Jair de Souza: O legado de Jesus não pode servir para praticar as coisas do diabo

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O legado de Jesus não pode servir para a prática da maldade

Por Jair de Souza*

É provável que todos os que fomos criados no seio de famílias identificadas com o cristianismo tenhamos ficado estupefatos esta semana quando um certo empresário que se diz pastor evangélico apareceu com destaque nos noticiários devido a sua fala na qual justificava e instigava a perseguição e, inclusive, o extermínio físico (assassinato) de homossexuais.

Esse comportamento poderia ser considerado normal e natural em pessoas abertamente associadas com a ideologia nazista-fascista, cuja versão brasileira é o bolsonarismo.

Porém, o que causa muita indignação é quando aqueles que andam agindo dessa forma se apresentam publicamente como sendo seguidores e representantes de Jesus junto aos demais membros da sociedade.

Como é possível que o nome de Jesus esteja sendo apropriado por gente que demonstra estar muito mais identificada com o oposto do que encontramos nos ensinamentos por ele ministrados, conforme os relatos de sua vida encontrados nos Evangelhos?

Ali, o que observamos é uma figura inteiramente vinculada à luta dos setores sociais mais carentes em sua busca de uma vida mais digna, mais justa e sem miséria.

A bem da verdade, o ódio e os preconceitos destilados pelo empresário-pastor ao qual fizemos alusão vão em sentido diametralmente contrário ao que poderíamos considerar como verdadeiro cristianismo.

O que Jesus poderia ter em comum com alguém que cultiva uma intolerância e um ódio tão extremados a ponto de desejar a morte de outros seres humanos tão somente por sua orientação sexual?

O que se diz é que o tal empresário mercador da fé estaria recorrendo à conhecida estratégia nazifascista-bolsonarista de desviar a atenção pública dos temas que afetam a vida real de quase todo mundo, enquanto que, por outro lado, exacerbam a indignação de seus seguidores para angariar seu engajamento cego e doentio com vistas a levá-los a ocupar a linha de frente no enfrentamento direto contra os adversários que esse empresário-pastor visa aniquilar.

Logicamente, ele não deseja trazer à tona nada que exponha a gritante desigualdade na distribuição de renda em nosso país; nem tampouco abordar temas que apontem para a necessidade de obrigar os ricos a arcarem com uma parcela mais significativa dos custos requeridos para a eliminação da pobreza e a construção de uma sociedade mais justa. Ou seja, o que se pretende é fugir inteiramente de tudo isso.

Portanto, o objetivo almejado é inculcar naqueles que frequentam suas empresas-igrejas a sensação de que seus problemas mais graves advêm de estarem sendo vítimas de perseguição religiosa.

Em outras palavras, procura-se fazê-los acreditar que estariam sendo severamente perseguidos, pura e simplesmente, pelo fato de serem cristãos.

Mas, o que vem a ser um cristão?

Pelo que pude aprender com meus familiares em minha infância, para ser fiel a Jesus, deveríamos procurar seguir as lições que ele nos transmitiu com sua conduta durante o período em que conviveu com seu povo.

Como na vida relatada de Jesus não existe uma única passagem que abonaria o apregoado pelos religiosos do tipo do empresário-pastor a quem estamos nos referindo, as empresas-igrejas alinhadas a essa linha de pensamento precisam dificultar ao máximo o contato de seus seguidores com os exemplos vivenciados pelo próprio Jesus.

Não existe nem uma única passagem na vida de Jesus em que ele demonstre estar preocupado em combater a orientação sexual de ninguém.

Está mais do que evidente que para ele o importante era ajudar o povo mais humilde a se livrar do sofrimento que a exploração dos poderosos lhe causava.

Jesus NUNCA se envolveu na perseguição de ninguém em razão de pseudomoralismo relacionado com o sexo. Havia coisas muito mais urgentes e importantes com as quais se preocupar.

A exploração, a injustiça e o descaso com as penúrias das maiorias populares sempre receberam sua atenção prioritária.

Nas ocasiões em que o vimos tratar de questões de cunho moral foi para condenar a atitude hipócrita das classes dominantes.

O episódio sobre Maria Madalena é bastante conhecido e esclarecedor do que Jesus pensava sobre a hipocrisia.

Que o empresário-pastor que andou apregoando o assassinato de homossexuais seja processado e venha a ser condenado pela Justiça não significa nenhum tipo de perseguição religiosa a ninguém.

A menos que estejamos fazendo referência à condenação de crimes dignos de um serviçal do diabo. Sim, porque, desejar e instigar a morte de outro ser humano simplesmente em função da forma como ele se posiciona sexualmente não é outra coisa que servir ao diabo.

É dever e obrigação de todos os seguidores sinceros de Jesus condenar com veemência a esses farsantes que se fingem de religiosos para impulsar as causas do ódio, da morte e da exploração, em outras palavras, as causas do diabo.

Em resumo, não é possível estar com JESUS e defender as práticas do diabo.

*Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.

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Zé Maria

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Zé Maria

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“Matar em nome de deus é converter deus num assassino”

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Escritor Português

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