Julian Rodrigues: Lula, Vila Cruzeiro e a matança sistemática de pobres pretos pelas polícias Militar e Civil

Tempo de leitura: 3 min
Policiais e blindado no meio da Vila Cruzeiro, no RJ. Fotos: Reprodução de vídeo e TV

Lula e a Vila Cruzeiro

A matança sistemática de pobres pretos pelas Polícias vai ser parte do debate eleitoral? Quais as propostas para superar esse horror?

Por Julian Rodrigues*

Entre 25 a 30 corpos.

Nem o número de exato de pobres favelados que foram executados cruel e sumariamente pela polícia do Rio de Janeiro na madrugada do último dia 24 de maio a gente sabe.

Há um ano, em maio de 2021, 28 trabalhadores e trabalhadoras foram assassinados no Jacarezinho pela mesma Polícia Militar fluminense sob o comando de Wilson Witzel , ex-juiz que ganhou de presente o governo estadual do Rio ao se associar à Bolsonaro.

A PM e a polícia civil do Rio mataram 1.814 pessoas em 2019 e 1.245 em 2020 – dados oficiais.

A violência da polícia do Rio de Janeiro recrudesceu (mesmo considerando que as forças policiais brasileiras são as que mais matam e mais morrem em todo mundo).

O bolsonarista do PSC que virou governador, o tal Wilson Witzel – oportunista ex-juiz que pegou carona na onda neofascista, já tinha anunciado a barbárie em sua campanha eleitoral: “o correto é matar o bandido ..a polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e… fogo – para não ter erro”.

Necropolítica institucional abertamente transformada em ativo propagandístico. Tipo assim: um aprofundamento da violência de Estado contra jovens, pobres, pretos.

Retórica e política reacionárias/hipócritas da tal “guerra às drogas” sempre manuseadas pelas classes dominantes contra o andar de baixo.

Lula e uma nova segurança pública

Enfrentar a hegemonia neofascista e conservadora nesse tema e salvar vidas demanda decidir romper com o senso comum.

Questionar de peito aberto com embasamento científico o desenho atual das polícias mais as políticas proibicionistas e de encarceramento em massa. Propor uma nova abordagem, nova legislação, novas políticas – romper com a inércia do senso comum.

Em 2023, a PEC 51 proposta pelo ex-senador fluminense do PT, nosso Lindbergh Farias, inspirada pelo grande Luis Eduardo Soares fará aniversário: 10 aninhos.

Tal emenda constitucional abriu o debate sobre retirar o caráter militar das forças de segurança estaduais e reorganizar toda a política nacional de segurança pública.

O número de mortes violentas no Brasil é altíssimo – sempre rondando o patamar de 60 mil por ano.

Ocorre que justamente quem deveria nos proteger e evitar essas mortes se associa ao genocídio.

Em 2021, mais de 6 mil brasileiros e brasileiras foram assassinados por policiais. Ou seja: 10% (pelo menos) do morticínio é de responsabilidade das PMs.

Nós — do PT, da esquerda, dos setores progressistas — nunca enfrentamos essa questão de frente.

Geralmente ignoramos o elefante na sala ou, pior, repetimos as piores práticas conservadoras – muito além de pactos pragmáticos (os governos estaduais do PT que o digam!).

“O que eu defendo claramente é que sou contra a criminalização da maconha e do usuário. Não tem sentido a polícia pegar um usuário e tratar como se fosse criminoso. No entanto, este é um assunto que tem de ser tratado com muita seriedade”.

Lulão mesmo foi quem proferiu essa sábia declaração em 2015, em um debate com jovens no ABC.

Creio que um novo governo Lula tem como um de seus desafios fundamentais cessar o genocídio e o encarceramento em massa de jovens, pobres pretos.

Somos milhões de pessoas que votaremos em Lula com a expectativa de que um governo de esquerda possa girar a chave e abrir um novo período na história. Sem medo de ser feliz, sem medo de falar a verdade.

Mimetizar o adversário nunca deu certo. Afasta-nos de nossos objetivos e compromissos históricos. Nos apequena. Pior: indistingue-nos, aos poucos, de nossos inimigos de classe.

Ou seja: fazer cosplay de político evangélico-militar-reacionário que promete porrada, polícia nas ruas, bandido na cadeia e coisas do tipo só fortalece a hegemonia deles e contraria o que nós somos e nossa própria razão de existir como esquerda.

Cessar a matança e o encarceramento da juventude pobre, preta e periférica. Parar com a guerra às drogas. Reconstruir o aparato policial para que deixe de ser dispositivo moedor de carne jovem/preta/pobre.

