da democracia e do Estado de Direito, parece não ter limites.

Deixe seu comentário

Leia também