Antonio Lassance: Qual é a de Jaques Wagner?

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Mateus Pereira/Governo da Bahia

Mateus Pereira/Governo da Bahia

Qual é a de Jaques Wagner?

por Antonio Lassance

O Serviço de Proteção ao Ciro em ação

Você já viu aqueles memes que terminam com a frase: “se não estiver interessado, não atrapalhe o negócio dos outros”? Pois é.

Está na hora de alguém que estiver próximo a Jaques Wagner, neste momento, fazer a ele esse encarecido pedido.

Ele se empenhou com tanto afinco para que o PT apoiasse Ciro Gomes, desistindo da candidatura de Lula, que logo veio a dúvida se o nome de Wagner também estaria no SPC.

Só isso explica ver sua defesa insistente de Ciro como a salvação da lavoura.

Talvez seja o caso de alguém também avisar a Wagner, que é candidato ao Senado pela Bahia, que nome no SPC não impede diplomação de eleito. Ele pode ficar tranquilo.

Malgrado sua inadimplência política, Wagner segue disparando sua metralhadora de tiros pela culatra.

Em matéria no jornal Valor (20/8), intitulada “Wagner questiona ‘substituto’ de Lula”, diz o ex-ministro:

“A mim me incomoda ser o substituto imposto por uma farsa. Por isso, defendi que a gente não deveria ter substituto, pra mim a gente levava a candidatura dele com outro partido”.

E segue o raciocínio do Serviço de Proteção ao Ciro:

“A gente diz o tempo todo que [a prisão de Lula] é uma farsa, aí vai botar alguém pra fazer o jogo?… “se o Lula fosse interditado, a gente apoiaria alguém mais próximo do nosso campo de ideias. Hoje seria o Ciro Gomes, por isso saiu aquela história de que eu seria vice do Ciro.”

Ou seja, se é para ser uma farsa, nada melhor do que o PT apoiar Ciro Gomes.

Se é pra fingir, é bom fingir pra valer, com gosto.

Tricotando para Caras

Wagner não é um oportunista. Nunca foi.

Seu papel na campanha está mais para algo que não está dicionarizado, mas que poderíamos chamar de “inoportunista”.

O oportunista é aquele que diz: “se não pode vencê-los, una-se a eles”.

O inoportunista é uma inovação. Seu lema: “se não pode vencê-los, atrapalhe-os”.

Talvez o problema de Wagner ser favoritíssimo em sua campanha ao Senado é que, ao invés de estar preocupado em consolidar seus votos, ele prefere tricotar sobre uma campanha nacional já devidamente registrada, a de Lula, sobre a qual demonstra que não tem mais nada a dizer.

Pior: o faz com a desenvoltura de quem parece estar falando para a revista Caras.

A frase mais constrangedora da entrevista de Wagner ao Valor é a de que Haddad e Manuela “formam disparado a chapa mais glamour”.

Que coisa mais fofa! Para bom entendedor, a alfinetada pode ser traduzida assim: Haddad e Manuela precisam mostrar que não são apenas dois rostinhos bonitos.

Nada como alguém com toda essa experiência política para politizar a campanha em alto nível.

Se eleição sem Lula é fraude, deve-se participar dela?

Justiça seja feita, apesar das plumas, paetês e alfinetes, Wagner coloca uma questão de fundo.

Se o PT diz que eleição sem Lula é fraude, por que participar dela? Excelente pergunta.

Pena que o próprio Wagner tenha dado uma resposta das mais vexatórias. Uma resposta avestruzada, aquela que só esconde a cabeça de chapa.

De fato, o PT diz que “eleição sem Lula é fraude” em manifesto com milhares de assinaturas. Mas, afinal, o que se faz no boxe quando se recebe um golpe abaixo da linha de cintura, mas o juiz ignora o agressor?

O PT quer levantar e continuar a luta. Wagner quer jogar a toalha. O que se faz quando, em uma partida, o juiz expulsa injustamente seu principal jogador?

Para o PT, segue o jogo, com mais garra do que nunca. Wagner quer tirar o time de campo e apoiar outra equipe.

Em 1930, em meio a campanhas que eram reconhecidas pela fraude, o Partido Comunista do Brasil lançou Minervino de Oliveira, operário marmorista, não para legitimar o pleito, mas porque os brasileiros precisavam ver algo diferente, popular e de esquerda em uma eleição que parecia, mais uma vez, ser apenas a repetição de outras tantas – pareciam, mas não foi.

