Fattorelli: Enquanto você está distraído, banqueiros aproveitam pandemia para dar duplo golpe financeiro

Tempo de leitura: 5 min
Wilson Dias/Agência Brasil

Banca oportunista aproveita pandemia para destruir as finanças públicas

Por Maria Lucia Fattorelli

 PEC 10 e PLP 39 irão aprofundar de forma drástica o Sistema da Dívida

Em pleno estado de calamidade pública, enquanto a sociedade enfrenta alarmante drama social agravado pela desigualdade extrema e insuficiência de serviços de saúde e assistência, a banca oportunista se aproveita da pandemia do coronavírus e do tumulto gerado por crise política para aumentar ainda mais os seus privilégios por meio de graves mecanismos financeiros incluídos na PEC 10 e no PLP 39, que irão destruir as finanças públicas e alimentar ainda mais o Sistema da Dívida.

Tais mecanismos não têm nada a ver com a pandemia do coronavírus; não representam ajuda alguma aos entes federados, pelo contrário, irão agravar ainda mais a situação, pois ambos geram dívida pública sem contrapartida alguma, a qual passa a exigir mais e mais dinheiro público para o seu pagamento, sangrando os orçamentos públicos e reduzindo direitos sociais, além da perda de patrimônio público continuamente privatizado “para pagar dívida pública”.

Os mecanismos inseridos na PEC 10 e no PLP 39 irão aprofundar de forma drástica o Sistema da Dívida, isto é, a dívida pública gerada em sua maioria sem contrapartida alguma em investimentos, como já declarado inclusive pelo Tribunal de Contas da União ao Senado.

PEC 10/2020

Na PEC 10 foi inserido imenso golpe financeiro que provocará o aumento de trilhões no estoque da dívida pública, o agravamento do arrocho orçamentário e a consequente redução de direitos sociais, além da perda de patrimônio público e reservas, ou seja, um rombo de trilhões de reais aos cofres públicos e à sociedade, em troca da “carteira podre” dos bancos!

Essas afirmações estão comprovadas em documentos e declarações públicas de autoridades:

-– O presidente do Banco Central informou ao Senado que a operação chegará a R$972,9 bilhões, porém, levantamento feito pela IVIX
Value Creation já havia revelado que a “carteira podre” dos bancos chegava ao valor de quase R$ 1 trilhão, sem considerar a correção monetária!

Se computada essa correção, chegaremos a vários trilhões, pois esses ativos privados vêm sendo acumulados nos bancos há 15 anos, segundo o levantamento!

-– Na última semana o ministro Paulo Guedes anunciou que quer vender reservas internacionais para pagar dívida pública!

Falou também sobre a aceleração das privatizações de R$ 1 trilhão de imóveis públicos, e mais R$ 1 trilhão de participações em estatais, também para pagar a dívida pública.

-– A PEC não estabelece limite algum para a operação que autoriza que o Banco Central opere com títulos da dívida pública em mercado
secundário desregulado (de balcão), atuando como um mero operador independente, podendo comprar derivativos sem lastro e debêntures de bancos, sem limite de valor, sem identificar os beneficiários, sem obedecer aos “Procedimentos Mínimos” recomendados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, sem a possibilidade de investigação efetiva, sem limitar o prazo dos papéis, sem a exigência de contrapartida alguma ao país, e mais: pagando tudo isso com títulos da dívida pública, cujo peso recairá sobre o povo brasileiro!

-– Por isso, a própria PEC 10/2020 já incluiu outro dispositivo infame, que autoriza a emissão de novos títulos da dívida pública para pagar os juros, ou seja, a dívida vai aumentar de forma exponencial tanto por causa da absorção de papelada podre da banca pelo Banco Central às custas da geração de dívida pública, como também pela emissão de mais títulos para pagar os seus juros!

A Auditoria Cidadã da Dívida já enviou NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL a todos(as) deputados(as) federais para garantir que cada parlamentar tomou conhecimento dos diversos e graves problemas de ordem jurídica, constitucional, econômico-financeira e social envolvidos na PEC 10/2020, assim como os seus impactos danosos à sociedade brasileira, e assegurar que todos que irão votar a referida PEC 10/2020 em plenário deem conhecimento a seus pares e deliberem, no âmbito de suas responsabilidades político-parlamentares, as medidas necessárias para que sejam superados os diversos problemas elencados na Notificação Extrajudicial, previamente à deliberação da referida proposta pelo Plenário da Câmara dos Deputados.

