Julian Rodrigues: Lula está correto ao criticar o ”identitarismo”

Tempo de leitura: 4 min
O presidente Lula, a filósofa estadunidense Nancy Fraser e a filósofa e economista marxista Rosa Luxemburgo. Fotos: Ricardo Stuckert/PR e reprodução

Da Redação

Nessa sexta-feira, 02/02, no evento de refiliação de Marta Suplicy ao PT, o presidente Lula fez críticas ao identitarismo.

Lula disse (assista no topo):

“A gente precisa escolher como candidato a vereador do PT as pessoas que são lideranças reais no movimento social e não aquele que quer ser candidato apenas.

Eu quero me lançar, eu vou me lançar

Eu vou me lançar, porque eu quero ser candidato.

Eu quero me lançar porque eu sou branco.

Eu quero me lançar porque eu sou mulher.

Eu quero me lançar porque eu sou negro.

Eu quero me lançar porque eu sou indígena

Está errado.

A pessoa tem que se lançar pelas qualidades dela de disputar as eleições.

Se a gente não fizer isso, a gente não vai crescer.

E é preciso ter em conta que quem tem voto nesse país é o PT, não é cara pessoal de cada um de nós”.

Nas redes sociais, houve forte reação à fala de Lula.

‘’Muito incomodado’’ com as críticas ao presidente, Julian Rodrigues reagiu e enviou ao Viomundo os comentários abaixo. Ele é professor e jornalista, ativista LGBTI e de Direitos Humanos.

Por Julian Rodrigues

Corretíssimo, o Lula ao criticar o ”identitarismo”.

O nome correto do fenômeno não é “identitarismo”.

O nome certo é neoliberalismo progressista, como nos ensina a filósofa estadunidense Nancy Fraser.

Esse debate tem 100 anos.

A filósofa e economista marxista Rosa Luxemburgo (1871-1919) já resolveu em magistral síntese no programa emancipatório.

Eu, Julian Rodrigues, tenho “lugar de fala”.

Sou uma bixa velha pobre. Sou incancelável! 😂😂 (ou não?!)

Essa coisa de “cancelamento” é outro efeito nefasto do neoliberalismo progressista, que foca em indivíduos, e não nas estruturas de opressão.

Nós, os movimentos sociais, temos um papel contestatório ao sistema que articula dominação de classe; raça, gênero, orientação sexual; etnia, identidade de gênero, etc.

Não somos palmatórias do mundo a vigiar pessoas.

Em vez de combater o neofascismo, fica essa loucura pós-moderna hiperfragmentária confundindo tudo.

Paz entre nós, guerra aos senhores!

***

Em maio de 2021, Julian Rodrigues abordou o tema em artigo publicado no site A Terra é Redonda, que reproduzimos  a seguir.

Foto: Christiana Carvalho

A dimensão emancipatória

Desqualificar as lutas contra as opressões não é nem de esquerda nem marxista

Por Julian Rodrigues*, em A Terra é Redonda

“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”
(Rosa Luxemburgo)

Os fundamentos do marxismo são a emancipação humana, em todas suas dimensões.

Não é preciso mencionar as intuições de Engels ou o feminismo socialista nascido no século 19. Nem mesmo os avanços que a revolução russa promoveu em seus primeiros anos.

Se parte importante da esquerda socialista virou “careta” e conservadora ao longo do século 20, esse desvio conservador já vem sendo consertado desde os anos 1960.

Igualdade de gênero, igualdade racial, liberdades sexuais, liberdades democráticas são elementos de qualquer programa de esquerda, socialista, marxista, comunista, revolucionário há muitos anos. Ou deveriam ser.

Ledo engano. O machismo economicista heterossexual elitista-branco segue firme e forte entre intelectuais da esquerda.

Ávidos por desqualificar as lutas contra as opressões, como se a classe operária fosse uma massa homogênea de homens brancos heterossexuais de meia idade – esses escribas não param de menosprezar tudo que não seja o sindicalismo clássico.

A primeira operação deles é rotular a luta das mulheres, do povo negro, das LGBT como ‘identitárias’. Coisa menor, quase ridícula.

Não se dão ao trabalho de conhecer as diferenças políticas que existem no interior dos movimentos. Tratam, por exemplo, o feminismo como um conjunto homogêneo – algo primário.

Esses “intelectuais”, além de não incorporarem a dimensão emancipatória da luta socialista – e entendendo o capitalismo como um sistema articulado de opressões sobrepostas – nem se dão ao trabalho de diferenciar as perspectivas liberais das perspectivas socialistas. Descartam tudo.

Sugestão para essa turma: leiam autoras feministas. Resgatem a história da luta das mulheres, da luta anti-colonial, da luta das minorias sexuais. Não há socialismo sem feminismo. Nem sem igualdade racial.

Como militante LGBT e comunista eu tenho que enfrentar simultaneamente tanto os “neoliberais progressistas” quanto a “esquerda conservadora”.

Para começar: evitem os termos pauta identitária ou luta identitária

Quando alguém de esquerda usa essa palavra geralmente quer desqualificar os movimentos e lutas das LGBT, mulheres, negros.

Não confundam a crítica aos limites do liberalismo progressista com a legitimidade das lutas contra as opressões estruturais.

Enfrentar o capitalismo patriarcal-racista-cisheteronormativo não é coisa menor, ou apenas reivindicação por representação, que ignoraria a luta de classes.

Os liberais é que limitam tais demandas à dimensão do “reconhecimento”.

Os socialistas batalham por reconhecimento, igualdade material e participação política.

Então, não sejam como José Pacheco Pereira , ou como um certo escritor baiano que me recuso a divulgar o nome, nem deem uma de Mark Lilla. E tantos outros que é melhor nem citar.

Olhem para o Chile, para o protagonismo das mulheres jovens. Na dúvida, Nancy Fraser resolve.

Ou voltem à Rosa Luxemburgo. Uma esquerda marxista necessariamente é feminista, libertária, antirracista – tem como horizonte a própria emancipação humana. Desde sempre.

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Comentários

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Zé Maria

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“Começamos o Ano Legislativo de 2024!
A Bancada do @PTbrasil se esforçará
na aprovação de medidas necessárias
para executar a agenda de @LulaOficial
de Desenvolvimento com Redução das
Desigualdades.
Trabalharemos para fazer dessa Missão
a Prioridade para todas as Cidades do País!”

NATÁLIA BONAVIDES
Deputada Federal (PT/RN)
https://twitter.com/NatBonavides/status/1754507526572314683

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Zé Maria

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O “Identitarismo” Sem Ideologia de Classe está a Serviço da

Ganância Capitalista Neoliberal, Patriarcal e Escravocrata.

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Cristian

Exatamente! Até que enfim, alguém com discernimento, com o arcabouço que falta tantos por aí para explicar o que nem era preciso!

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