Marcelo Zero: O Brasil não afronta nenhum país. De forma transparente, negocia com todos

Tempo de leitura: 2 min
Marcelo Zero: O Brasil quer ser um bom parceiro dos EUA, mas também de muitos outros países, como a China liderada por Xi Jinping, que se reuniu com o presidente Lula, em 14/04. Antes, em 10/02, Lula esteve Joe Biden. Fotos: Ricardo Stuckert/PR

O Brasil não afronta ninguém. Negocia com todos

Por Marcelo Zero*

1- Bastou o presidente Lula questionar o uso exclusivo do dólar em transações comerciais e pedir para os EUA se empenharem pela paz para que o mundo viesse abaixo.

2– Lula e o Brasil estão afrontando os EUA, disseram. Logo os EUA, que apoiaram a transição democrática brasileira.

3– Bom, em primeiro lugar, não foram apenas os EUA quer apoiaram as eleições brasileiras. Quase todos os países do mundo assim o fizeram.

Em segundo lugar, apoiar eleições limpas é o normal para um país democrático. Devemos ser assim tão gratos aos EUA por que fizeram o que era correto? Afinal, apoiar um golpe de Estado é apoiar um crime.

Claro está que, nesse apoio, pesou também o fato de que Bolsonaro é um aliado de Trump, grande adversário de Biden e dos democratas.

4– Em terceiro, Lula e o Brasil, mesmo assim, agradeceram imensamente esse apoio. Lula visitou os EUA antes de viajar para a China e receber Lavrov.

Em linguagem diplomática, essa é uma sinalização muito importante. Foi buscar cooperação e colocar as relações bilaterais com os EUA em um novo patamar. Teve um diálogo muito franco com Biden.

Objetivamente, não conseguiu muita coisa, mas tentou. O que conta mais em diplomacia são os gestos e as medidas concretas.

Mas é importante frisar que o Brasil e a América Latina não são grandes prioridades para a atual política externa dos EUA, centrada, infelizmente, em um confronto com China, Rússia etc.

5– Em quarto, e mais importante, o muito bem-vindo apoio dos EUA à democracia brasileira não implica que o Brasil tenha de ter uma política externa alinhada com Washington.

6– O Brasil não tem de se alinhar nem com os EUA, nem com China, nem com Rússia, nem com ninguém. O Brasil tem de se alinhar consigo mesmo.

7- A política externa que convêm aos interesses do Brasil é uma política de não-alinhamento. Uma política pragmática e universalista que procure estabelecer fortes laços de cooperação com todas as nações do globo, sem preconceitos político-ideológicos.

Ao mesmo tempo, uma política que coloque ênfase na geração de uma ordem mundial, simétrica, pacífica, multilateralista e multipolar.

8- Não convém ao Brasil inserir sua política externa na lógica da nova Guerra Fria, como parecem desejar alguns.

Essa é uma lógica que conduz ao confronto e à guerra, e que limita muito, a priori, o espaço geopolítico e geoeconômico do país.

9– Independentemente de eventuais arroubos retóricos, o Brasil, na prática, não afronta ninguém. O Brasil negocia, de forma transparente, com todos.

10– As relações bilaterais do Brasil com os EUA já estão colocadas num patamar de grande relevo. É uma política de Estado. Foi assim nos primeiros governos de Lula, foi assim com Dilma Rousseff (até o escândalo da espionagem) e será assim no terceiro governo de Lula.

O Brasil quer ser um bom parceiro dos EUA, mas quer também ser parceiro de muitos outros países.

Os EUA não precisam ter ciúmes ou receios, o Brasil é um país muito generoso e cordato.

*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.

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Comentários

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Zé Maria

A Única Afirmação que se lamenta o Lula não haver dito é que
está na hora dos Estados Unidos da América (EUA) e Europeus
providenciarem na Extinção da OTAN (Organização do Tratado
do Atlântico Norte), um Agrupamento Bélico que só promove
Guerras Desiguais e provoca Genocídios em todo o Mundo.

A Obsessão dos Governantes Capitalistas Ocidentais, sobretudo
dos EUA,em derrubar o Presidente da Rússia, Eleito pelo Voto da
Maioria dos Eleitores Russos, não justifica a Existência da OTAN.

Zé Maria

Excerto

“6– O Brasil não tem de se alinhar
nem com os EUA, nem com China,
nem com Rússia, nem com ninguém.
O Brasil tem de se alinhar consigo mesmo.”
.
.
Esse é o Princípio da Soberania Nacional

e da Dignidade de Brasileiros e Brasileiras.
.
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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

PREÂMBULO
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar
o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança,
o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,
fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos,
sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL.

TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;

II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V – o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
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