A Auditoria Cidadã da Dívida pediu ainda que a referida NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL conste dos anais da sessão que analisar a referida PEC 10/2020 na Câmara dos Deputados.

PLP 39/2020

O conteúdo do PLP 149/2020 passou a constar agora do PLP 39/2020, conforme votação virtual do Senado no último sábado à noite, e incluiu o ESQUEMA FRAUDULENTO DE SECURITIZAÇÃO, mediante o qual uma nova dívida securitizada (formalizada em debêntures) é gerada, a qual é paga mediante a cessão de parte da arrecadação tributária e não tributária, POR FORA DOS CONTROLES ORÇAMENTÁRIOS.

O texto do PLP 39 inclui a securitização no mercado doméstico de “créditos denominados e referenciados em reais”.

O pagamento da securitização se dá por fora do orçamento público, mediante a cessão do fluxo de arrecadação do ente federado, que perde o controle sobre suas receitas, tendo em vista que o desvio do fluxo se dá durante o percurso do dinheiro pela rede bancária!

[PS do Viomundo: Em português, uma prefeitura vende papéis no mercado garantidos por dinheiro de futura arrecadação, com uma fatia sendo embolsada pelos banqueiros intermediários]

O mercado financeiro vem tentando aprovar o esquema de securitização de créditos públicos por meio do PLP 459/2017 (8) (consta também da PEC 438/2018), e diante da gravidade desse mecanismo e da obscuridade do texto legal, o tema também já foi objeto de INTERPELAÇÃO EXTRAJUDICIAL a todos os líderes de todos os partidos políticos na Câmara dos Deputados, a fim de garantir que todos tomaram conhecimento do verdadeiro teor desse esquema.

O esquema da Securitização de Créditos já tem sido implementado de forma ilegal em alguns entes federados, a exemplo de Belo Horizonte, onde uma CPI comprovou graves danos aos cofres públicos.

As finanças do Estado de Minas Gerais também têm sido gravemente afetadas por esse esquema.

Esse esquema vem dando errado no mundo todo, pois só interessa aos bancos que passam a se apropriar de parte da arrecadação tributária que sequer alcança os cofres públicos, em montante muitas vezes maior do que o adiantamento inicial de recursos que o esquema possibilita, como uma isca para o imenso rombo que virá em seguida e comprometerá drasticamente o orçamento público.

Em vez de significar ajuda, esse esquema representa um rombo às contas públicas!

Não houve o devido debate sobre esse dispositivo aprovado às pressas no sábado à noite, em rito que impedia argumentação e sequer o devido debate acerca das consequências do que se estava votando!

O Congresso não pode penalizar os estados e municípios dessa forma!

Somente bancos (que agenciam o processo de securitização, cobram taxas exorbitantes e acabam adquirindo a totalidade das debêntures emitidas nesse processo), ganham com esse negócio, que irá prejudicar as gerações atuais e futuras de todos os entes federados, comprometendo o fluxo de arrecadação dos respectivos entes de forma definitiva no processo de securitização!

Ademais, o texto do PLP 39 está vago e dá a entender que qualquer dívida dos entes federados poderia ser objeto de securitização, abrindo margem para referendar as ilegitimidades das dívidas dos estados (em especial a transferência dos passivos dos bancos estaduais para o estoque dessas dívidas no esquema que se denominou PROES na década de 90), além das históricas condições financeiras abusivas aplicadas contra os entes federados.

Essa proposta de securitização passa por cima de decisão do STF que suspende temporariamente as dívidas refinanciadas pela União, e que deveriam ser auditadas e revisadas, expurgando-se os cálculos abusivos e as parcelas ilegais e ilegítimas (PROES).

Em vez de empacotar as dívidas dos entes federados e oferecê-las em processo fraudulento de securitização, em linha com a perversa financeirização que está dado errado no mundo todo, o Congresso deveria obrigar a União a socorrer estados e município, onde vive a população, pois tem muito dinheiro em caixa; mais de R$ 4 trilhões em caixa: saldo de R$ 1,4 trilhão na conta única do Tesouro Nacional, mais de R$ 1,7 trilhão em Reservas Internacionais, e mais de R$ 1 trilhão no caixa do Banco Central.

