16/04/2012 – 13h18
Em áudio, dono da Delta diz que é possível subornar políticos
BRENO COSTA e ANDREZA MATAIS , DE BRASÍLIA, na Folha
Em conversa gravada, em dezembro de 2009, o dono da Delta Construções S/A, Fernando Cavendish, afirma que é possível ganhar contratos com o poder público subornando políticos.
A Delta já recebeu mais de R$ 3,6 bilhões em verbas federais desde 2003 e está no centro das investigações da Polícia Federal envolvendo Carlos Cachoeira, preso pela Operação Monte Carlo por envolvimento em jogo ilegal. A PF chega a descrever Cachoeira como um sócio oculto da Delta, o que a empresa nega.
“Se eu botar 30 milhões [de reais] na mão de político, eu sou convidado pra coisa pra caralho. Se eu botasse dez pau que seja na mão dele… Dez pau? Ah… Não é que seja um monte de dinheiro não, mas eu ia ganhar negócio. Ô…”, diz Cavendish, que não se refere a um caso específico.
“Estou sendo muito sincero com vocês: 6 milhões aqui, eu ia ser convidado. ‘Ô senador fulano de tal, tá aqui. Se convidar, eu boto o dinheiro na tua mão'”, continua o empresário.
A gravação foi publicada nesta segunda-feira (16) no blog Quid Novi, do jornalista Mino Pedrosa, que já trabalhou para Cachoeira. Cavendish conversa com dois empresários da Sygma, que atua na área de petróleo e gás, sobre a dissolução de uma sociedade entre eles.
Em nota, a Delta confirmou o diálogo, mas disse que Cavendish usou um tom de “bravata”.
“O áudio não representa o que a Delta Construção e seus controladores pensam. Antes de tudo, o que é dito ali tem os verbos flexionados no condicional, como um exemplo hipotético, e foi pronunciado num tom claro de bravata.”
Segundo a empresa, os sócios da Sygma gravaram a conversa sem que Cavendish soubesse devido a uma briga entre os três e a divulgação agora tem como objetivo constranger a Delta em meio ao escândalo Cachoeira que será investigado por uma CPI no Congresso. O áudio não consta da Operação Monte Carlo.
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“Tanto a Delta Construção como todos os seus acionistas controladores, diretores e executivos têm profundo respeito pelo Congresso Nacional, pelos congressistas, pelas instituições republicanas e pelo Poder Público.” A Folha não conseguiu localizar os sócios da Sygma.
A revista “Veja” já havia publicado trechos dessa conversa, em maio passado, sem divulgar o áudio da conversa.
RELAÇÃO
O jornalista que divulgou o áudio disse ter feito uma consultoria para Cachoeira no passado e que não tem mais relações com ele. Segundo Pedrosa, o contrato era para fotografar a situação da saúde no país quando José Serra era ministro da área e foi feito em parceria com Ricardo Stucket, fotógrafo oficial do ex-presidente Lula. Cachoeira tem negócios no setor farmacêutico.
Foi Pedrosa quem denunciou ao Ministério Público a cobrança de propina pedida por Waldomiro Diniz, então assessor de José Dirceu na Casa Civil, a Cachoeira. O episódio, depois comprovado com um vídeo publicado pela revista Época, provocou a queda de Diniz e levou a criação um ano depois da CPI dos Bingos. Foi o primeiro grande escândalo do governo Lula, em 2004.
PS do Viomundo: Notem que o escândalo já não envolve Demóstenes Torres, nem o DEM. Já havíamos denunciado que vazamentos paralelos iriam acontecer, aqui.




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