Eliara Santana: Assassinato não é “briga política”; imprensa tem obrigação de se posicionar contra a agenda ultra-violenta do bolsonarismo

Tempo de leitura: 4 min
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Por Eliara Santana

Os assassinatos brutais de Marcelo Duarte, Dom Phillips e Bruno Pereira são resultado do comportamento reprovável e violento de Jair Bolsonaro, que dá o seu aval para os crimes de ódio no país inteiro, incentiva e autoriza o ataque de garimpeiros e grileiros e feminicídio. Fotos: Reprodução de redes sociais

Por Eliara Santana*

Ontem, sábado, 9 de julho de 2022, Marcelo Duarte comemorava seu aniversário de 50 anos em Foz do Iguaçu (PR).

O tema era Lula, a esperança de volta ao Brasil com as eleições; balões vermelhos enfeitavam o salão.

Marcelo era guarda municipal, líder do PT na cidade e tinha quatro filhos, sendo um deles uma neném de um mês.

Todos estavam felizes. Do lado de fora do clube onde acontecia a festa, um homem desconhecido vociferava que “aqui é Bolsonaro, seus fdp”. Ele era o policial penal federal Jorge Jose da Rocha Guaranho. Marcelo foi lá fora ver o que estava acontecendo.

O desconhecido, que estava no carro com uma mulher, foi embora, mas disse que voltaria. Assim o fez.

Ele buscou uma arma, voltou e deu dois tiros em Marcelo. O aniversariante, que era guarda municipal, tinha buscado sua arma no carro, já temendo as ameaças.

Quando foi alvejado, Marcelo ainda conseguiu dar cinco tiros em Jorge, impedindo o bolsonarista de atirar em mais pessoas.

Marcelo morreu na hora.

Hoje, vejo jornais e sites repercutindo e falando em “briga política”, discussão entre os dois, que eram “rivais”. Assassinato não é briga política – e crime de ódio não é briga de rivais.

Também ontem, eu estava em um bar com minha mãe, nos incomodamos com a fumaça do cigarro que vinha da mesa ao lado – nada dissemos, colocamos a máscara –, mas o homem da mesa começou a vociferar que ia jogar o cigarro fora e que os petistas são todos vagabundos e não gostam de trabalhar. Nos mudamos de mesa.

Há um mês, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram barbaramente assassinados na Amazônia.

Infelizmente, exemplos como esses se espalham e vão aumentar até outubro, porque o presidente da República e seus apoiadores incentivam esse tipo de comportamento.

Jair Bolsonaro, com seu comportamento absolutamente reprovável e violento dá o aval para os crimes de ódio no país inteiro, incentiva e autoriza o ataque de garimpeiros e grileiros, o feminicídio.

O bolsonarismo, infelizmente, fraturou ainda mais a sociedade brasileira e vai permanecer quando nos livrarmos de Bolsonaro.

E exatamente por essa fratura é que a imprensa brasileira não pode, em suas manchetes e chamadas, fingir que tudo equivale a “briga política”, “polarização”. Não é.

O Brasil não será o mesmo depois de Jair Bolsonaro. Isso, me parece, já é bastante claro e visível por boa parte da sociedade brasileira.

No poder, o presidente vindo do baixo clero agenciou uma série de comportamentos e pensamentos que se mantinham à margem do debate social e político – eram aqueles modos que as pessoas tinham vergonha de deixar às claras, temiam punição.

Mas isso mudou, e mudou muito, como revelou a pesquisa “A cara da Democracia”, realizada pelo INCT e coordenada pelo cientista político Leonardo Avritzer.

A pesquisa mostrou que expressiva parcela da população brasileira não tem mais vergonha em se autodeclarar de extrema-direita, aumentou a parcela dos que são favoráveis à pena de morte e caiu a parcela dos que são favoráveis à proibição de armas de fogo; além disso, a maioria apoia militarização das escolas públicas.

Apenas para citar alguns dados. E como já percebemos, a escalada de violência e a propagação do discurso de ódio estão a pleno vapor.

E aqui chego ao ponto do título deste artigo: o jornalismo terá um papel preponderante para rechaçar essa pauta violenta, um papel essencial na exposição desse modus operandi do bolsonarismo.

Caberá à imprensa brasileira, mais do nunca, deixar escancarado para a sociedade o grau bélico e violento do presidente da República e dos seus apoiadores.

E para isso, é preciso deixar a hipocrisia da falsa equivalência de lado. É preciso que a imprensa se posicione de verdade.

Não estamos vivendo uma disputa política, estamos vivendo uma luta entre civilização e barbárie.

Não é simples disputa política – é crime de ódio, é violência escancarada, é intolerância absoluta.

Vão legitimar que bolsonaristas ensandecidos saiam por aí matando quem se atrever a usar vermelho e a fazer festa com o tema “Lula2022”?

Desde 2015/2016, com a movimentação pelo golpe, a imprensa legitimou a perseguição às pessoas de esquerda, especialmente os petistas.

Por muito tempo, não se podia usar vermelho impunemente. Isso vai voltar? Será tolerado de novo?

A imprensa precisa dar nomes aos bois: falar em assassinato, perseguição, crime de ódio contra petistas, denunciar a máquina de ódio, escancarar o incentivo à violência, gritar contra o assédio, colocar o feminicídio nas manchetes – é disso que se trata.

De novo: assassinato não é simples briga política. Não é possível reduzir os fatos à mera ideia de polarização.

Não há polarização, o que existe é um grupo extremamente violento que se sente autorizado a fazer o que bem entende. Pessoas como Jorge, que se sentiu autorizado a invadir uma festa de aniversário e matar o aniversariante petista.

