“Governo invisível” prefere Aécio Neves e Eduardo Campos

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O que agrada ao mercado, sobretudo, são os nomes dos conselheiros econômicos por trás dos candidatos de oposição. Aécio conta com o apoio de peso do ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, sócio da Gávea Investimentos. Campos e Marina têm o respaldo do economista Eduardo Giannetti, também adepto de uma linha de pensamento pautada pelo controle da inflação, pela livre flutuação do câmbio e pelo controle fiscal — o chamado tripé macroeconômico. São questões que, na visão de fontes de instituições financeiras, foram deixadas de lado no governo atual.

22/01/2014 – Copyleft

O governo invisível não quer Dilma

Desde o início da crise, em seis anos de colapso neoliberal, o Brasil criou cerca de 14 milhões de empregos – sendo 1,1 milhão no ano passado.

Saul Leblon, na Carta Maior

A expressão ‘siga o dinheiro’, comum em filmes policiais, ilustra a percepção correta, adiantada por Adam Smith, de que a moeda desenha estradas invisíveis na sociedade.

Rastreando-as é possível desvendar aquilo que não se oferece imediatamente à vista.

Pelos caminhos do dinheiro circulam desde carregamentos lícitos, como safras, a armamentos, sonegações fiscais, drogas, favores políticos e outras miunças.

Os bancos são o entreposto de serviços desse trânsito.

Ademais de concederem abrigo seguro e rentável ao fluxo – eventualmente lavá-lo das marcas do caminho — tem o poder de gerar e direcionar novos volumes de tráfego, em emissões de crédito desdobradas da carga ociosa em seus depósitos.

Esse notável replicador conecta-se a outros entroncamentos por onde o dinheiro graúdo viaja em primeira classe, engordando sua existência (às vezes acometida de emagrecimentos súbitos causados pela gula tóxica).

O conjunto forma o que se chama de sistema financeiro.

Pelo calibre dos interesses que reúne, a abrangência da ramificação e o poder de influencia que exerce, constitui uma espécie de governo invisível da sociedade.

O governo invisível não quer a reeleição de Dilma.

Pesquisa feita com duas dezenas de expressivos dirigentes dessa constelação, ao abrigo do anonimato, como manda o ofício, constata que o ‘Setor financeiro quer mudança no Planalto’, informa o jornal Valor Econômico desta 3ª feira.

As relações entre o governo invisível e o visível (qualquer que seja ele) desenvolvem-se em um amplo gradiente.

Oscilam da extrema cordialidade a variados graus de inevitáveis fricções, em se tratando de duas ordens distintas se representação do mosaico social.

O governo invisível acha que o governo Dilma atrapalha o seu sistema viário — ainda que longe de comprometer o valor corrigido e real da frota, como atestam as taxas de juros do país, entre as três mais altas do mundo.

Prefere-se, indica o Valor, que o Estado seja gerido por centuriões de integral confiança, a exemplo daqueles que assessoram Aécio Neves, como o ex-presidente do BC tucano, Armínio Fraga; ou o economista Gianetti Fonseca, ligado a Marina Silva e Campos.

Em síntese, gente que aplique como se deve a regra do tripé, a saber: inflação na meta (leia-se, juros altos); câmbio livre (leia-se, nenhum controle sobre o fluxo volátil de capitais) e equilíbrio fiscal (leia-se, arrocho para garantir os juros dos rentistas).

A esse conjunto, o naipe liberal credita a chave da ‘estabilidade econômica’.

A quebra especulativa do sistema financeiro mundial sugere que o sagrado tridente com o qual o governo invisível pretende tanger o visível não entrega necessariamente o que promete.

O problema da instabilidade do capitalismo mostrou-se mais uma vez inerente ao próprio sucesso do sistema que encoraja ditos agentes racionais e alçarem voos cada vez mais cego, altos e inseguros.

A ausência de regulação disciplinadora levou-os na crise recente de volta às correntezas de vento exploradas originalmente pelo charlatão italiano Charles Ponzi.

Imigrante pobre nos EUA dos anos 20, Ponzi descobriu que podia fazer uma espécie de arbitragem com a diferença de preços dos selos, mais caros nos EUA que na Europa.

Nasceria assim o bisavô do atual carry trade (aplicação financeira que consiste em tomar dinheiro a uma taxa de juros em um país e aplicá-lo em outro, de taxas maiores).

Ponzi captava dinheiro nos EUA para comprar selos na Europa e revendê-los no mercado americano.

A diferença era embolsada pelo investidor com a promessa de rendimentos trimestrais que oscilavam de 50% a até 100%.

O negócio floresceu rapidamente gerando filas na porta de Ponzi, que contratou dezenas de agentes captadores movidos promessas de bônus milionários.

A roda da bicicleta passou a girar como se imagina.

