Faustino Rodrigues: A oposição está criando um abismo imenso, o tombo será doloroso

Tempo de leitura: 4 min

aécio, fhc, sarney, renan, eduardo braga

por Faustino Rodrigues, especial para o Viomundo

Nos últimos dias, paira no ar uma confusão. Não está em jogo somente o mandato da Dilma Rousseff, mas, sim, a democracia brasileira. Portanto, mostrar-se favorável à manutenção do atual mandato presidencial até o final é simplesmente acatar normas de uma instituição democrática.

Se houvesse uma oposição realmente tão comprometida com a democracia, ela tentaria mobilizar os segmentos sociais correspondentes à sua plataforma eleitoral de modo a se posicionar com relativa consistência frente às medidas do governo. Em tese, assim deveria ser feita a política contemporânea.

O simples fato de a oposição se imiscuir de um contato direto com segmentos sociais já representa, por si só, um descomprometimento dos partidos oposicionistas com a sociedade civil propriamente dita.

Obviamente, sei que o Brasil não é o maravilhoso mundo da representação política. Mas, tendo em vista a atual crise, qual seria a melhor oportunidade de se fazer grande barulho e movimentar a opinião pública de maneira consistente, sem alardes e polêmicas?

Nos últimos anos, desde que nos tornamos democráticos, não ocorreu oportunidade semelhante. E, no entanto, partidos como PSDB e DEM – que, certamente, sabem disso – nada fizeram. Apenas gritaram.

A oposição é absolutamente saudável para uma democracia. Ela tem de existir enquanto possibilidade de se ventilar críticas – e todos estamos sujeitos a elas – com o propósito de melhoria da governabilidade.

Note que, idealmente falando, deve-se sempre partir do princípio da reflexividade dos atores políticos diante das inúmeras opiniões a circularem em Brasília. E, como disse no parágrafo anterior, se tais críticas têm o respaldo de determinados setores sociais, melhor ainda.

Porém, percebo que temos uma oposição formada por lideranças (?) que é praticamente independente da representação política. O sistema político propriamente dito torna-se algo completamente secundário, desde que a ambição destes líderes seja efetivada.

Daí, o sistema político brasileiro deixa de ser visto como um todo, construído outrora sobre bases sólidas – ninguém questiona os valores democráticos de nossa Constituição – passando a funcionar como uma espécie de instrumento a serviço de determinados indivíduos – sequer, neste caso, posso falar em grupos sociais. É uma espécie de ranço da casa grande.

O mais interessante de tudo isso está em perceber o ganho dos segmentos favoráveis ao impeachment ilegítimo. Erra quem os identifica com as lideranças mencionadas por mim antes.

Na verdade, estes grupos sociais – que muitos, menos eu, gostam de chamar de elites – não se apoderam do sistema político de maneira representativa. Isso é pura ilusão.

Na verdade, eles recolhem sedimentos, farelos, que despencam das mãos dos grupos de interesse presentes no interior do Estado. E ficam contentes, na ilusão de estarem banqueteando. Isso já aconteceu na ditadura militar.

A grande perda, neste caso, está justamente na impossibilidade de se fazer com que o sistema político representativo brasileiro consiga um amadurecimento. Pois, a oposição, de fato, preocupa-se fundamentalmente em desconstruir toda e qualquer herança que se oponha a ela.

Assim, à medida que caminhava, tentava-se destruir o caminho que acabou de percorrer, essa herança, criando um imenso abismo. Logo, um passo atrás representa a queda sem precedentes em um fosso. E o tombo será doloroso.

Certa vez, Florestan Fernandes descreveu os dilemas enfrentados pelos senhores de engenho, os principais nomes da economia colonial brasileira antes da independência, diante da presença do liberalismo econômico e da necessidade de movimentação do mercado – algo notável principalmente a partir da Abertura dos Portos, de 1808.

Acostumados ao poder político, construído sob a forma da força e dominação (a escravidão fala por si só), abrem mão de sequer tentar compreender este liberalismo, verificar o seu impacto sobre a produção canavieira, para a manutenção do poder político.

Isso porque ou mantinha o velho esquema de dominação sobre a terra e a força de trabalho, ou aceitava as devidas alterações do cenário econômico para a inserção de sua produção no já transformado cenário mundial. Os dois, juntos, era impossível.

Tenho a sensação de que o filme se repete. Como disse antes, o ranço da elite senhorial se faz presente no interior da política, rejeitando a possibilidade de transformação sofrida pelo Brasil nos últimos anos que inseriu, bem ou mal, negros no Ensino Superior ao mesmo tempo em que possibilitou acesso a determinados bens a específicas parcelas da população brasileira até então alijados sequer da alcunha de cidadão.

Erros? Certamente, os governos Lula e Dilma têm muitos. Quem acompanha o Viomundo, inclusive, já deve ter visto algum texto meu neste sentido.