Eleições nunca são favas contadas.

Na ditadura, mesmo sob eleições tuteladas, houve quem achasse que ainda valia a pena votar na oposição, mesmo sendo uma oposição meia boca — o MDB “autêntico”.

As eleições de 1974 abalaram a ditadura. Mostraram que os ventos estavam virando.

A oposição elegeu 16 senadores em 22 dos estados que existiam naquela época.

Anos antes, alguns parlamentares e dirigentes do MDB, desencantados com o massacre eleitoral que a Arena impôs nas primeiras eleições debaixo de ditadura, cogitaram até dissolver o partido, pois se sentiam apenas legitimando o regime. Mas o partido persistiu.

Quando 1974 chegou, um grupo de “autênticos” lançou Ulysses Guimarães como anticandidato.

Barbosa Lima Sobrinho era seu vice. Pois é, faltou um rostinho bonito.

Mas a ideia era que eles fossem inscritos, criticassem abertamente a ditadura, clamassem pelo fim dos atos institucionais, propusessem anistia, exigissem liberdades democráticas e a garantia dos direitos humanos, o voto direto para presidente etc e, ao final, renunciassem.

Ulysses só não cumpriu o último ponto do roteiro combinado. Foi até o fim e não retirou sua candidatura, recebendo apenas 76 votos e sendo derrotado por Ernesto Geisel, eleito ainda com uma esmagadora maioria de 400 votos da Arena, herança da eleição anterior.

Vinte e um deputados do MDB se recusaram a votar e protestaram contra a farsa das eleições indiretas em um colégio eleitoral manietado pela ditadura.

Nenhuma das duas posições assumidas pela oposição legitimou Geisel. Há mais de uma forma de se combater eleições tuteladas e fraudadas, repletas de casuísmos.

Pode-se parar no meio do caminho ou ir até o fim. As duas formas são válidas, legítimas.

Existe uma diferença óbvia entre quem entra em campo, joga o jogo e denuncia farsas e, de outro, quem faz da farsa seu principal jogo.

Participar de um processo denunciando fraudes não significa, de forma alguma, legitimar essas mesmas fraudes.

A pergunta que se deve fazer é qual a melhor maneira de obrigar o arbítrio a se desnudar e, assim, conscientizar o maior número de pessoas possível sobre o que está acontecendo.

Neste momento, a melhor forma de o PT desnudar o arbítrio é usar todos os espaços e mecanismos democráticos possíveis, é botar a boca no trombone, é escalar seus melhores nomes para a campanha — Lula, enquanto for possível, Haddad e Manuela, como seus vices e porta-vozes.

Colocar a viola no saco e dar de ombros, fazer beicinho, fingir que não se está nem aí, entre outras veleidades, é tudo o que os outros querem – os outros incluindo Ciro.

Jaques Wagner sabe muito bem disso. Se ele de fato não gosta de farsas, é bom que não participe de uma delas.

*Antonio Lassance é cientista político

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Comentários

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mario sergio

tem gente incomodada com a ascensão de fernando hadad no PT: jaques, ciro, etc….etc….. simples assim…..

Allan

“se não estiver interessado, não atrapalhe o NEGÓCIO dos outros”

Sobre o atual PT sob a Gleisi poucas frases fizeram tanto sentido.

Katia Andrade

Haddad/MAnu é a única chapa que perde pro segundo turno para Bolsonaro. Eu sei que por esse escandalo do PT-PSB eu vou fugir desse país em 2019!

Camilo Ribeiro

Toda a esquerda, inclusive o pt, apoiar o Ciro Gomes seria muito mais fácil para a globo/judiciário e direita destruir uma só pessoa e candidatura. Seria só um único alvo para a direita. Nenhum político desse país tem a envergadura do lula. Facilmente o judiciário e globo o destruiriam nessa eleição.
As mentiras da lava jato e da globo não convencem mais ninguém e fica claro que no Brasil e no mundo quem não conhecia o Lula agora o conhece graças a jenial9dade do Moro e suas palestras e processos e o xarope do MPF, Dallagnol.
A lava jato não prendeu nenhum psdbista envolvido em corrupção na Petrobras ou em qualquer tipo de corrupção, isto é fato. Fica difícil convencer a opinião pública assim.
Eu vou votar no Lula ou em quem ele indicar.