De uma captação inicial da ordem de US$ 6 mil, em fevereiro de 1920, saltaria para a faixa dos US$ 400 mil em maio.

Dois meses depois transitava na casa dos seis zeros.

Ponzi descobriu que ganharia mais sem desperdiçar recursos com os selos.

Abaixo os intermediários: pagava a fila de ontem com os recursos captados hoje.

No final de 1920, o negócio foi desmascarado, levou milhares à ruína e Ponzi à cadeia, como charlatão financeiro.

Poucos se deram conta de que estava ali também um filho típico daqueles tempos de sucesso inebriante dos mercados financeiros sem lei.

O sentido ficou mais claro nove anos mais tarde quando a Bolsa de Nova Iorque quebrou deflagrando uma crise mundial da qual o capitalismo só se livrou com a Segunda Guerra.

A memória seletiva dos rapazes do mercado e dos vulgarizadores da superior eficiência dos livres mercados ajuda a entender como depois quase um século, a bicicleta girou em falso novamente, dando um tombo global no mercado em 2007/2008.

Sucessores avulsos de Ponzi ,como Bernard Maddoff, estavam presentes. Mas, sobretudo, uma miríade institucional.

O que são, afinal, os derivativos a não ser fundos indexados a outros fundos, cujo lastro efetivo repousa sobre material de qualidade tão sofrível quanto os selos-fantasia de Ponzi? Ou o recheio das sub-primes do boom imobiliário norte-americano?

A banca brasileira – e seus p0rta-interesses na mídia e na política — considera que a intervenção disciplinadora do Estado nos mercados compromete a eficiência e corrói a estabilidade do sistema.

Prefere Dilma fora e a lubrificação do país por gente do ramo.

A Depressão norte-americana de 1929 esfarelou a indústria e despejou metade da mão de obra na rua.

Seis anos após o colapso de 2008 da ordem neoliberal, a OIT informa que existe um estoque de 202 milhões de desempregados no mundo (62 milhões adicionados pela crise); 839 milhões de trabalhadores vivem com menos de US$ 2/dia e 48% do emprego atual é precário.

Vai piorar: espera-se um acréscimo de mais 13 milhões de demitidos à legião disponível até 2018.

O Brasil criou cerca de 14 milhões de empregos desde o início da crise mundial (sendo 1,1 milhão no ano passado, saldo carimbado como um fracasso pelo jornalismo isento).

Os bancos preferem o modelo de estabilidade espanhol: 26% de taxa de desemprego.

Jornais, a exemplo da Folha, já cogitaram seriamente Ruanda (45% de taxa de pobreza) como referência de país ‘top reformer’ – um dos mais receptivos a mudanças amigáveis ao ambiente dos negócios.

A saúde dos mercados e a deriva da sociedade, como se vê, não soam contraditórias a certa concepção de estabilidade.

Antes, exprimem uma tendência mais geral de um capitalismo que deixado à própria sorte, mais que nunca vai operar em condições de baixa demanda efetiva, elevado desemprego e especulação solta na esfera financeira.

Ademais dos candidatos sabidos, a disputa de outubro coloca em confronto essas duas concepções de governo: a visível e a invisível.

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Comentários

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Mauro Assis

Ou seja: a banca, que já deita e rola com Dilminha, encheu as burras com Lula e FHC, quer mais e acha que vai obter da oposição…

Igitur

“Governo invisível”?

Ficaram sem argumentos contra a política de juros? Porra, há argumentos que não descambam para o “Astronautas da Antiguidade”.

Apavorado com a cara-de-pau humana.

Armínio Fraga?

Tinha algum tusta antes de trabalhar para BHC?

    Mauro Assis

    Apavorado,

    Sim, ele era gestor do maior fundo do banqueiro George Soros.

Bacellar

Vão ficar querendo. O setor financeiro está tão apartado da realidade nacional das ruas e da população que não consegue articular candidaturas fortes, falta-lhes bons cientistas sociais, nem tudo se consegue com capital, e essa premissa é oque não compreendem.

FrancoAtirador

.
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Numa avaliação preliminar pragmática,

só a extrema-esquerda antinacionalista

pode derrubar Dilma e eleger a direita.
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    Mauro Bento

    Sr. Franco Atirador.
    Numa pragmática avaliação preliminar:
    SE, e eu disse SE
    qualquer extrema-esquerda pudesse derrubar a Dilma,acho que já teria acontecido.
    Quanto a eleger a Direita, qualquer exterma-esquerda que mereça este nome parte do princípio que Eleição tem lugar e hora marcados,uma vez no poder não costuma ter angústias eleitorais mau-resolvidas.
    caso eleja mesmo a Direita,–para o bonde, que eu vou descer !!
    Bom dia !!