É inaceitável que se aproveite do drama da pandemia do coronavírus para suicidar de vez as finanças dos entes federados com esse fraudulento esquema da securitização.

Conclusão

Diante disso, solicitamos aos excelentíssimos deputados e deputadas federais que sejam excluídos da PEC 10/2020 (Arts. 7 o e 8 o do substitutivo aprovado no Senado e do PLP 39/2020 (Art. 6, o do texto aprovado no Senado), tendo em vista que tais dispositivos não têm nada a ver com o drama da pandemia do coronavírus e descaradamente representam mais privilégio ainda para bancos, às custas de geração exponencial de dívida pública sem contrapartida alguma e comprometimento de todas as gerações atuais e futuras com os seus pagamentos exorbitantes, destruindo as finanças públicas e qualquer possibilidade de desenvolvimento socioeconômico do país.

Apelamos a toda a sociedade que pressione deputados e deputadas federais que terão que votar a PEC 10/2020 e o PLP 39/2020 para que REJEITEM ESSE GOLPE FINANCEIRO!


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Comentários

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Zé Maria

https://www.congressonacional.leg.br/materias/medidas-provisorias
A Burguesia tripudiando sobre a Classe Trabalhadora com os Decretos Imperiais
do Serial Killer do Cercadinho, com Mourão, com Centrão, com Alcolumbre, com
Maia, com ‘Novo’, com PSDB, com Imprensa, “com Supremo, com tudo” …
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=442355

“Algo deve mudar, para que tudo continue como está”

(Tomasi di Lampedusa, em “il Gattopardo” (“O Leopardo”),
narrando ‘a decadência da nobreza e a ascensão de uma
nova classe endinheirada, destituída de sangue azul, mas
ávida para comprá-lo’)

Por Salatiel Soares Correia, na Revista Bula

Nicolau Maquiavel é o que se pode chamar de unanimidade entre os estudiosos da ciência política. Na verdade, com a publicação de seu pequeno grande livro, “O Príncipe”, foi considerado o fundador da ciência política moderna. A obra constitui uma lição de sabedoria sobre como a natureza humana se comporta diante do poder; sobre como as pessoas se revelam em sua essência diante do poder. Os ensinamentos contidos nos escritos do sábio de Florença ilustram o caminho que devem seguir os governantes para manterem seus principados.

O mal deve ser feito de uma só vez, ao passo que o bem deve ser feito aos poucos; deve-se ver a realidade tal como é, não como se deseja que seja; quem governa deve ser temido pelos adversários e amado por quem é o responsável pela sua manutenção no poder — o povo.

São ensinamentos como esses que fizeram de “O Prín­cipe” uma leitura de cabeceira de vários poderosos pelo mun­do afora.
[…]
Outro importante aspecto enfatizado pelo sábio florentino em seus escritos se refere a um momento em que uma velha ordem de valores é contestada e as sociedades entram em conflito para que surja uma nova ordem, diferente da antiga. Para ele, “devemos convir que não há coisa mais difícil de se fazer, mais duvidosa de se alcançar, ou mais perigosa de se manejar do que ser o introdutor de uma nova ordem, porque quem o é tem por inimigos to­dos aqueles que se beneficiam com a antiga ordem, e como tímidos defensores todos aqueles a quem as novas instituições beneficiariam”.

Momentos assim são difíceis, não só porque geram instabilidades, mas sobretudo porque, na maioria das vezes, são como um pontapé numa já podre porta. Na maioria das vezes, tais situações exigem derramamento de sangue. É daí que surgem as guerras e as revoluções. A história está aí para nos mostrar que isso é uma verdade. Que o digam os estudiosos da Revolução Francesa, que bem sabem o que ela significou: a nova ordem, alicerçada no poder da razão, veio contestar o poder absoluto e divino da monarquia. Que o digam os pesquisadores da Segunda Guerra Mundial, que mudou o centro do poder da Europa para um novo país: os Es­tados Unidos da América.

As reflexões de Nicolau Maquiavel certamente foram úteis para que um conterrâneo seu elaborasse, quase cinco séculos depois, um dos maiores clássicos da literatura universal.

