Beto Almeida: 40 anos dos Cieps, projeto destruído pela TV Globo em seus 60 anos e o Brasil de castas

Tempo de leitura: 3 min
Leonel Brizola, duas vezes governador do Rio de Janeiro, acreditava que pela educação se pode transformar uma sociedade desigual, como a brasileira. Daí, o seu ousado projeto dos Cieps (no topo). Embaixo, à esquerda, Darcy Ribeiro, então vice-governador, visita turma de alunos em um Ciep. À direita, Darcy, Brizola, Oscar Niemeyer e Jamil Haddad conversam sobre o projeto. Fotos: Acervos Fundar, Cieps e Agência Senado

Os 40 anos dos CIEPS e os 60 anos da TV Globo

Por Beto Almeida*

”O Brasil é um pais de castasLeonel Brizola

Temos observado nos últimos dias, a exaustiva e nauseante autocomemoração da TV Globo sobre seus 60 anos de vida, na qual é apresentada como democrática e dotada de um jornalismo perfeito e acima de críticas.

Por coincidência, neste mesmo 2025 são comemorados, também, os 40 anos dos CIEPS o mais revolucionário e humanista projeto educacional já edificado no Brasil, destruído por um odioso complô, formado pelo jornalismo da Rede Globo e do Brasil de castas, como denunciou sempre o ex-governador Leonel Brizola, responsável por aquela memorável obra, que contou a as participações geniais de Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer.

Bem mais modestas, as comemorações dos 40 anos dos CIEPS – um projeto destruído pelo Brasil de castas – resumem-se a alguns artigos de analistas e educadores, que sabem dimensionar o tamanho da tragédia cometida contra o povo brasileiro.

Já as narcisistas autocomemorações da TV Globo escondem, por razões óbvias, a responsabilidade desta emissora nas nefastas agressões contra a frágil democracia que tentava reerguer-se dos 21 anos de ditadura cívico-militar, também foi apoiada e celebrada sistematicamente pelas Organizações Globo.

A começar pela participação da empresa de Roberto Marinho na vergonhosa Operação Proconsult, na qual se tentou, em vão, fraudar a vontade eleitoral do povo do Rio de Janeiro, que elegeu Leonel Brizola seu governador em 1982.

E o tamanho da tragédia pode ser medido pelo crescimento de uma violência social que o Estado brasileiro lança contra populações humildes, em sua maioria negra, cujos filhos poderiam estar dela a salvo, se o Programa CIEPS não tivesse sido demolido com o ódio de castas contra o reconhecimento do direito dos pobres à uma educação de qualidade.

Sórdida tarefa que surpreendentemente contou com a participação de segmentos cooptados na esquerda.

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Ao contrário do presidente Lula, que teve a dignidade de pedir esculpas a Brizola e Darcy Ribeiro por não haver apoiado os CIEPS, tanto a Globo como esses segmentos de uma esquerda udenista e moralista, que insultavam o ex-governador como um populista educacional, não são capazes de reconhecer sua participação nesta tragédia brasileira, que levou uma geração de jovens , conhecida como Geração Cieps, a transformar-se em Geracão Crack, dada a falta de perspectivas que, com a destruição daquele revolucionário projeto educacional, pavimentou o caminho para que um contingente enorme de jovens pobres, fosse capturado pelo crime organizado que, hoje, atua com horripilante desenvoltura no estado do Rio de Janeiro.

Os 60 anos da TV Globo são comemorados escondendo uma sucessão de práticas do jornalismo global contra os direitos do povo seja quando foi contra a construção do Sambódromo, contra as Eleições Diretas para Presidente, quando esse mesmo jornalismo atuou para quebrar o monopólio estatal do petróleo e defendeu o desmonte privatizante da Petrobras, ou a antinacional privataria dos governos Collor, Itamar, FHC, Temer e Bolsonaro, que entregou a BR Distribuidora e a Eletrobrás ao capital vadio internacional.

O silêncio das entidades dos jornalistas diante da obrigação de produzir uma leitura crítica do que os 60 anos de TV Globo representaram em agressão e violação dos direitos democráticos dos brasileiros, vem carregado de enigmáticas dúvidas, seja por sugerir alienação, conivência, cooptação ou até, por omissão, uma lamentável colaboração, indicando fuga da responsabilidade, de estimular a sociedade brasileira a necessária reflexão sobre a urgência de construir outro modelo de comunicação, sem a hegemonia tirânica a do mercado, e regido por uma missão informativa e educativa, que só pode ser alcançada com a expansão e qualificação da mídia publica, hoje ainda raquítica no Brasil. Para que tais tragédias não se repitam.

