Fátima Souza: O delegado que me expulsou

Tempo de leitura: 4 min

O “DONO” DA DELEGACIA DE FRANCO DA ROCHA

Fatima Souza, repórter policial

Aos berros e com dedo em riste o delegado titular Luís Roberto Faria Hellmeister me expulsou da delegacia de Franco da Rocha e ameaçou me dar ordem de prisão por “desacato a autoridade”. O homem parecia insano. Gritou comigo na frente de outros colegas de profissão, do SBT, da Band, da Rede TV, do Jornal Agora… Fumando um cigarro atrás do outro – dentro da delegacia – o Hellmeister ficou “ofendido” com perguntas que fiz durante uma coletiva concedida por ele no sábado, 24 de Setembro de 2011, sobre a detenção do ex-árbitro de futebol e comentarista esportivo, Oscar Godoy.

As quatro e meia da tarde, Godoy atropelou, sobre a faixa de pedestre, a jovem Carolina de 19 anos. O comentarista tinha acabado de sair de uma festa em Franco da Rocha e ao avançar sobre a faixa atropelou a moça, que foi levada, com escoriações e três “galos” na cabeça para o Hospital. Segundo testemunhas Godoy estava totalmente embriagado e “cortou” uma moto e um carro que estavam parados antes da faixa, atropelando a moça, mãe de um bebê de seis meses que, por felicidade estava nos braços do marido dela na hora do acidente.

O marido dela contou que Godoy não conseguia nem falar e nem sair de seu carro após o acidente, de tão embriagado que estava e que pessoas rodearam seu carro para evitar que ele tentasse fugir. Levado para a delegacia Godoy estava visivelmente alterado, precisando do auxilio de policiais militares e depois do próprio delegado Hellmeister para andar, entrar na viatura e subir as escadas da delegacia de Franco da Rocha. Imagens registradas pela TV Record o mostram praticamente cambaleando. Tentei entrevista-lo mas ele não respondeu as minhas perguntas se limitando a fazer um sinal de “positivo” com a mão.

Os policiais militares disseram que ele se recusou a fazer exame no bafômetro e que, por duas vezes levado ao hospital para fornecer sangue para exame de dosagem alcoólica ele se recusou. Ai o Hellmeister, o delegado, conversou com o Godoy e o convenceu a ir, pela terceira vez, ao Hospital. Desta vez ele permitiu que tirassem seu sangue e também tomou uma injeção de glicose na veia para diminuir os efeitos do álcool em seu organismo.

De volta ao distrito o delegado Hellmeister reuniu os jornalistas para uma coletiva. Como as respostas que vinham dele às minhas perguntas não satisfaziam, insisti nos questionamentos. Disse, por exemplo, o delegado que o caso com o Godoy foi uma “fatalidade”. Estranhei a postura da autoridade com esta afirmação e retruquei perguntando se era “fatalidade ou uísque”!

Disse também o delegado que os ferimentos da moça era mínimos e que “nem sequer a roupa dela foi rasgada”, o que me fez retrucar: “neste momento interessa a gravidade dos ferimentos da moça ou o fato do Godoy estar bêbado?, perguntei. Afinal, pouco ou muito ferida, a moça foi atropelada! Também, durante a coletiva, a autoridade disse que o Godoy estava em “baixa velocidade”, e eu questionei: “como o senhor sabe? Já ouviu testemunhas?”.

Hellmeister disse que ainda não tinha ouvido ninguém mas “calculava” que se o Godoy estivesse em alta velocidade a moça teria se machucado muito mais. Insisti dizendo que o Godoy estava visivelmente embriagado e o delegado respondeu que quanto a isso precisava aguardar o exame de sangue que o comentarista tinha acabado de fazer. Também deixou claro o doutor delegado que o Godoy estava muito abatido, chateado e triste e que tinha até “chorado”.

