Jeferson Miola: Com ministro Múcio na Defesa, Mauro Cid foi instrutor dos exércitos do Brasil e EUA em encontro

Tempo de leitura: 3 min
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, preso desde 3 de maio por determinação do STF ministro Alexandre Moraes sob a acusação de fraudar o cartão de vacinação de Bolsonaro e de seus familiares. Foto: Alan Santos/PR

Com ministro Múcio na Defesa, Mauro Cid foi instrutor em encontro dos exércitos do Brasil e dos EUA

Por Jeferson Miola, em seu blog

O tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que desempenhava desde funções comezinhas, como sacar dinheiro do cartão corporativo da Presidência da República para pagar gastos da primeira-miliciana Michele Bolsonaro; até missões relevantes, como organizar um golpe de Estado, é alvo de inquéritos policiais pelo menos desde janeiro passado.

Apesar disso, no entanto, e das sucessivas denúncias de crimes graves que foram se empilhando contra ele, não consta que o Exército tenha aberto procedimentos de investigação a respeito.

Se a cúpula do Exército tivesse compromisso real com a legalidade, o profissionalismo e com a devida subordinação militar ao poder civil, Mauro Cid e outros tantos militares já teriam sido expulsos do Exército brasileiro, e muitos deles já estariam cumprindo pena de prisão.

Mas, ao contrário disso, em janeiro passado Mauro Cid – do mesmo modo como aconteceu com outros colegas de farda seus em conflito com a Lei – não só não foi afastado, como foi promovido e continuou desempenhando funções administrativas no Exército, como se nada tivesse acontecido.

O general Júlio Arruda inclusive foi demitido do comando do Exército pelo presidente Lula porque se recusou a cancelar a designação de Mauro Cid para o comando do poderosíssimo 1º Batalhão de Ações e Comandos, sediado em Goiânia, que “tem como missão realizar ações de captura, resgate, eliminação e interdição de alvos compensadores do ponto de vista estratégico, operacional ou tático, situados em área hostil ou sob o controle do inimigo, em tempo de crise ou conflito armado, visando contribuir com a consecução de objetivos políticos, econômicos, psicossociais ou militares”.

E, já sob o comando atual do general Tomás Paiva, o tenente coronel Mauro Cid foi lotado no COTER – Comando de Operações Terrestres, sediado no QG do Exército, em Brasília, que é comandando pelo general hiper-bolsonarista Cals Theophilo Gaspar de Oliveira e que “tem por missão orientar e coordenar o preparo e o emprego da Força Terrestre, bem como elaborar e manter atualizada a Doutrina Militar Terrestre no nível e do Estado-Maior do Exército”.

Apesar de estar implicado em diversos ilícitos penais e ser investigado em vários inquéritos policiais, de 9 a 14 de abril passado Mauro Cid foi distinguido pelo ministério da Defesa para participar da 3ª Reunião de Coordenação do Exercício CORE 23, “a Master Scenario Event List (MSEL), evento que teve por finalidade coordenar as principais atividades” dos exércitos do Brasil e dos EUA.

O CORE 23 simulou problemas “a serem enfrentados por ambas as tropas, consistindo de situações e dilemas que irão exigir o trabalho integrado dos representantes de ambos os países, aumentado a interoperabilidade entre os Exércitos Brasileiro e Americano no ambiente de selva”.

No motivo da viagem [portal da transparência], consta que a participação de Mauro Cid seria para “orientar e coordenar o preparo da Força Terrestre”.

Cerca de três semanas depois do evento em Belém, Mauro Cid, que era investigado por lavagem de dinheiro, além de outros crimes, foi preso preventivamente pela Polícia Federal sob a acusação de falsificar carteiras de vacinação do Bolsonaro, dele próprio, de familiares de ambos e de outros elementos da matilha que acompanharam o miliciano em Miami/EUA.

É no mínimo discutível a conduta do ministro da Defesa José Múcio Monteiro que, a despeito de todos motivos conhecidos, manteve este militar nefasto desempenhando funções institucionais relevantes no Exército brasileiro.

E este episódio é revelador, também, que tanto o comandante da Força Terrestre, general Tomás Paiva, como o Alto Comando do Exército, não estão à altura da exigência de se depurar as Forças Armadas e se livrar de elementos que mancham a imagem da instituição, porque conspiram contra a democracia e, por isso, se confundem com milícias fardadas sustentadas com dinheiro público.

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Comentários

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Juarez

Um anão moral e no tamanho ia ser general do exército depois de uma jornada de crimes. O exército tem que ser diminuído de tamanho e da quantidade de patentes, subordinado a legislação comum em crimes comuns e limpo de golpistas.

marcio gaúcho

A saga do Brasil continua. Os verde-olivas continuam assombrando a frágil democracia do país, ignorando os malfeitores da sua orda, Continuarão impunes os militares que se meteram nessa patranha do golpe contra a democracia, porque, ideologicamente, querem o poder total no Brasil. À força das armas, com cérebros medíocres, caráter duvidosos, estarão sempre à espreita, de forma ameaçadora, impedindo o Brasil de de emancipar politicamente. A doutrina militar vigente vem do estrangeiro, patrocinada pelos USA, que nos querem escravos idiotas, de mão-de-obra barata e os nossos recursos naturais, principalmente as imensas reservas água doce, madeiras e minerais do nosso fértil solo.

Zé Maria

“Tudo em Casa”.

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