Haddad rompe com posição do PT e diz que tradição golpista na Venezuela se impôs “de parte a parte”

Tempo de leitura: 4 min
Foto Facebook de Fernando Haddad

Foto Facebook de Fernando Haddad

Da Redação

O candidato do PT ao Planalto, Fernando Haddad, expressou opinião distinta da de seu partido em relação às crises da Venezuela e da Nicarágua, em sabatina promovida pelo bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, em São Paulo.

A sabatina foi noticiada pelo diário conservador carioca O Globo, que destacou em manchete: Haddad diz que Venezuela e Nicarágua não podem ser caracterizadas como democracias.

A posição de Haddad destoa de manifestações oficiais do Partido dos Trabalhadores.

— Na Venezuela, a tradição golpista se impôs de parte a parte, afirmou o ex-prefeito de São Paulo, sugerindo uma equivalência entre governo e oposição que o PT nunca endossou.

Em abril do ano passado, por exemplo, o PT lançou nota criticando a postura do governo Temer em relação à Venezuela, assinada por Rui Falcão e Monica Valente, respectivamente presidente e secretária de relações internacionais do partido:

NOTA EM DEFESA DA VENEZUELA

O Partido dos Trabalhadores manifesta seu repúdio e oposição à forma como o governo golpista vem manejando a política externa do Brasil no tocante à América do Sul e, particularmente, o desrespeito a princípios básicos de nossa diplomacia como a não ingerência em assuntos internos de outros países e o respeito à autodeterminação dos povos.

É visível que o governo golpista decidiu encabeçar uma campanha da direita contra a esquerda no continente e assumiu uma postura belicista, particularmente contra a República Bolivariana da Venezuela.

O governo usurpador aproveita-se de informações distorcidas disseminadas pela mídia para tentar justificar as medidas contra o país vizinho, inicialmente, suspendendo-o do Mercosul e agora nas palavras do ministro golpista das Relações Exteriores, aplicar a Cláusula Democrática do Mercosul “para expulsar a Venezuela” do bloco. Ele afirmou à Folha de S.Paulo que manter a Venezuela apenas suspensa, como está agora, “seria uma ficção que avacalharia o Mercosul”.

Ignora o chanceler que o Protocolo de Ushuaia não prevê o mecanismo de “expulsão”.

Como é sabido, há uma crise política na Venezuela, decorrente de uma disputa polarizada entre o governo de Nicolás Maduro e a oposição, majoritária no Parlamento. Porém, não existe a decisão do Tribunal Supremo de Justiça de retirar  os poderes do legislativo venezuelano e as imunidades de seus membros. O que existe é uma situação de desobediência do Parlamento no que tange a realizar novas eleições para definir três mandatos de deputados, impugnados pela justiça eleitoral, por terem comprado votos para se elegerem.

Além disso, como o Parlamento se recusou a votar determinadas propostas administrativas advindas do Executivo, o Tribunal decidiu sobre o mérito a pedido do governo. Neste aspecto, não há diferenças entre o que ocorre na Venezuela e o que se passa corriqueiramente no Brasil na relação entre o STF e o Congresso Nacional.

Não interessa ao povo brasileiro, o rompimento do Mercosul e tampouco é vontade do povo brasileiro contribuir para a desestabilização de um país vizinho que sempre manteve boas relações com o Brasil.

Temos a convicção que o povo venezuelano saberá encontrar, por meios próprios, a solução para os seus conflitos. Exigimos que o Ministério de Relações Exteriores, em vez, de “jogar combustível” no conflito, busque soluções responsáveis tanto no âmbito do Mercosul quanto da OEA.

Na sabatina, segundo O Globo, Haddad não fez críticas diretas aos governos Maduro e Ortega:

— Quando você está em conflito aberto, como está lá, não pode caracterizar como uma democracia. A sociedade não está conseguindo, por meios institucionais, chegar a um denominador comum.

A suposta ausência de democracia, no caso da Venezuela, tem servido à causa dos que pretendem isolar e derrubar Maduro.

Apesar de destoar do que o próprio PT diz em relação à Venezuela, a opinião de Haddad está longe de ser original na esquerda.

O deputado Jean Wyllys, do Psol, por exemplo, vem há muito tempo descrevendo a Venezuela como uma ditadura.

Críticos à esquerda de Daniel Ortega tem definido o líder sandinista como traidor da própria causa.

Setores da esquerda venezuelana e nicaraguense já se aliaram informalmente a conservadores em oposição a Maduro e Ortega.

A esquerda tradicionalmente interpreta os acontecimentos políticos na América Latina à luz da História de intervenções dos Estados Unidos na região.

Washington promoveu um golpe contra o presidente venezuelano Hugo Chávez e desde então move uma campanha internacional de propaganda e desestabilização contra o governo bolivariano.

Os Estados Unidos promoveram uma guerra civil na Nicarágua na tentativa de derrubar o governo sandinista.

A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo. A política de estado norte-americana é de reduzir a dependência do petróleo do Oriente Médio, obtendo acesso a reservas mais próximas de seu próprio território.

A Venezuela é fornecedora de petróleo dos Estados Unidos, mas os dois países se enfrentam na Organização dos Países Exportadores de Petróleo para definir o preço internacional.