E assim foi… Hellmeister parecia não estar muito contente com minhas perguntas mas esta é a minha função de repórter. Como última pergunta eu disse a ele: “Doutor, o senhor disse que se fosse um “zé ninguém” a imprensa não estaria aqui. E, se fosse um “zé ninguém”, o senhor estaria aqui? Teria saído de casa, na sua folga, para vir atender a ocorrência?

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Ah! Ai a autoridade perdeu a classe! Levantou da cadeira, esticou o dedo em direção ao meu nariz e começou a gritar de forma insana: “a senhora é uma repórter espúria!”… “não vai fazer perguntas capiciosas comigo não”! “se retire da “minha” delegacia!”… “Enquanto eu for delegado aqui você não pisa mais aqui dentro!”… “Fora, prá fora, já prá fora repórter inexperiente”! E foi assim, aos berros que o doutor me expulsou da “sua” delegacia.

Não sem antes dizer que iria me prender: “vou te prender por desacato a autoridade!” berrou o “dono” da delegacia de Franco da Rocha. Um investigador que estava de plantão encostou em mim e pediu para que eu me retirasse porque o delegado estava muito “nervoso”. Nervoso com que? Perguntei… Por eu insistir para chegar a verdade? Por exercer minha profissão? Em que momento “desacatei” o doutor? Sai do Delegacia e fiquei o resto do tempo do lado de fora, aguardando a saída do Godoy que tomava café preto e respondia as perguntas do Hellmeister.

No final das contas o Godoy assinou Boletim de Ocorrência de “lesão corporal leve e embriagues ao volante”. A moça saiu do hospital e, após uma tomografia, ficou constatado que não havia danos no cérebro, graças a Deus. Está com o pescoço e a cabeça inchadas e com um leve problema na coluna que “esticou” muito quando ela foi atropelada pelo Godoy, caindo sobre o carro dele (inclusive, estourando o vidro da Jafira do comentarista) e depois caindo ao chão.

Liberado o Godoy foi para casa. O delegado também. Eu? Fiquei com a impressão de que os outros é que bebem e eu levo a culpa! Mas muito, muito feliz em exercer minha função com dignidade, perguntando o que as pessoas não querem ouvir porque as incomoda.

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Comentários

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Judirica

Na verdade a reporte Fátima Souza, parece não levar muito a serio o seu profissionalismo, sem nenhum pouco de respeito com a vitima familiares, e demais, e ate mesmo pela sua própria profissão, que hoje, é muito desvalorizado, na verdade sua tentativa foi de ser uma “Rachel Sheherazade” da vida… Não só o Delegado, mas qualquer um que estivesse em sua função e tentando esclarecer o ocorrido e tivesse um “engraçadinho”, também perderia a “cabeça”.

cesario

Não é dificil acreditar na reporter, pois isto acontece com frequência.

CoromÉ

Na verdade os jornalistas são muito mal instruidos. Querem falar de todos os assuntos…Uma hora são juristas, médicos, engenheiros etc.,sempre dando palpites e equivocadamente! acho que a formação deles devaria ser o curso de jornalismo como o outro que eles desejam noticiar. São tantas bobagens que falam, principalmente na aréa júridica que dá até dó!
Tudo pela notícia. Custe o que custar! denegrindo a honra e a moral de qualquer um…não importa quem…e depois de jogar um nome na lama…nunca mais, não há qualquer reconsideração.

    cesario

    Então o testemunho dos presentes na hora do acidente, não serve pra nada?

Geysa Guimarães

Nem vou perder tempo com esse delega, é apenas mais um.
Mas a Fátima é ÚNICA. Não vejo coragem assim desde a era Collor, quando uma jornalista perguntou ao então presidente se ele estava com AIDS.
E ela ainda ironiza gostosamente o apuro que passou. Peitar "otoridade" não é mole, tenho conhecimento de causa.
Meu respeito, Fátima!

