Marcelo Zero: Trump e possíveis mudanças na política externa dos EUA

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Marcelo Zero: 'Embora seja muito cedo para se fazer previsões, a tendência atual é de fortalecimento de Trump e enfraquecimento de Biden'. Foto: Shealah Craighead, via Fotos Públicas

Trump e Possíveis Mudanças na Política Externa do EUA

Por Marcelo Zero*

Trump, como se sabe, tem vários e diversificados processos na justiça.

Mas Biden também tem seus problemas. Problemas jurídicos e políticos acarretados pela política externa.

O presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, afirmou recentemente que o presidente Biden está envolvido em um “encobrimento contínuo” e “mentiu repetidamente” sobre seu envolvimento e conhecimento dos negócios de seu filho, Hunter Biden, na Ucrânia.

Mike Johnson também destacou que o inquérito de impeachment contra Biden continuará “metodicamente ” e sem um resultado “predeterminado”.

O inquérito é liderado pelo presidente do Comitê Judiciário da Câmara, Jim Jordan, pelo presidente do Comitê de Supervisão, James Comer, e pelo presidente do Comitê de Formas e Meios, Jason Smith.

O escopo do inquérito de impeachment abrange desde o período da vice-presidência de Biden até o presente, incluindo seu período fora do cargo.

“Temos um encobrimento contínuo de fatos importantes enquanto Joseph Biden estava sentado no Salão Oval”, disse Johnson. “Sabemos que ele olhou diretamente para a câmera e mentiu repetidamente, quero dizer, ele mentiu diretamente várias vezes sobre seu envolvimento e conhecimento dos negócios de seu filho na Ucrânia. Todos nós sabemos disso agora.”

Além de investigar os laços de Biden com os negócios supostamente escusos de sua família na Ucrânia, os republicanos da Câmara também estão investigando a suposta obstrução da investigação federal do Departamento de Justiça sobre Hunter Biden.

As alegações teriam partido de “denunciantes do IRS” (Receita Federal dos EUA), os quais teriam dito que a “política” influenciou e bloqueou as investigações dos fiscais norte-americanos.

Se essa investigação vai dar em alguma coisa, com novas evidências surgindo, é difícil de avaliar, mas é evidente que tende a enfraquecer uma candidatura que não está agradando boa parte do eleitorado dos EUA.

Enquanto Trump parece se fortalecer cada vez mais, com vitórias sucessivas nas primárias, a pré-candidatura Biden parece estar patinando perigosamente.

Pesquisa da Reuters, divulgada no dia 25/01, mostra que Trump estaria 6 pontos percentuais à frente de Biden, na corrida presidencial.

Embora seja muito cedo para se fazer previsões, a tendência atual é de fortalecimento de Trump e enfraquecimento de Biden.

Além dos preços, que estão bem acima dos valores pré-pandemia, apesar da queda da inflação, um dos problemas que afetam negativamente a imagem de Biden é justamente sua aparente falta de liderança e sua política externa.

Boa parte da opinião pública dos EUA não vê mais com bons olhos o envio de centenas de bilhões de dólares para financiar conflitos no exterior, como o da Ucrânia, enquanto os problemas internos se avolumam. Trump vem explorando bem essa fragilidade e essas contradições.

Ademais, o apoio de Biden às inomináveis ações do governo de extrema-direita de Israel na faixa de Gaza vem minando a sua popularidade entre os jovens progressistas (liberals).

Assim, Biden vem perdendo votos, mesmo entre apoiadores do Partido Democrata, por causa de uma política externa agressiva e belicista.

Trump promete revê-la. Já disse que acabaria com a guerra na Ucrânia no seu primeiro dia de governo, o que provocou a reação assustada de Zelensky.

Mesmo que não o faça, é possível prever que a atual ajuda norte-americana à Ucrânia diminua consideravelmente caso ele seja eleito, até mesmo porque Trump considera que a administração de Zelensky tem laços profundos com o Partido Democrata e a família Biden.

É bem verdade que a política externa dos EUA pouco muda com a alternância entre administrações do Partido Democrata e o Partido Republicano. Os interesses do chamado “establishment” dos EUA são muito poderosos.

Mas o antiglobalismo de Trump, seu ceticismo em relação à Otan e sua ênfase política no America First poderão acarretar um certo retraimento dos EUA no cenário mundial, especialmente no que tange ao apoio a conflitos pouco populares ou que provoquem muitos gastos.

Lembre-se que a decisão de retirar os EUA do Afeganistão, embora efetuada por Biden, deu-se ainda no governo Trump.

Os warmongers não parecem satisfeitos com tal perspectiva, que poderia se concretizar, caso Trump seja eleito. Veremos.

*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.

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