Marcelo Zero: A Lava Jato promoveu a grande corrupção no Brasil e ‘hackeou’ futuro da nação

Tempo de leitura: 4 min
Fotos: Eduardo Matysiak e Marcelo Camargo/Agência Brasil

Lava Jato Ignorou e Promoveu a Grande Corrupção

por Marcelo Zero*

 A operação Lava Jato, concebida pelo DOJ dos EUA e conduzida pelo juiz Moro, embora tenha tido papel central na instituição do atual governo de psicopatas que adoram torturadores e ditaduras, passou longe de um real combate à corrupção.

Como o intuito essencial dessa operação orientada desde o exterior não era o combate à corrupção, mas sim a derrubada de um regime que contrariava os interesses dos EUA na América do Sul, conforme reconheceu explicitamente o ex-embaixador Thomas Shannon, ela se limitou a, de modo seletivo, perseguir o PT e suas lideranças.

Mas, além desse objetivo específico, havia também um objetivo mais geral: criminalizar a política e o sistema de representação, de forma a possibilitar a transferência de poder real das instituições democráticas baseadas na soberania popular para castas burocráticas “técnicas”, como a dos procuradores, a dos juízes e a dos militares, infensas ao controle da cidadania, mas próximas aos interesses do “mercado”.

Nesse sentido, a Lava Jato concentrou-se na corrupção no seio do sistema político. Com efeito, a pressão sobre empreiteiras e sobre estatais, particularmente a Petrobras, era apenas um meio para atingir o fim maior de prender políticos corruptos ou, em alguns casos, como o de Lula, claramente inocentes.

Para atingir tal finalidade, até mesmo as doações legais e registradas de campanha foram criminalizadas como “propinas” para atos não especificados.

Vendeu-se a ideia de que todo o sistema político brasileiro era corrupto e que a corrupção política era o principal problema do Brasil. Uma vez extirpada, mesmo que a custo dos direitos e garantias legais e do devido processo legal, tudo estaria resolvido.

Hoje, graças à Vaza Jato, sabe-se bem como eram imundas as entranhas dessa operação, que deu contribuição inestimável para a destruição da democracia e da economia do Brasil.

O que pouca gente sabe, no entanto, é quão longe a Operação Lava Jato passou do real combate à verdadeira corrupção.

A chamada corrupção do sistema político, embora real e merecedora de todo o empenho das autoridades para sua eliminação ou minoração, está longe de ser o principal problema, no que tange à evasão e malversação do dinheiro público.

Estudos internacionais mostram que o grande problema de descaminho de dinheiro público está nos mecanismos de evasão fiscal praticados, à larga, pelo grande capital, especialmente pelo capital financeiro e pelas companhias multinacionais.

De acordo com estimativas do Banco Mundial, a corrupção de agentes públicos, mediante a cobrança de propinas e outros mecanismos, retira dos países em desenvolvimento entre US$ 20 bilhões e US$ 40 bilhões por ano.

Parece muito, mas é apenas uma pequena fração do que esses países perdem com os chamados illicit financial flows e com os mecanismos de tax evasion ou tax avoidance praticados mormente pelo grande capital.

Segundo a Global Financial Integrity (GFI), instituto norte-americano dedicado ao estudo desses fluxos financeiros ilegais, ao redor de US$ 1 trilhão saem todos os anos dos países em desenvolvimento para paraísos fiscais ou para bancos de países desenvolvidos, sem pagar os devidos impostos.

Assim sendo, a corrupção dos agentes públicos, políticos inclusive, representaria apenas cerca de 3% desse fluxo de evasão fiscal.

Ressalte-se que tal estimativa é conservadora e parcial, pois não inclui os mecanismos legais do chamado tax avoidance, pelos quais o grande capital minimiza o pagamento dos impostos devidos, com base nas insuficiências e omissões das legislações tributárias nacionais e internacionais.

Estudos do economista Gabriel Zucman da University of California, em Berkeley, mostram que os paraísos fiscais concentram ao redor de US$ 8,7 trilhões de dólares, ou 11,5% da riqueza mundial, numa estimativa bem conservadora.

Ainda segundo Zucman, apenas as multinacionais norte-americanas deixaram de pagar, em 2016, cerca de US$ 130 bilhões em impostos, graças às movimentações financeiras “legais” que envolvem paraísos fiscais e bancos offshore.

De forma significativa, a Lava Lato passou inteiramente ao largo da ação de multinacionais no Brasil, mesmo daquelas que tinham contratos com a Petrobras, e das movimentações do sistema financeiro nacional e internacional.

Mas mesmo essa grande corrupção, ignorada pela Lava Jato, não é o maior problema, quando se trata de mensurar os prejuízos causados aos países em desenvolvimento e às suas populações.