Os devidos acusados de corrupção – com a qual, estranhamente, a população resolveu se incomodar, pois, pelo “rouba mas faz”, parecia completamente vacinada – devem ser punidos com o necessário rigor da pena legal. Mas, daí a ser conivente com os anseios oportunistas de um sujeito que se vê acossado e, portanto, deseja vingança? Retirar um líder político do poder por quaisquer meios? Transformar um sistema político relativamente sólido, construído após um século praticamente inteiro sem democracia, em um vale-tudo?

Sou vinculado a uma Universidade Federal. Ainda que não tenha algum destaque político nela, há nove anos sou oposição.

Nunca cogitei a hipótese de, para satisfazer meus interesses, meus desejos, que a reitoria fosse destituída sem legitimidade.

A população precisa entender que ser contra o impeachment não significa ser a favor do governo Dilma, referendar suas medidas ou seus elos políticos. Significa, pelo contrário, total ciência das necessidades democráticas de um país cuja população, agora, manifesta necessidades diante da insegurança econômica.

São essas demandas populares que deveriam estar à frente dos interesses dos Cunhas. E, pode ter certeza, de que o pedido de impedimento de mandato que circula em Brasília, agora, não foi elaborado a partir das solicitações de segmentos da sociedade civil insatisfeitos com o governo. Na verdade, ele foi feito com um toque de oportunismo que, como um balão, pode ser facilmente estourado. Porém, o barulho será grande – somente para parafrasear um amigo.

Se um sistema político ruir, toda e qualquer possibilidade, todo e qualquer caminho institucional para a sua manifestação, para a representação política, igualmente ruirá. E, certamente, não será construído da noite para o dia, pois os novos “líderes” estarão ocupados, atentos às suas próprias necessidades, aquelas dos grupos de interesse, em um gigantesco banquete, do qual, aos que estão embaixo, restará, de novo, somente os farelos.

Faustino Rodrigues é jornalista, professor e cientista social

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Comentários

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Urbano

Exceto o que nem sei quem é, mas vê-se tranquilamente o quanto a politicalha infame no Brasil é prolífica…

Hell Back

Realmente. Cada povo tem a elite que merece.

FrancoAtirador

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Entrevista: ZÉ CHEVRON
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O Homem Forte de Têmer [para Entregar o braZil aos Gringos]
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Folha de S.Paulo
Um Jornal a Serviço do Golpe
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José Serra: “o PSDB não pode se esconder”
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Homem forte do governo Michel Temer
e futuro candidato à presidência pelo PMDB
(ou, melhor ainda, futuro candidato a primeiro-ministro),
José Serra defendeu publicamente a necessidade
de participar do novo governo, em entrevista à Folha de S. Paulo.
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Folha: Michel Temer terá condições de governar, se o impeachment ocorrer?
Serra: Ele é um homem experiente, um constitucionalista respeitado, tem personalidade equilibrada. É presidente do PMDB, o que, evidentemente, já exige grande capacidade de diálogo. Sinceramente, creio que se o destino exigir dele a tarefa de presidir o Brasil, ele estará à altura. O Michel vai dar tudo de si.
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Folha: Em que condições a oposição apoiaria um governo Temer?
Serra: Compromissos de um novo estilo de governo, com menos barganha. E questões programáticas propriamente ditas. Creio também que ele deixaria claro que não pretende ir para a reeleição. Isso facilitaria a composição. Eu e, espero, o meu partido batalharíamos para preparar a implantação do parlamentarismo a partir de 2018.
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Folha: O sr. cogita participar de um eventual governo Temer? Assumir ministério?
Serra: Essa questão não está posta. Mesmo. Mas se o governo cair, todo mundo vai ter que dar a sua parcela de contribuição para tirar o país do atoleiro. Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para ajudar.
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FrancoAtirador

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OC unida jamais será vencida.
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Aécio, Alckmin e Serra (PSDB)
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fecham apoio a Temer (PMDB)
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Marco André

“Na verdade, estes grupos sociais – que muitos, menos eu, gostam de chamar de elites – não se apoderam do sistema político de maneira representativa. Isso é pura ilusão.”

Talvez eu não tenha compreendido de forma correta, mas… O que seriam(?):

– Bancada ruralista.
– Bancada da FIESP/CNI.
– da FEBRABAN

Alguém já ouviu falar de uma bancada representativa de camponeses?

Isaías Albuquerque do Nascimento

O impeachment é um processo político. Do jeito que a coisa vai, não será necessário provas de crime de responsabilidade dolosamente cometido pela presidente Dilma.

Os parlamentares estarão de olho nas ruas. Se os golpistas e reacionários demonstrarem mais força e coesão do que nós que estamos ao lado da democracia, de Dilma e do projeto que ela representa (justiça e inclusão social), infelizmente, Dilma cairá! Se do contrário, demonstrarmos força e coesão maior ou equivalente ao das forças golpistas, a democracia, o povo sofrido e Dilma vencerão!

Eles já marcaram para 13 de dezembro, próximo DOMINGO, manifestações de rua para derrubar a nossa presidenta Dilma. O tempo urge! Não há mais o que contemporizar com esses chantagistas, criminosos, reacionários e golpistas! À luta e à rua companheiros! Sugiro nossa primeira manifestação de massa ocorra em 20 de Dezembro, um DOMINGO!

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