Sim, os 60 anos da TV Globo representam uma coleção de ações contra os mais básicos direitos dos brasileiros, entre eles o de ser culto, educado e bem informado, e contrastam, dolorosamente, com os 40 anos do CIEPS, destruído por ser um sistema educacional humanista, acolhedor para as comunidades humildes, dotado da missão de construir cidadãos que, com diria Paulo Freire, seriam células transformadoras da sociedade, capazes de superar a brutalidade da fome, do racismo, da miséria e da favelização, que segue desafiando o tempo na ainda frágil democracia do Brasil de hoje.

*Beto Almeida é jornalista, Conselheiro da ABI e Diretor da Telesur, Membro da Rede de Artistas e Intelectuais em Defesa da Humanidade.

 

*Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Zé Maria

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Entrevista: MANUELA D’ÁVILA

A CartaCapital, a ex‑deputada elogia o movimento
pelo fim da escala 6×1, defende o exercício de frente
ampla e cobra mobilização popular para além do Planalto

[ Reportagem: Gabriel Andrade | CartaCapital ]

A um ano e meio das urnas de 2026, a esquerda brasileira
ainda procura caminhos para falar de futuro sem ficar
prisioneira das engrenagens do governo Lula.

Reconectar‑se à base trabalhadora, desviar de pautas
caras ao bolsonarismo e disputar a opinião pública para
além das timelines são como tarefas urgentes, aponta
a ex‑deputada Manuela D’Ávila.

Alvo da violência da extrema-direita, Manuela se afastou
da política institucional – não disputa eleições desde
2020 e, em 2024, desfiliou-se do PCdoB. Mas sinaliza
que em breve poderá voltar a integrar um partido.

“Sim, eu pretendo voltar a ter um partido.
É uma coisa da qual sempre me orgulhei,
é a forma de disputa da política mais
avançada.”

O êxito do “Festival Mulheres em Luta”, que reuniu
milhares de participantes e parlamentares de oito
partidos, reforçou sua convicção na construção de
frentes amplas:

“Precisamos articular agendas comuns
que apaguem as barreiras partidárias.”

Nesse esforço, ela enxerga a luta pelo fim da escala 6×1
— movimento que nasceu pelas mães de ex‑balconista
Rick Azevedo, hoje vereador pelo PSOL no Rio — como
“o experimento mais ousado e enraizado na classe
trabalhadora surgido nos últimos tempos”.

“Está ligado a uma agenda de classe e lembra que
a vida não cabe só no trabalho”, diz à CartaCapital.

“Nosso desafio é fazer com que esse tipo de mobilização
caiba na vida do povo trabalhador.”

Confira os destaques da entrevista.

CartaCapital: Como a esquerda chega a 2026?
A melhora na popularidade de Lula e o ajuste no tom
de comunicação serão suficientes para barrar
a extrema‑direita?

Manuela D’Ávila: Precisamos intensificar a capacidade
e a disputa de valores na sociedade, nos apresentarmos
ao povo.
Não dá para deixar tudo nas mãos e sob a responsabilidade do governo.
A extrema-direita disputa em muitos sentidos.
E também não dá para achar que os nossos problemas
são de comunicação, stricto sensu.
É bem mais complexa a nossa questão com as redes
do que um problema de comunicação.
Precisamos fazer a disputa fora do governo. Socialmente.
É essa disputa que precisamos reforçar para aumentar
a nossa chance de vitória em 2026.

CC: Muito se fala sobre a dificuldade da esquerda em
mobilizar a população.
Demandas como o fim da escala 6×1 podem ser um
caminho de reconexão?

MD: O “Vida Além do Trabalho” [VAT] é uma das coisas
mais criativas, ousadas e conectadas com a classe
trabalhadora que surgiram no último período.
Está ligado a uma agenda de classe e, ao mesmo tempo,
pauta a ideia de que a vida não é só trabalho.
Nosso desafio é fazer com que esse tipo de mobilização
caiba na vida do povo trabalhador, porque aqui às vezes
as pessoas me falam assim:
‘Ah, mas na hora de mobilizar não mobilizou’.
Mas será que a nossa expectativa de participação
não é enviesada?
Houve consequências práticas.
O Rick [Azevedo, fundador do movimento] foi eleito,
Lula o incorporou na sua agenda.
Se isso não é consequência, o que é?

CC: O projeto da ‘anistia’ tem avançado via relaxamento
das penas, como você vê essa proposta?
E a possibilidade de ter Bolsonaro livre?