Marat

Essa questão de querer aparecer na imprensa parecia ser bacaninha nos idos da década de 1970. Será que o delegado, em vez de desfrutar do conforto de seu lar, preferiu ir "trabalhar" para aparecer na TV? Eita sinhozinho Malta!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Mr. Rusty

Hellmeister em alemão é algo com "inferno magistral"…parece que o delegado leva seu nome de família muito a sério

    Norberto

    Vc misturou alemão com inglês, tut mir leid,…..Hell em alemão é claro, brilhante….hell em inglês é inferno.

Elias SP SP

A intolerância tem muitas faces e a arrogância idem. Ambos, jornalista e delegado exacerbaram-se em seus ofícios. Claro que certas perguntas podem ofender. E o delegado demonstrou não ter a ardileza dos políticos. Ele deve odiar o pessoal do CQC. Por outro lado, uma jornalista experiente como Fátima Souza (“repórter policial há mais de 20 anos”) fez uma seqüência de questões, que naquele clima, resultou no óbvio: desinteligência.

    Celso

    Caro Elias,
    No relato da Fátima houve prevaricação explícita do delegado. Nesses casos a intolerância é um dever de qualquer um. Abs.

Julio Silveira

É como parece ser a policia paulista, se o infrator for alguém que possa lhe proporcionar alguns momentos de estrelismo como acesso a mídia, será até seu advogado. Se não, será o diabo para o cidadão.
E seu Godói hem, num dia tomava tiro de um meliante e o cidadão orava pela sua recuperação, noutro o infrator já é o próprio. Também, nesse país em que Senador da republica, ex-governador, também se recusa a ajudar a lei, fazer o que? Só pode nós sobra delegados desse tipo, tipico de republiqueta de banana, que se apropriam do estado como se fosse ele, sequer entendem seus papeis como "servidores públicos".

M.S. Romares

Não foi esse medíocre que levou alguns tiros em um assalto em SP? Hummmmm

CLÁUDIO LUIZ PESSUTI

Parabéns a jornalista, esses delegados e comentaristas esportivos parecem que tem uma relação umbilical, um gosta de puxar o saco do outro!

Alexandre Felix

Até ex juíz de futebol tem status de "otoridade". O que mais me incomoda nestes casos é a tentativa de burlar a verdade. Pô, assume o erro, faz o possível para amenizá-lo e responde por ele, ponto! É trágico que a autoridade policial trate com complacência um bêbado irresponsável e ameace uma jornalista, que só estava fazendo seu trabalho.

Marat

Não é em Franco da Rocha que existe um famoso manicômio? É verdade que pessoas fogem de lá e acreditam ser autoridades? Outro dia apareceu um Napoleão, agora, esse "delegado'…

Leonardo Câmara

Deveria ter ficado na delegacia e fazendo o teu trabalho. Se ele te prende, teria cometido flagrante abuso de autoridade, nisso o processo teria ficado muito mais fácil.

Você não deveria se dar por satisfeita em hipótese nenhuma. Você tem a obrigação moral de denunciá-lo por abuso de autoridade e constrangimento ilegal, no mínimo.

Exerça a tua cidadania, levante dessa cadeira procure um profissional gabaritado denuncie o delegado e entre com um processo contra ele.

Daniel

olha o vídeo ae: http://videos.r7.com/ex-arbitro-oscar-roberto-god

Daniel

Pobre do país onde um delegado age como se fosse advogado do acusado.

Gerson Carneiro

E a Fatima Souza não teve como fazer nem um boletim de ocorrência contra o dono da delegacia.

Na cidade de Salto-SP, no início do ano de 2010, uma senhora estava aguardando dentro da delegacia para fazer boletim de ocorrência de assalto quando um ladrão adentrou à delegacia, tomou a bolsa da mulher que começou a gritar, chegaram a rolar no chão, até o ladrão retirar a bolsa dela e ir embora.

