Nelice Pompeu: É tempo de virar a página, últimos fatos me fizeram antecipar desfiliação do PSOL
Tempo de leitura: 4 minPor Nelice Pompeu
É tempo de virar a página: professora Nelice Pompeu se desfilia do PSOL
É tempo de virar a página!
Sobre ciclos que se encerram!
Por Nelice Pompeu*
Poderia começar com reticências, mas será um ponto final, fim de um ciclo que se encerra!
E em respeito às tantas pessoas que, como eu, acreditaram que o PSOL fosse um partido diferente, de transformação das práticas políticas, alinhado às causas populares e que as mulheres tivessem vez e voz, informo que tomei a decisão de me desfiliar do partido, que se tornou uma “colcha de retalhos” de várias correntes, que disputam o poder permanentemente entre si, invisibilizando a militância independente.
Tenho consciência que o momento pode não ser o mais adequado para tomar essa decisão, por ser um ano decisivo, com eleições importantes, e alguns podem distorcer os fatos e alegar que a motivação é politica e eleitoral.
Porém, os últimos acontecimentos, o assédio e o monitoramento constantes e outras situações me forçaram a antecipar a minha desfiliação do PSOL.
Para mim é uma grande decepção, pois eu estava disposta a somar, aprender e ajudar a construir o partido!
O PSOL precisa ir além do discurso e disputas entre correntes, porém o fato determinante que levou à minha desfiliação não é o “modus operandi” do partido e sim a omissão frente às denúncias que formalizei na comissão de ética.
No PSOL, que tem como uma das principais bandeiras o protagonismo feminino, infelizmente senti na pele que é um partido que não combate com vigor o machismo e o assédio.
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A humanidade e a camaradagem que deveria prevalecer entre companheiros e companheiras de um mesmo partido deram lugar à indiferença e à falta de empatia!
A sororidade feminina e a luta das mulheres deve ir muito além dos cards, estampas de camisetas e mensagens de autoajuda! Quando uma mulher grita por ajuda, ela não pode ser ignorada!
Em fevereiro deste ano, na véspera do Dia Internacional da Mulher, eu precisei renunciar à coordenação do setorial da educação do PSOL, após episódio de deboche e persistente ataque de um dos denunciados à comissão de ética do partido.
Foi muito dolorido decidir me retirar de um setorial, dentro da minha área de atuação, sabendo que isso só fortalece a lógica machista que acaba excluindo as mulheres dos espaços, rompendo a solidariedade entre nós!
Perante todos as situações que passei e após uma longa reflexão, decidi também abrir mão da minha candidatura neste ano, mesmo tendo recebido muito apoio para disputar as eleições.
Passei por momentos difíceis e percebi que a prioridade neste momento é me reconstruir como ser humano e como mulher. Estou cansada de julgamentos, ataques e tentativas de invadir a minha privacidade e de sofrer violência política de gênero.
Resisti o máximo que pude pra esperar o resultado do processo que instaurei na comissão de ética, mas ele está paralisado devido às saídas de militantes do partido. Esperei o que pude para que houvesse Justiça não só para mim mas para muitas mulheres, mas com minha saída provavelmente este processo se encerra.
É decepcionante ver que com isso, inveterados machistas e assediadores, próximos de mandatos, talvez irão vencer.
Resisti até agora, porque sempre foi por outras mulheres. Chega de ficar em silêncio e a omissão também é uma violência contra a mulher.
Hoje vejo com muita tristeza, um partido rachado, discursos distantes das práticas, muitas desfiliações, militantes insatisfeitos e muita resistência em assumir o apoio ao Lula e ao Haddad, em um momento que a esquerda deveria se unir, para derrotar a barbárie e o bolsonarismo, bem como impedir que o tucanistão assuma novamente o Governo em São Paulo!
O fato de eu assumir publicamente o meu apoio à campanha de Lula e Haddad trouxe algumas retaliações, que se intensificaram quando o Movimento Escolas em Luta (em que participo) declarou apoio a uma chapa na eleição pela direção do Sindicato dos Servidores Municipais.
Os fatos aqui narrados são apenas uma parte de todo sofrimento que passo, já que há muitas outras situações que não foram expostas aqui.
Diante de todo o exposto se tornou inviável a minha permanência no partido, principalmente após a perda repentina de uma companheira que era um dos únicos elos que eu mantinha com o PSOL.
Não é mais possível conviver no mesmo espaço político, com pessoas que traíram a educação pública, machistas, misóginos e assediadores! Basta!
Amadureci diante das dificuldades que passei e isso serviu como intenso aprendizado.
Não sou dona da razão, mas só esperava ser respeitada em minhas posições.
Reconheço que ainda há valorosos companheiros e companheiras no partido e, de forma sincera e fraterna, agradeço toda a solidariedade que recebi.
Queria abraçar todos e todas, independentemente de correntes e partidos e dizer muito obrigado.
Agora é momento de virar a página. Saio do PSOL de cabeça erguida, jamais vou abandonar a luta por justiça para as mulheres, no combate ao machismo, misoginia e ao assédio. E se isso é ser rebelde, eu sou!
Continuo minha militância de mais de trinta anos na educação e estarei sempre na defesa da escola pública, gratuita, laica e de qualidade.
Nossa luta é legitima e necessária! Informo também que, por enquanto, não entrarei em nenhum outro partido e que continuarei a atuar no Movimento Escolas em Luta, espaço plural na defesa da educação.
Não podemos vacilar, a luta continua e agora temos que reconstruir nosso país, superar retrocessos e recuperar direitos.
É tempo de ir para as ruas apoiar a esperança de novos tempos e eleger LULA, HADDAD e nossas candidatas a deputada federal e estadual.
Nos encontramos na luta!
*Nelice Pompeu é professora da rede pública municipal da cidade de São Paulo. Integra o Movimento Escolas em Luta
Nelice Pompeu
Professora da rede pública municipal da cidade de São Paulo. Integra o Movimento Escolas em Luta.
Comentários
Ibsen Marques.
Em vários sites de esquerda pessoas intolerantes condenam as lutas por identidade tentando homogeneizar a classe trabalhadora como se a luta de classes todo um todo compacto. É o proto-fascismo trabestido de esquerda. Há lutas enviesadas por interesses privados? Claro que há, mas essas pessoas fazem uma generalização indevida da luta das mulheres, dos pretos e dos lgbts por liberdade, equidade, reconhecimento e respeito.
Da diretora e da extrema direita sempre soubemos o que esperar, mas é doloroso verificar esses comportamentos dentro da esquerda. Numa má comparação é como o cristão que defende o ódio e o armamento.
Sempre fui um pessimista, mas agora, no final da jornada, estou especialmente cético quanto ao que o futuro reserva a meus filhos, netos e a todos os seres que habitam o planeta senão ao próprio planeta.
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