Pedro

O PT será sempre um partido de transição e não de ajuste de contas. Foram 13 anos de governo petista ora acendendo uma vela pra Deus, ora pro diabo. E o diabo ganhou, no final, mais uma vez. O J. Wagner participou disso tudo e não pode criticar agora. O PT quer retomar o poder a qq preço, mesmo arriscando a nada. Duvido q se o Lula ou mesmo o Haddad vencer as eleições haverá algum ajuste em relação aos golpistas, a não ser diálogos e mais conversas e mais acordos e blá, blá, blá. Esse é o PT.

    nilson de souza lima

    As vezes penso que este velho tem dinheiro aplicado no banco particular do Gerdeu

Ivanisa Teitelroit Martins

“Escucho a la Naturaleza y al hombre con asombro, y copio lo que me enseñan sin pedantería y sin dar a las cosas un sentido que no sé si lo tienen. Ni el poeta ni nadie tienen la clave y el secreto del mundo” Federico Garcia Lorca
Vozes de setores conservadores da sociedade, desde 2015, predominam no discurso institucional, tanto parlamentar como jurídico. Não se pode negar que foi aberta uma via para a formação de um pensamento liberal e conservador diante de um cenário de instabilidade política e econômica tanto nacional quanto Internacional por ausência de um pacto amplo e solidário dos setores democráticos presentes na sociedade e em partidos políticos progressistas e de esquerda, nos movimentos social e sindical.
Há reação e mobilização social diante do curso dos acontecimentos políticos. Não há diálogo consistente nem pactuação em defesa de direitos sociais e constitucionais. Não há diálogo que favoreça uma composição, uma frente ampla em torno de um projeto de Nação que recupere uma política desenvolvimentista e federativa. Um pacto ou uma frente é instituído por lideranças que se afirmam no cenário nacional. Essa formação somente se sustenta se houver uma disposição genuína de diálogo em que o campo progressista e desenvolvimentista se amplie em defesa do interesse público. Ao longo dos últimos anos, pela dificuldade em descentrar o poder legítimo e democrático da pessoa do ex-presidente Lula, houve estagnação na produção de debates e projetos na perspectiva de superar retrocessos provocados por políticas equivocadas e retrógradas.
Cabe a Lula como liderança e estrategista político pensar o país no atual cenário político e não se restringir à política eleitoral. O registro eleitoral reduz sua capacidade de liderar um movimento de recuperação político-social do país.
Como Jacques Wagner há muitos outros que se sentem representados pela alternativa que ele defende.
Avancemos na perspectiva de construir uma alternativa democrática e expressiva no fortalecimento de um projeto de Nação que volte a reunir em torno de uma mesa de negociação lideranças com vocação para repensar a relação entre o Estado e a sociedade civil, as políticas públicas e novos modos de gestão em defesa da recomposição e do fortalecimento das vozes democráticas em nosso país.

Darcy Brasil Rodrigues da Silva

Qual é a do Antonio Lassance? É o porta-voz da tática exclusivista do PT, do “se não formos nós, então ,não será mais ninguém?” Da tática que coloca a hegemonia do PT, os interesses exclusivistas desse partido e de muitos de seus cretinos parlamentares acima da necessidade de derrotar os golpistas? Essas eleições seriam vencidas com alguma facilidade por uma Frente Ampla. O PT seria o principal beneficiado, pois veria levantado um escudo para a sua defesa constituído pelas forças democráticas e populares vitoriosas, comprometidas com um programa de reformas que visasse, entre outras conquistas, converter o Poder Judiciário em um poder republicano, pondo fim à sua manipulação política, ao seu caráter de excessão. Seria eleito alguém confiável, de fora do PT, que pudesse ter o apoio desse partido, concedendo aos seus militantes e dirigentes, tempo para se recompor,oxigênio democrático para sair do cerco jurídico e midiático, reorganizando as suas fileiras em um novo ambiente em que deixaria de ser o alvo principal da perseguição política dos agentes da plutocracia financeira, acumulando forças, retornando às bases de que se divorciou, se refundado, para postular,como partido político, e não como seita de seguidores de um líder populista, novas vitórias, em curto prazo. O objetivo central do processo eleitoral de 2018, em consonância com os interesses maiores do nosso povo, deveria ser derrotar eleitoralmente o golpe, e não eleger um candidato do PT para a presidência. O PT deveria ter colocado esses interesses maiores dos trabalhadores e do povo acima dos seus interesses exclusivistas, e não o fez. Com isso, tornou possível uma vitória dos golpistas nas urnas. E mesmo que Haddad vença, a sua governabilidade será infinitamente pior da que teria um presidente eleito por uma Frente Ampla, nucleada pela esquerda, porque essa Frente tenderia a ter um desempenho muito melhor também nas eleições proporcionais, derrotando os partidos conservadores nessas eleições, produzindo um novo Congresso Nacional, com ums correlação de forças mais favorável ao campo progressista.