Luís Carlos

Se querem Dilma fora, ponto para Dilma. Azar de Aécio, Marina e Campos que terão que carregar esse fardo do modelo fracassado. Para quem diz que não há diferenças, aí estão elas…

alfredo de padua

“Dilma está entregando o petróleo e a Petrobrás”

EMANUEL CANCELLA*

Ao apagar das luzes de 2013 Dilma autorizou a venda de 35% do bloco Parque das Conchas, na Bacia de Campos, por US$ 1,6 bilhão. Esse campo produz 50 mil barris de petróleo por dia. Para se ter uma ideia essa produção é mais do que o consumo diário de países como Uruguai, Paraguai e Bolívia. Quem vai abocanhar 75% desse negócio é a Shell, dos ingleses e holandeses.

A negociata não surpreende. Na retrospectiva de 2013, a Revista Época já destacava a cumplicidade de olhares entre a presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster, e o representante da Shell, durante o leilão de Libra.

Dilma já superou de longe FHC. O ex-presidente tentou de todas as formas, mas não conseguiu privatizar a Petrobrás. Esbarrou na maior greve da história dos petroleiros, em maio de 1995, que paralisou o país por 32 dias. FHC teve que recorrer a artifícios para facilitar o desmonte da empresa. Dividiu a Petrobrás em Unidades de Negócios, com a intenção de vender a companhia aos pedaços. O máximo a que chegou foi repassar à iniciativa privada 30% da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Porto Alegre, fatia depois recomprada, no governo Lula.

Ao assumir como herdeira de Lula, em 2010, Dilma adotou o discurso que poderia distingui-la de Serra e garantir os votos para a conquista da presidência. Afirmou que “leiloar o pré-sal era um crime e que o pré-sal representava o nosso passaporte para o futuro”. No entanto, seu governo está destruindo a Petrobrás e entregando a petrolíferas estrangeiras o nosso petróleo, indo muito além do que seu antecessor e suposto adversário político jamais sonhou.

Na gestão iniciada por Maria das Graças Foster à frente da Petrobrás, amiga pessoal de Dilma, foi criado o Plano de Desinvestimento, sob o argumento de que eram necessários recursos abundantes para investir no pré-sal. Anunciou-se, a princípio, que seriam vendidos ativos na área internacional. Mas o fato é que o governo Dilma está vendendo as melhores áreas do pré-sal! A começar pelo Campo de Libra.

O ‘Desinvestimento’ de Dilma&Foster é sem licitação. Os valores são decididos na surdina, a portas fechadas, entre banqueiros, megaempresários, testas de ferro e representantes das multinacionais do petróleo. Assim como a escolha dos compradores.

Dilma&Foster agem como se estivessem transacionando bens próprios e não o patrimônio nacional. Muitas vezes tomamos conhecimento da venda de ativos da Petrobrás em discretas colunas nos jornais. Foi o caso do Parque das Conchas, o filé mignon da Bacia de Campos.

O Brasil chegou à condição de grande produtor de petróleo, graças à luta do povo e ao empenho dos trabalhadores da Petrobrás, desde a campanha “O Petróleo é Nosso”, em 1940-50. O ouro negro poderia estar sendo utilizado para resolver os graves problemas sociais da nação brasileira. No entanto, o governo que prometia o novo é apenas uma continuidade medíocre da velha política.

*Emanuel Cancela é diretor do Sindicato dos Petroleiros do RJ e coordenador da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP). O artigo foi publicado originalmente com o título: “Dilma está fazendo o que FHC não conseguiu: entregando nosso petróleo”.

    Bonifa

    O senhor Cancela não merece uma resposta séria, já que seu artigo não é sério. Mas não se deva acreditar que ele está mesmo tentando defender uma posição nacionalista. Seria de uma ingenuidade primária para quem trabalha numa empresa do porte e das responsabilidades da Petrobras. Por isso, é lícito suspeitar-se de suas intenções políticas. Ele pode muito bem ser um entreguista disfarçado.

    Mauro Bento

    Sr. Bonifa
    Para mim fica díficil adivinhar preferências partidárias no texto,acho que o destaque é por ser o autor Dirigente Sindical.
    Observei este tipo de fato quando a E.Catanhede escreveu apoiando o direito aos rolezinhos,foi acusada de ser contra a Dilma,mas ninguém consegue errar todas mas quando acerta uma também vaiamos ???
    Concluo caso não sejamos cuidadosos todas as opiniões que não concluam “Por isso precisamos reeleger a Dilma” serão do PIG e neo-liberais.

    GuaranaTai

    Quem não merece resposta séria é o senhor Bonifa, que parte para a desmoralização barata e vazia de argumentos.

    É triste estarmos em ano de eleição e não termos uma mísera opção que não seja formada por entreguistas.

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