Como maiores consumidores do mundo, os EUA trabalham através de aliados, notadamente a Arábia Saudita, para derrubar o valor do barril. A economia venezuelana flutua à mercê do preço do petróleo.

A Nicarágua tem posição importante na América Central, onde os Estados Unidos intervieram recentemente num país vizinho, Honduras, para derrubar o presidente eleito Manuel Zelaya.

A política externa do ex-presidente Lula, pilotada pelo chanceler Celso Amorim, foi vista com ressalvas por conservadores em Washington, por se opor, por exemplo, à Área de Livre Comércio das Américas, a Alca, um projeto expansionista de Washington.

Ao longo da guerra fria, os Estados Unidos financiaram seminários, publicações e autores de esquerda que discordavam da União Soviética e naturalizavam o imperialismo estadunidense como modelo para o mundo, conforme descrito nos livros The Mighty Wurlitzer, Foundations of the American Century, Pilantrophy and Cultural Imperialism, The Cultural Cold War e Who Paid the Piper?, dentre outros.

Leia também:

Marcelo Zero: Lula é preso político do Brasil ou dos EUA?


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Comentários

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Astrogildo Leal

Calma Cleusa, o “companheiro”, disse,…o LULA, não você ! É LULA-HADDAD-MANUELA, goste ou não gostem os golpistas, ou melhor, “a direita corrupta brasileira”. NÃO TEM ARREGO ! QUEM NÃO PODE COM A FORMIGA, NÃO PISA NO FORMIGUEIRO !

lando carlos

ESSE E MAIS UM CORVO A COMER A CARCAÇA VIVA DO LULA BANDO DE COVARDES TRAIDORES DO POVO. E LULA CANDIDATO O RESTO E PURO GOLPE o PT SEM LULA E FRAUDE

Antonio Passos

Vocês acham mesmo que essa declaração, dada numa entrevista de menor importância, em circunstâncias específicas, é fundamental no debate nacional eleitoral, a ponto de virar manchete com tons nítidos de intriga ?
A quem serve este tipo de coisa neste momento é a pergunta que cabe.

    Luiz Carlos Azenha

    Não tem nada de intriga. É informação. Relevante, diante do histórico do partido. Mas há a opção de enfiar a cabeça na areia. abs

Nelson

Complementando o primeiro comentário.

A partir da reeleição da Dilma em 2015 e até o momento, estamos podendo constatar, na carne, o quanto o PSDB está a contribuir para a democracia brasileira. Não é mesmo, senhor Mercadante?

Nelson

Lembro da senhora Marina na campanha de 2010. Ela saiu daqui para ir aos Estados Unidos fazer um beija-mão no Obama. Lá, ela foi criticar o governo Lula por ter intermediado o acordo nuclear com o Iran.

Uma postura nítida de agrado, para tornar-se palatável, ao Sistema de Poder que domina os Estados Unidos. Haddad resolveu fazer o mesmo?

Estranho. Haddad não diz uma vírgula sobre o país que fica ali ao lado, bem juntinho da Venezuela. Na Colômbia, quando não são descobertas valas comuns, todo ano empilham-se centenas de cadáveres de militantes sociais.

Mas, para a mídia hegemônica e seus comentaristas, supostos especialistas em tudo, e a denominada comunidade internacional, a Colômbia é uma democracia.

Valdeci Elias

O PT, tem que fazer uma autoanalise . Se não , caso consiga vencer a eleição, e eleger o presidente, os erros se repetirão, e só membros de seu partido ou seus aliados, serão perseguidos , presos e demitidos.
Um exemplo é oque aconteceu na Policia Federal, onde o delegado Protogenes foi demitido, enquanto quem fez ou permitiu tiro ao alvo com fotos de Dilma, seguem trabalhando e chefiando na P. F. .

Nelson

Teria ele resolvido verbalizar seu tucanismo, que já ficara explícito em muitas de suas posições?

Haddad é da turma dos petucanos da qual faz parte o Mercadante.

Não sei precisar o ano, mas não esqueci o que afirmou o senhor Mercadante. Ele disse que “PT e PSDB têm muito a contribuir com a democracia brasileira”.

E ele afirmou isso mesmo após oito anos em que FHC patrolou, colocando a democracia brasileira no bolso, em benefício apenas dos endinheirados, do grande capital, do topo da pirâmide.

Há quem afirme que Haddad vai implodir o PT. Começo a crer que a avaliação esteja correta.

JOSE BATISTA NETO

O título da matéria não está coerente com a reportagem do texto. Fake ou descuidado?

    Luiz Carlos Azenha

    A posição do Haddad rompe com a posição tradicional do PT, como expresso em diversas notas de apoio explícito a Maduro e reafirmação da democracia venezuelana. abs

João de Paiva

O tucano de bico vermelho, Fernando Haddad, cada dia se revela mais.

Parafraseando Emir Sader:

_ Se Lula me pedir para votar num poste, voto no poste.

_ Se Lula me pedir para votar no Haddad, ou no Ciro, voto no post.

    Cleusa Pozzetti Siba

    Como assim?

    Cleusa Pozzetti Siba

    Tá bom! Vote no Alkimin ou no Bostanaro!!

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