Marcelo Zero: Atraso absurdo na construção de ponte na fronteira entre Brasil e Uruguai nunca poderia ter acontecido

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O acordo entre presidentes Lula e Mujica para a construção da segunda ponte sobre Rio Jaguarão foi firmado em 2007 e promulgado em 2013. A ponte antiga, a Barão de Mauá, de 92 anos, não comporta trânsito pesado, e precisa também de reforma.
 
 

Da Redação

Em discurso em Montevidéu nessa quarta-feira, 25/01, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se comprometeu a construir uma ponte sobre o Rio Jaguarão, na fronteira entre o Uruguai e Brasil.

Durante sua fala, Lula confessou achar que a ponte já estivesse concluída:

“Eu tô até envergonhado porque penso que assinei alguma coisa com Mujica [ex-presidente], e pensei que essa ponte já estava pronta e hoje soube que nem começou”.

“Às vezes a gente se reúne, decide e, quando pensa que vai inaugurar, recebe a notícia de que a obra nem começou. Quero assumir esse compromisso com o povo do Uruguai, vamos fazer essa ponte, porque interessa ao Brasil e ao Uruguai”. 

“Os governos golpistas nunca deram bola para a integração regional e, ainda, criminalizaram obras no exterior. O governo Bolsonaro abandonou totalmente o Mercosul e retirou o Brasil da Unasul e da Celac, principais instâncias da integração regional” explica ao Viomundo o sociólogo Marcelo Zero, especialista em Relações Internacionais.

“Um dos resultados dessa visão nefasta e retrógrada é o atraso inacreditável na construção da segunda ponte sobre o Rio Jaguarão, na fronteira entre Brasil e Uruguai”, exemplifica.

”É algo que nunca poderia ter acontecido”, observa o especialista em Relações Internacionais,.

Marcelo Zero prossegue: 

“O acordo entre o Brasil e o Uruguai foi firmado em 2007, percorreu o longo caminho legislativo e a sua promulgação ocorreu em 2013.

Até agora, no entanto, a ponte não saiu do papel. A ponte antiga, a Barão de Mauá, de 92 anos, não comporta trânsito pesado, e precisa de reforma.

Esse e outros atrasos em obras bilaterais, como o referente à hidrovia da Lagoa Mirim, vital para ligar a produção de arroz do norte do Uruguai ao porto de Rio Grande, geram ressentimentos em nosso vizinho.

O Uruguai, país com escassa indústria, usa da firma de um eventual acordo com a China para pressionar o Brasil a cumprir essas promessas.

Enquanto isso, a China investe bastante no Uruguai.

Por exemplo, a construção do grande anel de transmissão de energia elétrica no norte do Uruguai, que inclui uma linha que ligará Tacuarembó a Salto.  A obra estará a cargo da empresa China Machinery Engineering Corporation (CMEC).

Ressalte-se que a China já é o principal sócio comercial do Uruguai.

Em 2021, a China absorveu 28% das exportações uruguaias. Em segundo lugar, veio o Brasil, com distantes 16%.

Mais um esclarecimento.

A rigor, o Uruguai não pode negociar um acordo comercial com a China em separado.

Como integrante do Mercosul, o Uruguai, ao firmar o Tratado de Assunção,  se comprometeu a ter uma tarifa externa comum e a praticar uma política comercial comum, em relação a terceiros Estados.

Vejam o que diz o Tratado:

ARTIGO I

Os Estados Partes decidem constituir um Mercado Comum, que deverá estar estabelecido a 31 de dezembro de 1994, e que se denominará “Mercado Comum do Sul” (Mercosul).

Este Mercado Comum implica:

A livre circular de bens serviços e fatores produtivos entre os países entre outros, da eliminação dos direitos alfandegários restrições não tarifárias à circulação de mercado de qualquer outra medida de efeito equivalente;

O estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma política comercial comum em relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados e a coordenação de posições me foros econômico-comerciais regionais e internacionais”.

Leia também:

Marcelo Zero: A importância de se investir nas relações com a Argentina e na integração Regional

Tânia Mandarino: No Uruguai, Lula afirma que o Brasil reúne condições para ser o mediador do Mercosul com Europa e China


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Zé Maria

Uma obra importante para os Países do Bloco Sul-Americano seria a Construção da Ferrovia do Mercosul.

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