Fernando Brito: Problema não são os autoritários da Paulista, mas as ações insanas do Judiciário, MP e PF

Tempo de leitura: 3 min

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Problema não são os autoritários da Paulista. São os órgãos de Estado contra a democracia.

por Fernando Brito, no Tijolaço, em 16/08/2015 

Todo mundo precisa, de vez em quando, “desintoxicar”.

Foi o que fiz neste domingo, em lugar de ficar repetindo a observação do que já está mais que visto: a direita brasileira desavergonhou-se e assumiu uma forte expressão de rua que, desde que vieram os “antipolíticos” e “antipartido” de junho de 2013, alimenta os interesses conservadores.

Ela existe, sempre existiu e  continuará existindo. A diferença está no seu estado de excitação e mobilização e não é na crise econômica que ela encontra suas raízes, embora seja dela que extraia sua recente desinibição, certo que em escala menor do que a do “todo mundo está roubando” que é a tônica do hipócrita coral formado por instituições que se tornaram desgovernadas e entregues à politicagem.

A mídia, o Judiciário, o Ministério Público, a Câmara dos Deputados, o candidato derrotado nas urnas, todos se uniram para algo que, francamente, em tudo lembra um tribunal de exceção, onde o importante, não importa se com ou sem razões, o que importa é instaurar um processo de eliminação, a qualquer preço, de qualquer pretensão de que o país seja conduzido, como determinou o eleitor, por uma aliança de centro-esquerda, de tonas nacionalistas, populares e desenvolvimentistas.

Chegamos a absurdos como o produzido este final de semana, onde um relatório da Polícia Federal esmera-se em transcrever um telefonema de um acusado da Lava Jato onde o ex-presidente Lula não diz, rigorosamente, coisa alguma que interesse à investigação e ao monstruoso vazamento sobre a movimentação bancária do Instituto Lula, uma ousadia de ilegalidade que, houvesse algum tipo de respeito à legalidade, estaria provocando uma devassa para apurar a responsabilidade de divulgar dados bancários.

É muito mais grave para a democracia que isso esteja acontecendo que as manifestações da Avenida Paulista, que viraram “arroz de festa” da classe média.

A manifestação de domingo passou. Não é um elemento sólido do jogo democrático, porque dissolve-se pela falta de adesão crescente de massas – nitidamente, estão marcando passo desde que começaram – e pela falta de lideranças políticas  capazes de representá-las: favor não dizer que “somos todos Cunha” como registrava tragicomicamente uma das faixas dos manifestantes possa significar algo, como não significam os mentecaptos dos grupos “organizadores”.

O golpismo que não passou é o que está incrustado nas ações insanas que transformam – e nisso contaram com o beneplácito da inação do Governo e de seu Ministério da Justiça – as instituições em foco de agitação e não de sereno cumprimento das regras democráticas.

O golpe de Estado não raro é gestado dentro do próprio Estado.

Antes, há décadas, nos corpos militares e seus comandos, que recolheram amargos frutos diante da opinião pública por se prestarem de braço armado de processos de dominação nacional.

Agora, em instituições judiciais e parajudiciais, que se portam como uma casta de iluminados, que tudo podem, tudo julgam e a todos acusam.

Bons ternos, de fino corte, em lugar dos dólmãs, mas idênticas razões absolutas para negar, como antes, o fundamento da democracia: o voto.

Como observou com lucidez Kiko Nogueira, no Diário do Centro do Mundo, o tal “republicanismo” tão brandido para justificar a inação levou-nos a um “aceita-se tudo em nome de sabe-se lá o quê”, onde o acovardamento da parcela não transtornada daquelas instituições vai entregando-as à loucura autofágica, aquela que em “nome da lei” destrói todas as garantias da lei: o contraditório, o devido processo legal, a presunção de inocência e o não desvirtuamento dos mecanismos de coação estatais.

As senhoras da foto, com o revelador cartaz perguntando “por que não mataram todos em 64?”, não são uma ameaça, são umas pobres-coitadas, que cruzaram a existência sem aprender a respeitar os seres humanos.

Terríveis, mesmo,  são os que querem matar a democracia com os instrumentos do Estado, não com uma passeata.

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Comentários

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ROSE PE

Essas senhoras pararam no tempo! Dá dó! Ou são viúvas dos ditadores!

Urbano

O que há de pose na elite de boston nem deixa espaço para o juízo…

José Fernandes

A insanidade de uma parte da elite desse País se aflorou…estavam lá escondidinho dentro deles.quando uma parte dos miseráveis desse Brasil começaram a ter uma vida mas digna sem se submeter a caprichos dos endinheirados eles eles começaram a perceber que tinham lugar também que eram e podiam ter todos aqueles bens matareis que os endinheirados tinham.: conta em banco,carros,casas,bens domésticos,os filha frequentarem faculdades,serem engenheiro,doutores.etc, dai a Elite politizada e insana desse País resolveram corta o veio pela raiz. Essa raiz se champa Lula -PT e os verdadeiros aliados. temos de dá uma resposta a tudo isso.uma resposta verdadeira,sair as ruas .todos que querem esse País livres dessa corja, e essa corja está infiltrada em todos os setores ,no PM,SFT,.PF.

Julio Silveira

Tenho feito seguidas criticas aqui, e em outros veiculos que participo, sobre a nulidade que representa o Ministro Zé. De tanto criticá-lo, e verificar um quase grito de muitos participantes, e até blogueiros, sobre sua incapacidade cronica, e não perceber qualquer reação da Presidenta, qualquer demonstração de sensibilidade para as criticas, é que a partir de hoje não mais farei e refutarei as criticas ao cidadão, por que entendo tem todo o endosso da presidenta para a continuidade da sua in-gestão. E assim sendo devo entender que todo o estado que coisas deploraveis que acometem a nossa fragil democracia, toda essa agressão da direita deve ser do interesse da nossa governante.
Para mim é dificil e aceitar como alguem pode ficar tão impassivel com tamanho volume de inaptidão, que, sem sombra de duvida, estimula as barbaridades que estamos presenciando.

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