Só rindo: Jornal “derruba” a Bolsa por causa de vantagem de Dilma

Tempo de leitura: 3 min

O resultado que interessava saiu na capa; o que não interessava “derrubou” a Bolsa

28/05/2014

Ibope: a mídia despreza a preferência da Bahia por Dilma

Enquanto pesquisa mostra 50% das intenções de voto em Dilma, jornal baiano noticia queda de índice da Bolsa de Valores.

da Carta Maior

Pesquisas são como o vento: passam e mudam de direção rapidamente, a depender das condições de pressão e temperatura. Sondagens eleitorais, ademais da volatilidade, pertencem ao ferramental de campanha dos diferentes candidatos. Pertencem ao paiol dos candidatos na tentativa de conquistar o território do eleitor.

O estardalhaço na divulgação, ou, ao contrário, o degredo nas notas de rodapé, ilustram esse manejo focado no interesse próprio ao qual estão alinhados os diferentes veículos.

Veja-se dois casos recentes de quase clandestinidade imposta a resultados colhidos em rincões distintos do país.

Nesta terça-feira, o Ibope atestou na Bahia uma avalanche de intenções de voto que beneficiam a Presidenta Dilma: 50% dos eleitores baianos afirmam que pretendem referendar a sua reeleição em outubro próximo.

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O que sobrou para Aécio?

Sobraram 12% das intenções dos eleitores; a Eduardo Campos, pouco mais que a metade disso: 7%. Juntos, os dois principais opositores de Dilma tem 19% dos votos baianos.

Não estamos falando de qualquer refrega anunciada.

A Bahia é o quarto maior colégio eleitoral do país e o principal celeiro de votos do Nordeste.

O Estado conta com 10.117.415 eleitores registrados. Perde apenas para São Paulo, com 31,7 milhões; Minas Gerais, 15,1 milhões; e Rio de Janeiro, 12 milhões.

Nas disputas presidenciais recentes, é bem verdade, o conservadorismo nunca foi muito prestigiado pelos baianos, que em 2002 deram 55% dos votos a Lula, contra Serra.

Em 2010, o mesmo tucano seria esfarelado novamente nas urnas da Bahia: perdeu por uma diferença de 2,8 milhões de votos para Dilma.

Tudo indicava, porém, que agora seria diferente.

Para isso o PSDB montou um palanque indisponível nas vezes anteriores.

Pior que isso.

Desta vez, o PT não tem candidatura forte ao governo do Estado. E inimigos históricos, figadais, da oligarquia baiana uniram-se para dar palanque ao tucano no Estado.

O ex-governador Paulo Souto (DEM) é o candidato do conservadorismo ao Palácio de Ondina; o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB), se uniu a ele para a vaga no Senado; o tripé se completa com um apoio direto da mídia: Joacy Góes, ex-diretor da Tribuna da Bahia, é o vice de Souto, pelo PSDB.

Para arrematar, a chapa tem no prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), bem avaliado na capital, um cabo eleitoral engajadíssimo.

Aí vem a sondagem do Ibope desta semana, contratada pelo Correio da Bahia, para mostrar que a coisa agora vai.

E dá 50%, ou seja, o equivalente a cinco milhões de votos para Dilma; e pouco mais de um milhão para Aécio.

Projetado, com as ressalvas que merecem pesquisas, representa uma diferença de quase 4 milhões de votos, substancialmente mais gorda que a de 2010, de 2,8 milhões de votos, contra Serra.

Isso acontece em um pleito casado em que Paulo Souto, que já dirigiu a Bahia por duas vezes, vence seus concorrentes com larga margem de votos na mesma enquete divulgada na 3ª feira.

O conjunto explica as contidas notas dispensadas ao resultado baiano pela mídia nacional. Bem como o tom catastrófico com que a notícia foi veiculada nas páginas do contratante:

‘Pesquisa Ibope/CORREIO faz estatais caírem e derruba a Bolsa de Valores
‘O principal índice da Bolsa de Valores brasileira passou a cair mais de 1% nesta terça-feira (27) por conta da desvalorização das ações das empresas estatais. Analistas indicam que o movimento é um reflexo da divulgação da primeira pesquisa Ibope/CORREIO mostrando que Dilma Rousseff (PT) tem 50% da preferência do eleitorado baiano’, disse o Correio, na edição desta 3ª feira.

Temeroso de um contágio nordestino, talvez, o ostracismo nacional escancara o viés implícito no estardalhaço, quando o resultado sugere uma colheita adversa ao governo.

Isso acontece em relação ao amigável Ibope.

Seria ingenuidade, portanto, pretender que o resultado de outra enquete, desta feita realizada em Minas Gerais por um instituto menos complacente, o Vox Populi, conseguisse furar a blindagem da emissão conservadora.

E não é dizer que o dado seja menos que explosivo.

Em Minas, segundo a sondagem Voz Populi divulgada nesta 2ª feira, a vantagem do ex-governador Aécio Neves sobre Dilma é de modestos dois pontos: 22% para o tucano e 20% para a Presidenta, com Fernando Pimentel (PT) vencendo o pleito estadual no primeiro turno.

Vale, de qualquer forma, a ressalva inicial: os resultados podem mudar, mas o viés seletivo na divulgação das pesquisas, esse só deve se aprofundar.

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