Conforme estudo do economista Robert Pollin, citado em artigo de Jason Hickel, da London School of Economics, para a Al Jazeera (Flipping the corruption myth), os países em desenvolvimento perderam cerca de US$ 480 bilhões por ano, em PIB potencial, quando adotaram, nos anos 1990, as políticas econômicas ortodoxas recomendadas por organismos “técnicos”, tais com o FMI e o Banco Mundial.

Portanto, a verdadeira grande “corrupção”, a que realmente produz pobreza, desigualdade e sofrimento, é justamente a causada pela substituição da soberania popular pelos “consensos técnicos”, que justificam a adoção de políticas econômicas supostamente neutras e racionais e invariavelmente amigáveis aos interesses do grande capital, em detrimento dos interesses da população.

Esse foi o grande “resultado” da Lava Jato. Sepultou-se o regime progressista e a soberania popular e entregou-se o país aos interesses “técnicos” do grande capital.

Assim sendo, a Lava Jato não apenas passou ao largo da grande corrupção do sistema financeiro e das grandes companhias multinacionais, concentrando–se nos 3% das propinas cobradas por agentes públicos, como também propiciou a entrega do Brasil às políticas ortodoxas que realmente provocam pobreza e desigualdade.

Políticas que estão promovendo as grandes negociatas, legais e ilegais, que vão erodir nossa soberania e promover mais desemprego e concentração de renda.

Nesse sentido maior, a Lava Jato, ao invés de combater realmente a corrupção, submergiu o Brasil na maior corrupção possível: a substituição da soberania popular pelas políticas “neutras e técnicas” que inviabilizarão o futuro das próximas gerações de brasileiros.

A Lava Jato “hackeou” o futuro da nação.

*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.


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Zé Maria

Informações Concretas do Marcelo Zero
sobre Evasão Fiscal e Corrupção:

“Segundo a Global Financial Integrity (GFI), instituto
norte-americano dedicado ao estudo de fluxos financeiros ilegais,
ao redor de US$ 1 trilhão saem todos os anos dos países em desenvolvimento
para paraísos fiscais ou para bancos de países desenvolvidos,
sem pagar os devidos impostos.”

“Estudos do economista Gabriel Zucman da University of California,
em Berkeley, mostram que os paraísos fiscais concentram ao redor de
US$ 8,7 trilhões de dólares, ou 11,5% da riqueza mundial,
numa estimativa bem conservadora.”

“Ainda segundo Zucman, apenas as multinacionais norte-americanas
deixaram de pagar, em 2016, cerca de US$ 130 bilhões
em impostos, graças às movimentações financeiras “legais”
que envolvem paraísos fiscais e bancos offshore.”

“De acordo com estimativas do Banco Mundial,
a corrupção de agentes públicos, mediante a cobrança
de propinas e outros mecanismos, retira dos países
em desenvolvimento entre US$ 20 bilhões e US$ 40 bilhões
por ano.”

“Assim sendo, a corrupção dos agentes públicos,
políticos inclusive, representaria apenas cerca de 3%
do fluxo de evasão fiscal.”

“Conforme estudo do economista Robert Pollin,
citado em artigo de Jason Hickel, da London School of Economics,
para a Al Jazeera (Flipping the corruption myth),
os países em desenvolvimento perderam cerca de US$ 480 bilhões
por ano, em PIB potencial, quando adotaram, nos anos 1990,
as políticas econômicas ortodoxas [‘neoliberais’] recomendadas
por organismos “técnicos”, tais com o FMI e o Banco Mundial.”

“Assim sendo, a Lava Jato não apenas passou ao largo
da grande corrupção do sistema financeiro
e das grandes companhias multinacionais,
concentrando–se nos 3% das propinas cobradas por agentes públicos,
como também propiciou a entrega do Brasil às políticas
ortodoxas [ultraliberais do Guedes, por exemplo]
que realmente provocam pobreza e desigualdade.”

Com os Dados Concretos, acima relacionados,
e depois que vieram a público os diálogos de
procuradores do MPF do Paraná e do juiz Moro,
por intermédio do “The Intercept”,
qualquer Pessoa Sensata, com um mínimo de Conhecimento
e Entendimento, conclui que a Operação Lava-Jato foi uma Artimanha montada em Curitiba pelo juiz Moro e pelos Patifes do MPF do Paraná, para destruir as empresas nacionais, fundamentalmente o Sistema Petrobras, afundando a Economia do Brasil, em benefício principalmente das Multinacionais com Matrizes nos EUA e na Grã-Bretanha.

Uma Organização Criminosa foi estruturada dentro
do Aparelho Judicial institucional (PF/MP/JF) do País,
por meio de um Conluio entre Agentes Públicos,
fundamentalmente no Sistema Criminal Estatal,
com interesses econômicos e político-partidários.

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