Exclusivo: Com Marco Aurélio Mello, Viomundo desembarca em Montreal, no Canadá

Tempo de leitura: 3 min

 MOntreal chegada

por Marco Aurélio Mello, de Montreal, Canadá, especial para o Viomundo

Se você clicou no link e entrou aqui esperando uma cobertura jornalística padrão do Fórum Social Mundial, esqueça!

Venho sim como jornalista, grato pelo espaço que o Viomundo abriu para eu contar um pouco das minhas impressões de viagem. No entanto, sou brasileiro e como tal tenho aquele desejo enorme de “dar certo”, de mimetizar na paisagem, de parecer um igual e, ao mesmo tempo, tentar fazer a diferença. Meio esquizofrênico, não é mesmo?

É um comportamento familiar ao nosso povo, que quer agradar e por isso tenta fazer tudo certinho desde o início. Para aproveitar uma metáfora que tem tudo a ver com o nosso calendário Olímpico, de cara, queimei a largada.

Ainda no aeroporto de Guarulhos tentei embarcar com um óleo de banho na minha bagagem de mão. A embalagem tinha 200 ml, mas o máximo permitido é 100 ml. Passei pelo raio-x, fui barrado e tive que me desfazer do produto lá mesmo. Foi pro lixo. Paciência, vitória de virada é mais gostoso, pensei.

Cheguei a Montreal um dia antes da abertura do Fórum Social Mundial e já tenho histórias para contar. Sonolento, desci em Toronto, primeira parada.

Achei que a exemplo do Brasil, que a gente sempre critica, só encontraria minha bagagem no destino. Nada disso, aqui, você pega a mala na esteira e despacha sozinho. Ou você acha que tem peão sobrando para trocar a mala de aeronave para você?

Resultado: pulei a parte da mala e quando cheguei na ala doméstica fui informado que teria que voltar para para a ala internacional, para buscar a bagagem esquecida.

Lá fui eu com um agente panamenho da companhia aérea cujo trabalho é este: amparar os perdidos, como eu. Amparar é uma ironia, já que era ele quem caminhava lentamente, com ajuda de uma bengala.

Não pense que ficou barato, não. Ao passar de novo de uma ala a outra fui desviado para o “pente fino”, a revista. Fiquei torcendo para ser chamado por uma agente mulher. Por que será que nós latinos sempre achamos que podemos jogar um charme de Antonio Bandeiras para cima delas? Tonto.

Dei azar. Quem me chamou foi um agente com cara de mariner, desses que fazem musculação e ficam impassíveis que nem aqueles caras dos filmes de Hollywood.

Logo que coloquei a mala no trilho, disposto a abrir minha intimidade, mostrar cueca, meia furada, etc. ele ordenou: se afaste da mala! Sorry? Se afaste da mala, man! Ih, pesou, pensei.

Ele consultou meus papéis e perguntou o que eu fazia aqui neste país. Disse que vinha para o Fórum. Que Fórum? Expliquei. Falei que discutiríamos questões políticas e sociais. Foi quando ele viu minha identidade de jornalista. Aí virei o jogo. Esta nossa profissão, por mais sofrida que seja, ainda tem um certo glamour, hehehe.

O agente quis saber como é que fui deixar meu país durante os Jogos Olímpicos, quando o que não falta é notícia. Pois é, respondi, minha especialidade não é esporte, é política. E esporte não tem política? Ri. Claro que tem. Você venceu, disse eu ao oficial. Ele sorriu e disse: não precisa abrir, pode seguir em frente. Divirta-se no Canadá!

Encontrei esse jeitão rude no primeiro contato em vários outros pontos do trajeto. Mas bastou sorrir e abrir o coração que o gelo se desfez. Se a fórmula vai funcionar até o fim a gente vai ver. O fato é que estou aqui para “encontrar a minha turma”. Gente que quer mudar o mundo para melhor. Fazer a diferença. E estou certo de que se cada um de nós der o primeiro passo nessa direção facilita.

Olhando para o Brasil aqui de fora vejo que o espírito de solidariedade recíproca de nós brasileiros, um pelo outro, está muito envenenado. Um país dividido como o nosso não constrói pontes. É uma pena, porque aqui fora somos exaltados atualmente. No Canadá, por exemplo, basta dizer que sou brasileiro e um largo sorriso se abre. Muitos arriscam inclusive algumas palavras em português.

Minha primeira impressão do Canadá? Aqui há tolerância. Em todo lugar há muita diversidade étnica, de gênero, multiculturalismo. Não podiam ter escolhido lugar melhor para este Fórum. Bem-vindos à nossa cobertura e boa viagem!


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Comentários

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Cris

Na França também nos recebem muito bem …. Sorrisos, tentativas de comunicação em português, paixão por nossa música e curiosidade por nossa cultura .. Senti orgulho de ser brasileira, mas triste pela divisão que enfrentamos. Bom trabalho e estou ligada esperando informações… ;)

Conceição Lemes

Ali, quem vc pensa que é este Marco Aurélio Mello? Ele é jornalista, nada a ver com o Mello que vc está confundindo. abs

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