Perguntado porquê não fez nada o delegado respondeu que pensou que fosse briga de marido e mulher.

(?)!

L.Andre

Me perdoem…. Mas este é o relato de uma jornalista que esta muito explicadinho, de uma maneira que nenhum jornalista faz… Logo… Tenho alguma dificuldade para acreditar que este evento tenha se dado assim desta maneira como ela relata. Principalmente por sabermos que jornalistas (principalmente os da grande imprensa) agem com arrogância, prepotência, como se fossem donos da verdade. E que quando são pegos de calças na mão ou são contrariados tratam logo de demonizar aqueles que não abaixam a cabeça pra eles. OBS… Não digo que ela esteja distorcendo fatos como os operadores do PIG sempre fazem… Mas apenas dizendo que tenho dificuldade em crer que tenha sido mesmo como no relato.

    Celso

    André,
    O simples fato do delegado estar presente na delegacia para atender o caso, dar entrevistas e ainda tentar minimizar o acontecido já é um sinal eloquente de que a Fátima relatou tudo como aconteceu. Ela mesmo ao narrar as perguntas e o diálogo com o delegado não deixa de demonstrar ironia com a atitude do "dono da delegacia". Diante de caso tão explícito de proteção ao autor de um "malfeito", ela, como repóter, deve ter sido arrogante. Ainda bem! Excelente jornalista… para sorte nossa.

    Leider_Lincoln

    O fato de ela ser jornalista e portanto, saber noticiar, não tem nada a ver com isso não, né? Você anda lendo muito "jornalista" da Veja & Afins, cidadão… =]

Miguel Baia Bargas

Estudei na mesma sala com a Fátima… Parabéns Fátima… Não se deixe abalar.

alex

Caramba! Sorte da atropelada que a imprensa estava presente, senão o delegado ia fazer ela pagar o carro do godoy.

Fabio

Esse infortúnio foi registrado em vídeo?

Marcio H Silva

Esta lei de desacato a autoridade já devia ter caído a muito tempo. As autoridades brasileiras se acham acima das leis, esquecendo-se que são funcionários públicos mantidos por recolhimento de impostos pagos por nós, o povo. Outra lei que deveria cair é aquela que diz que quem ofender funcionário público na função de sua tividade está sujeto a pena de 2 a 4 anos. Mas não criaram uma lei que puna o funcionário público por mal atendimento ou por não fazer aquilo que sua função exige. No caso a moça é jornalista e está mais ou menos resguardada por exececer esta profissão. Mas se fosse o marido da moça atropelada a interpelar o despreparado delegado, estaria preso. A reporter poderia, no ato, ter ligado de seu celular para a corregedoria da policia civil e ter registrado a ocorrência, poderia não adiantar nada, mas exporia o delegado para seus pares. Hoje temos policiais com o pensamento da época da ditadura.

    marisa

    Esse é o ranço autoritário que a longa ditadura q vivemos deixou e como ainda não passamos o nosso passado à limpo…

    marco

    Isso já existia desde bem antes da ditadura.

    ciro hardt araujo

    De qual ditadura?

    Da ditadura do Getúlio nos anos 1930?
    O Dops é da república oligárquica anterior e foi hipertrofiado já época do Gegê.

    Da democracia censitária da república velha e escravocrata?
    "A questão social é caso de polícia" do último presidente da república velha, Washington Luís, mostra bem o "nível" da democracia.

    É histórico o ranço autoritário que que vem da longuíssima ditadura em que viveu a sociedade brasileira e que só recentemente começamos a tentar superar.

    Estamos falando em tempo histórico.

    Abraço.

    Elias SP SP

    – Você sabe com quem está falando?
    – Com um ser humano igual a mim.

    Infelizmente, o primeiro não vai reagir bem (ainda).

Bandeira

Parabéns Fátima! É o mínimo que posso lhe dizer. Você é show! Bola pra frente.

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