    josa

    Darcy,pra isso existe dois turnos,o PT não quer concessão e sim justiça,que Cyro consolide-se num partido,faça ele ter 29% de aceitação na sociedade seja majoritário nos movimentos sociais,não se faz de esquerda assumindo partido,Cyro é Tasso e \lula é realidade

    Arley

    Falou tudo, o PT colocou essa eleição em risco por pura vaidade.

Nelson Nobre

Um outro artigo publicado agora no site, “Globo aplica a lei da mordaça ao Partido dos Trabalhadores”, talvez explique em parte “Qual é a do Jaques Wagner”.

Em lugar nenhum do mundo a imprenssa divulga a agenda do vice ou o programa de um partido diariamente e na impossiblidade de Lula ter uma agenda de campanha, seria um contrassenso até mesmo para um jornal imparcial ou apoiador faze-la, imagine a Globo.

Não adianta Lula ter 51% de votos nas pesquisas e sua candidatura está sob júdice pois já sabemos que em questão de dias ela será cassada pelos tribunais superiores que estão comprometidos com o sistema e com o golpe.

Vem daí a nescessidade urgente de Haddad ser o candidato dos eleitores de Lula e defessor de suas idéias e isso pode explicar a visão de Jaques Wagner e de outros lideres do PT que não adianta esticar a corda de mais, uma hora ela arrebenta e a impugnação da chapa completa é uma das hipóteses. Argumentos não faltaram nas prodigiosas mentes dos nossos juízes.

José Delson

Tenho a quase certeza de quê, se a chapa Lula/Haddad; ou Haddad/Manuela vencer essa eleição presidencial que se avizinha. Governará por pouco tempo, pois sofrerá também, um novo golpe como a Dilma. Muito provavelmente, pela ala fascista do exército.
Talvez seja essa também, embora não o diga, a previsão do ex-governador Jacques Wagner.

    Pedro Wilson

    Isso se conseguir tomar posse.

Marcos Videira

O problema é que Antonio Lassance não quer que Jaques Wagner diga o que pensa sobre o momento político. O PT tem todo o direito de escolher sua estratégia política. Mas as pessoas devem ter o mesmo direito de discordar, inclusive para que depois isso seja avaliado (não houve consenso; houve imposição da direção – o caso de Pernambuco é paradigmático).
A direção do PT está preocupada com a hegemonia do partido (como ficou claro na entrevista dada ao Nassif). Se colocassem o interesse do povo brasileiro em primeiro lugar, aceitariam que o melhor seria apoiar um candidato de outro partido (não precisa ser necessariamente Ciro), porque o antipetismo ainda é muito forte.

Edgar Rocha

O Jacques Wagner é um estrategista. ele só desconsidera que, mesmo que entrasse o Ciro (apoiado pelo PT) não haveria garantias de governabilidade, muito menos certeza nas ações do instável Ciro Gomes. Golpe é golpe. Se o Ciro fosse eleito para reverter o atual processo, não há garantias de cumprimento do Estado democrático de Direito na defesa de seu mandato democrático. O impedimento de Dilma e a prisão de Lula deixam claro que a direita não aceitará mais um não como resposta, nem mesmo um meio termo. É tudo ou nada.
Para mim, não se trata mais de se tomar atitudes mais acertadas para se ganhar a eleição, muito menos diminuir estragos da investida golpista. O que se deve agora é revelar os inimigos da democracia, forçar responsabilizações.
O judiciário tem de ser exposto. Ele e os meios de comunicação. É dentro destes setores que se encontram o núcleo canceroso do golpe. O resto é metástase das estratégias de controle social. Pela primeira vez na História do Brasil, há uma chance de se conscientizar o Brasil e o mundo das forças perniciosas que jamais saíram do poder neste país, sempre se safando, incólumes de todos os processos violentos de suspensão da democracia no país. Se Lula conseguir esta proeza, terá valido muito mais do que tirar o Brasil do mapa da fome. Pena não ter planejado isto enquanto estava no governo.

    Morvan

    Boa noite. Com certeza. A hora de expor a classe dominada lacaia e vendilhã é agora.

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