Assim, é preciso que, desde já, a campanha Lula Presidente incorpore de alguma forma esse tema. Sem cair em provocações da extrema-direita, temos que sinalizar desde já novas perspectivas.

Marqueteiros e senso comum à parte, vamos pensar nas milhares de mães trabalhadoras, pobres, pretas que perdem seu filhos de maneira violenta.

Tratar de sinalizar uma nova democracia, na qual o Estado não seja apenas um dispositivo de morte para quem mora nos lugares “errados”.

Lula tem muita sensibilidade e abertura para discutir essa questão. Tem empatia e entende o problema.

Temos que pular as barreiras do pragmatismo (sempre de plantão) e convencer o PT e a direção da campanha para a urgência desse tema. Uma questão programática incontornável. Na campanha e no futuro governo (oxalá).

Não é tão difícil assim, se a campanha Lula conseguir entrar em sintonia com essa gente. Carne negra: a mais barata do mercado.

(E viva Elza Soares!)

*Julian Rodrigues, professor e jornalista, militante de Direitos Humanos e LGBTI, ativista do PT-SP.


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Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/FT7wOr-X0Ak8P8W?format=jpg

Milícias do Estado do Rio de Janeiro

Ex-Assessor do Vereador Assediador Gabriel Monteiro
morre em ‘acidente’ em Teresópolis, na Região Serrana

Passageira que estava no Veículo afirma que o Motorista,
ao frear em curva, perdeu a direção, e houve capotamento
A Mulher negou que o Carro estivesse em Alta Velocidade

A vítima sobrevivente foi ouvida informalmente pela Polícia,
após ser atendida no Hospital de Teresópolis e receber alta

Segundo informações da polícia, o carro capotou na RJ-130, que liga a cidade de Teresópolis a Nova Friburgo, Rio Norte.

Por requisição do delegado titular da 110ª DP,
foi designada pelo diretor do Departamento-Geral
de Polícia Técnico-Científica uma equipe do Instituto
de Criminalística Carlos Éboli para, em conjunto com peritos do PRPTC de Teresópolis, realizarem uma perícia
que constate eventual adulteração na parte mecânica,
elétrica ou do sistema de alimentação de combustível
que pudesse contribuir para a ocorrência do acidente

Na quarta-feira (25), o ex-assessor Vinícius Hayden Witeze, que denunciou o vereador Gabriel Monteiro pela prática
de assédio moral e sexual, havia prestado depoimento
no Conselho de Ética da Câmara do Rio de Janeiro.

Ele chegou de colete à prova de balas e disse que estava
andando com escolta e sofrendo ameaças, que havia
perdido o direito de ir e vir e não conseguia mais nem
visitar a filha.

“Perdi a minha liberdade.
Tenho que andar de carro blindado, colete à prova de balas.
Tenho que cercear o meu direito de ir e vir, de sair a hora
que eu quero porque o vereador gravou vídeos expondo
o meu número pessoal, me colocando como se fosse
uma pessoa que tivesse negociado com uma pseudo
máfia do reboque, que ele vive falando que é tudo a máfia
do reboque dele”, disse Hayden em vídeo gravado.
“Então, é basicamente isso: ele [o Vereador Monteiro] conseguiu hoje me prejudicar de uma forma que eu
não consigo nem visitar a minha filha”, completou.

As denúncias contra Gabriel envolvem acusações
de estupro, assédio sexual e vídeos forjados para
a internet.

Em seu depoimento à polícia, Vinícius Hayden disse
que Gabriel não ligava para a política e que seu foco
principal era a produção de vídeos para ganhar
dinheiro na internet.

O ex-assessor também contou que o vereador sabia
que a menina que aparece em um vídeo fazendo sexo
com ele era menor de idade.

https://twitter.com/Cecillia/status/1530925252011864065

Ibsen Marques

Em tempos mais favoráveis, em seus mandatos, Lula passaou ao largo do problema, mais do que isso, fez fala de aprovação à matança no RJ. A chapa Lula- Alckmin já a torna indistinta na luta de classes e, para além disso, o candidato a vice é o mesmo que jogou a polícia contra os moradores ocupantes do Pinheirinho em São José dos Campos, contra professores e estudantes de escolas estaduais.
Em suma, não vejo a menor perspectiva de que enfrentem o gravíssimo e urgentíssimo problema. A minha opinião é que essa chapa da fôlego para que os “civilizados das elites” nos destruam de forma racional e “democrática”.

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