Falo de “O Leopardo” (“Gat­to­pardo”), de Tomasi di Lam­pedusa.

O Gattopardo “bigodudo dançando na fachada do palácio, no frontão das igrejas,
no alto dos chafarizes, nos azulejos das casas” se constituía no símbolo maior da
opulência de uma nobreza que se via ameaçada pela mudança, pelos novos
ventos da República. Posto isso, apresentemos primeiramente o autor, para, em
seguida, abordarmos o conteúdo de seus seminais escritos.

Vale ainda ressaltar uma última reflexão maquiavélica que nos servirá aos propósitos destes escritos:
a de que os príncipes que não percebem os ventos da mudança e não mudam
seu modo de proceder têm um destino certo: a Ruína.

íntegra em: https://www.revistabula.com/552-algo-deve-mudar-para-que-tudo-continue-como-esta/

Zé Maria

Entrementes …

Petrobras Aumenta em 12% Preço da Gasolina

“O repasse do reajuste ao consumidor depende de políticas
comerciais de postos e distribuidoras. Segundo a Petrobras,
o valor de venda da gasolina em suas refinarias equivale a
18% do preço final do produto – o restante é composto por
impostos e ‘margens’ [olha só o Eufemismo para LUCRO]
de distribuidores e revendedores”. [Folha de S.Paulo].

DÓLAR
Comercial = R$ 5,83
Turismo (SP) = R$ 6,04

EURO
Comercial = R$ 6,32
Turismo (SP) = R$ 6,56

LIBRA ESTERLINA
Comercial = R$ 7,21
Turismo (SP) = R$ 7,53

https://www.melhorcambio.com/conversor-de-moeda/dolar/real

Zé Maria

https://t.co/aMiFLPWadY

“Nossa bancada [do PT] apresentou projeto
para prorrogar o Auxílio Emergencial por um ano.
Será essencial para milhões de famílias atravessarem
o período de transição entre o choque do isolamento
e a efetiva retomada da atividade econômica”

Deputado Federal Henrique Fontana (PT=RS)
https://twitter.com/HenriqueFontana/status/1258136475406938113

Quiçá, os Necessitados finalmente recebam,
daqui a um ano, se não morrerem de Fome
ou de Doença na Escadaria de um Hospital …

Nelson

Você tem visto os órgãos da mídia hegemônica a, dada a enorme importância dessas medidas, darem a ênfase necessária às mesmas? Você tem visto os comentaristas desses órgãos, supostos especialistas em tudo, a explicarem, minuciosamente, como deveriam se de jornalismo se tratasse, os impactos devastadores das medidas?

Não. Fazem coberturas en passant. Enquanto isso, o que temos visto é um abundante espetáculo de hipocrisia, cinismo bastante para surgir aos nossos olhos com roupagem de altruísmo.

Empresas que nadam em subsídios, isenções ou mesmo sonegações de impostos a aparecerem doando, doando e doando, no combate à covid-19. Como se sua benerência fosse corriqueira e todas essas benesses que elas têm recebido ou estorquido do Estado não tenham se materializado a partir do corte drástico nos serviços públicos que, por conta disso, hoje estão a falhar, saúde incluída, no combate à mesma doença.

O que podemos constatar é que a palavra solidariedade virou lugar-comum, um clichê para esconder enorme safadeza. A safadeza de seguir com a demolição do Estado brasileiro e, com isso, todo o serviço público, deixando a esmagadora maioria do povo – notadamente aqueles que já têm pouco – totalmente ao desamparo.

Enquanto o povo se defende como pode de uma pandemia perigosa, do desemprego, da fome, dos baixos salários, da pobreza, da miséria, o governo que diz estar salvando o Brasil, de Jair Bolsonaro, mancomunado com 80% a 90% do Congresso Nacional, vão aplicando medidas e reformas que vão aprofundar ainda mais o estado já calamitoso em que se encontra nossa nação.

Mostra de que as brigas entre o Bozo e a dupla Maia/Alcolumbre não passam de “telecatch”, grande marmelada, como dizia meu pai, para iludir, ludibriar, passar a perna em, incautos e inocentes.

Só resta dar os parabéns a Maria Lúcia Fattorelli, mulher guerreira, que não para e segue, ela sim, na luta pra salvar o Brasil e seu povo.

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