MD: Estamos avançando na percepção de que tentaram
perpetrar um Golpe de Estado, e as pesquisas mostram
que a população tem se colocado progressivamente
contra a ‘anistia’.
Mas, para mim, essa ainda é uma agenda em torno deles.
Diferente do VAT, que é uma agenda em torno do que nós
podemos pensar para o Brasil e para o mundo.
É importante é que a gente não se iluda achando que
a força de Bolsonaro só se materializa com ele anistiado.

CC: Há anos o campo progressista discute formas
de coibir a violência política, sobretudo contra mulheres.
Algo mudou?

MD: A gente não faz o dever de casa.
O parlamento brasileiro jamais puniu efetivamente
um parlamentar que reproduz violência política
de gênero e raça.
Nós sempre banalizamos essa violência nos espaços
institucionais brasileiros.

Um primeiro gesto de compromisso com o fim da violência
política de gênero, com o fim dos conteúdos que
performam o tal machismo publicitário, é que os códigos
de ética dos parlamentos de todos os níveis sejam
revistos.
E que considerem que esse tipo de prática atenta contra
aquilo que o parlamento reconhece como digno de
alguém que ocupa aquela cadeira.

CC: Você liderou recentemente o “Festival Mulheres em Luta”.
Faltava um espaço assim no Brasil?
Qual foi o saldo?

MD: O saldo foi absolutamente positivo.
Nós ouvimos 3 mil mulheres e 350 parlamentares
de oito partidos.
O evento reafirmou a necessidade da articulação
de agendas comuns, que borrem as distâncias impostas
pelos partidos.
Respeitando a organização partidária das mulheres e
as suas escolhas, conseguimos tecer uma agenda
comum – de luta, de reafirmação da importância das
mulheres para que a gente derrote a extrema-direita.

Além disso, ousamos imaginar uma agenda proposta pelas mulheres, uma agenda que enfrente os temas
relacionados ao mundo do trabalho, uma agenda que
passe pela emergência climática.
Reafirma na minha interpretação a necessidade do
exercício dessa frente ampla, e da disputa do conteúdo
da frente ampla, a partir de baixo, dos movimentos
sociais, dos espaços de acúmulo social das mulheres
brasileiras.

CC: Depois de oito eleições e vários mandatos, você
se desfiliou do PCdoB e está sem partido.
Pretende voltar à política institucional?

MD: Uma coisa é o fato de eu ter saído do PCdoB,
outra coisa é o fato de eu não ter concorrido à eleição.
Nunca disse que deixaria de disputar institucionalmente,
apenas renunciei a disputar uma eleição, e por razões
bem claras:
o volume de violência contra mim e a minha família.

Ter partido é uma coisa da qual eu sempre me orgulhei,
acredito que a política partidária é a forma de disputa
da política mais avançada.
Então, sim, eu pretendo voltar a ter um partido.
Não me orgulho de não ter um partido, não faço discurso
anti-partido.
E não relaciono uma coisa a outra.
Ou seja, eu posso me filiar a um partido e não concorrer
à eleição, porque eu acredito na necessidade de
organização política.

https://www.cartacapital.com.br/politica/a-rota-de-manuela-davila-para-religar-a-esquerda-a-base/

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Bernardo

Correto. O CIEP foi uma iniciativa que deveria dar muitos frutos para a educação brasileira e ajudar no combate ás desigualdades. Infelizmente foi torpedeada pelas organizações globo ( e outras publicações) de todas as formas e isso impulsionou e ajudou bastante na transformação de vasta parcela da juventude do RJ em ativos participantes do crime organizado. O resultados estão ai no noticiário cotidiano. As elites do atraso não querem o Brasil para os brasileiros. Hoje estão xingando a viagem de Lula à Rússia e à China.

Ricardo Oliveira

A Rede Globo com suas afiliadas é um poder paralelo ao estado brasileiro servindo a interesses escusos e a ganância da família Marinho, um câncer nacional, a legislação deveria ser aperfeiçoada, pois como uma concessão pública o estado deveria ter mais força pra responsabilizar a empresa por seu dano à sociedade brasileira.

Zé Maria

Enquanto houver Camilas Jaras,
Não Morrerá a Esperança
de Um Outro Mundo Possível
Sócio-Economicamente Justo.
Hasta La Victoria Siempre, Camila!
https://www.instagram.com/reel/DJU53prSCk8/
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Zé Maria

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Contrarreforma Trabalhista da Espanha
pode inspirar Mudança no Brasil

Representante da Maior Central Sindical da Espanha
está em Porto Alegre para Compartilhar as Experiências
Bem Sucedidas do País na Área Trabalhista

[ Reportagem: Luciano Velleda | Sul21 ]

https://sul21.com.br/noticias/geral/2025/05/contrarreforma-trabalhista-da-espanha-pode-inspirar-mudanca-no-brasil/

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