Teólogo progressista vê identificação do novo papa com os pobres

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Teólogo progressista vê identificação do novo papa com os pobres

Novo papa é aberto para as questões sociais e retrógrado na moral sexual. O historiador Beozzo observa que ninguém usou o nome Francisco até hoje “por causa da radicalidade”

por Gilberto Nascimento

A adoção do nome de Francisco pelo novo papa, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, evidencia uma posição em favor dos pobres na América Latina. Essa é a avaliação do teólogo e historiador José Oscar Beozzo, coordenador do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (Cesep). Beozzo, um dos maiores especialistas em Igreja na América Latina, é alinhado à Teologia da Libertação e próximo de religiosos “progressistas”, como o arcebispo emérito de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns.

O religioso progressista vai na linha contrária daqueles que apontam Bergoglio como conservador. “Eu gostei. É uma pessoa que vive de maneira muito simples. É muito pobre, anda de ônibus e metrô. E Francisco é o santo mais venerado, é o santo radical da pobreza. Nunca ninguém usou esse nome por causa da radicalidade. Não se pode usar o nome de Francisco e ter uma prática cotidiana contrária a esses princípios”, observou Beozzo.

Bergoglio – o segundo nome mais votado no conclave que elegeu Bento XVI, em 2005 – é tido como um moderado, aberto e sensível aos temas sociais, mas “fechado” e retrógrado nas questões morais. Travou polêmicas inclusive com a presidente de seu país, Cristina Kirchner, ao condenar a adoção de crianças por gays. Tem posições mais à direita sobre temas como eutanásia, camisinha e casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Membro da ordem dos jesuítas, Bergoglio tem ligações com a Comunhão e Libertação, movimento que propõe uma nova forma de leitura da realidade para se contrapor à visão marxista. Defende que seja feita a partir da cultura e não das contradições socioeconômicas.

O novo papa é uma figura controvertida. Em 2005, pouco antes do conclave que elegeu Bento XVI -, um advogado da área de direitos humanos, Marcelo Perrilli, o apontou como cúmplice no sequestro de dois padres jesuítas. O fato teria ocorrido em 1976,  durante o regime militar na Argentina. Bergoglio era o provincial da ordem dos jesuítas na Argentina. Os livros “Igreja e Ditadura’, de  Emilio Mignone, e “El Silencio”, de Horacio Verbitsky, fazem acusações na mesma linha.

Beozzo – ainda ao final da tarde, momentos após o anúncio da nomeação do novo papa -, disse não haver comprovações dessas denúncias. “Ele nem era bispo nessa época. Alguns de seus superiores realmente colaboraram com a ditadura argentina”, argumentou.

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Para o padre Manoel Godoy, ex-assessor da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e diretor do Instituto São Tomás de Aquino, de Belo Horizonte, a escolha de Bergoglio é positiva por sua dedicação aos menos favorecidos. “Ele escolheu o nome Francisco pela identificação com os pobres”, ressalta.

Godoy elogia ainda o fato de o novo papa andar de transporte coletivo e se recusar a morar em um palácio. “Mas muitos jesuítas tiveram de se exilar por não sentirem apoio, quando ele era providencial da ordem”, afirmou.

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