A imprensa precisa parar de tratar os dois campos como “polarizados” – não há polarização, há incentivo puro e simples à violência bruta por parte do governo Bolsonaro.

Sobretudo, a imprensa precisa sepultar de vez essa construção perniciosa de uma “equivalência” entre Jair e Lula.

Essa falsa equivalência entre os dois, como se fizessem parte de espectros opostos no mesmo campo democrático, não pode estar nos jornais, nas TVs, nos rádios.

Os dois não se equivalem, fim!

Bolsonaro é representante do que existe de mais retrógrado e violento na sociedade. Lula é um democrata.

E a imprensa não pode compactuar com essa fraude informativa (tomo aqui a expressão usada pela querida Cristina Serra) de que os dois estão “polarizando” o campo político.

A democracia brasileira sairá muito machucada do episódio bolsonarista. Cabe à imprensa deixar de ser conivente e assumir seu papel para ajudar a reconstruí-la.

*Eliara Santana é jornalista, doutora em Linguística e Língua Portuguesa e pesquisadora do Observatório das Eleições e da Democracia e pesquisadora colaboradora do IEL/Unicamp. Coordenou o curso “Desinformação, Letramento Midiático e Democracia no Brasil”, promovido pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), e foi co-coordenadora do I Ciclo de Letramento Midiático do PPGL da Universidade Federal do Rio Grande

Leia também:

Pedro dos Anjos: Bolsonaro, afinal, o que é #ELESIM?

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Eliara Santana

Eliara Santana é jornalista e doutora em Linguística e Língua Portuguesa e pesquisadora associada do Centro de Lógica, Epistemologia e Historia da Ciência (CLE) da Unicamp, desenvolvendo pesquisa sobre ecossistema de desinformação e letramento midiático.


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Comentários

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abelardo

Esperar que a Grande Mídia golpista irresponsável se posicione sobre o assassinato de um militante do PT, ainda que covardemente por fanatismo, por intolerância e por flagrante instinto criminoso é quase uma piada. Impressões digitais diversas estão impregnadas na arma do assassino bolsonarista. Tem de tudo um pouco: tem da imprensa, dos três poderes, dos militares, dos policiais, dos milicianos e do fanatismo doentio e incontrolável de pessoas sem controle e sem qualquer responsabilidade com a paz, com a vida social, com as leis, com o respeito, com a adversidade e com a vida pacifica e alegre da população brasileira. Mesmo que não seja pela justiça humana, que sejam, todos e todas, rigidamente condenados e penalizados pela justiça divina.

Zé Maria

.
A Globo não cita o que LULA falou sobre o Crime de Ódio contra ele e o PT.

A Megera Platinada só publica textos de Bolsonaro e de Outros Candidatos.
.
.
Então (re)publicaremos:

https://racismoambiental.net.br/wp-content/uploads/2022/07/twitter-lula-assassinato-710×1024.jpg

“Nosso companheiro Marcelo Arruda comemorava
o seu aniversário de 50 anos com a família e amigos,
em paz, em Foz do Iguaçu.

Filiado ao Partido dos Trabalhadores, sua festa tinha
como tema o PT e a esperança no futuro; com a alegria
de um pai que acabou de ter mais uma filha.”
https://bit.ly/3OVvpAN

“Uma pessoa, por intolerância, ameaçou e depois atirou nele,
que se defendeu e evitou uma tragédia maior.

Duas famílias perderam seus pais.
Filhos ficaram órfãos, inclusive os do agressor.

Meus sentimentos e solidariedade aos familiares,
amigos e companheiros de Marcelo Arruda.”

“Também peço compreensão e solidariedade
com os familiares de José da Rocha Guaranho,
que perderam um pai e um marido para um
discurso de ódio estimulado por um presidente
irresponsável.”

“Pelos relatos que tenho, Guaranho não ouviu os apelos
de sua família para que seguisse com a sua vida.

Precisamos de democracia, diálogo, tolerância e paz.”

https://twitter.com/LULAoficial/status/1546138348808556545
https://twitter.com/LULAoficial/status/1546138351245434881
https://twitter.com/LULAoficial/status/1546138353267007488
https://twitter.com/LULAoficial/status/1546138354860933120

https://twitter.com/i/status/1546519535091650565

“Hoje homenageamos Marcelo Arruda antes da
reunião do movimento #VamosJuntosPeloBrasil.”

https://twitter.com/LulaOficial/status/1546519535091650565
.
“O povo brasileiro é um Povo de Paz.
E precisamos recuperar a Normalidade no nosso País.
O Brasil precisa de Cuidado, de Educação,
de um Governo que trabalhe pelo Bem de Todos.
Boa Segunda e Força para encararmos a Semana.”

https://twitter.com/LulaOficial/status/1546446424589606914
.

emerson57

Descubra de que lado eles estão

Yahoo dia 11/07 as 09:30 hs :

Assuntos do momento
1.Vacina contra Covid
2.Patrícia Poeta
3.Floriculturas
4.Gato Larry
5.Filmes na Amazon Prime
6.Agenda do fim de semana
7.Cafeteira elétrica
8.Dominique Honnebier
9.GP da Áustria
10.Luana Piovani

Zé Maria

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“Este domingo amanheceu de luto após o assassinato brutal
do companheiro Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu.
Ele foi assassinado durante sua festa de aniversário de 50 anos.
Minha solidariedade aos filhos, esposa e amigos.
Esse não é o Brasil que conhecemos e amamos.”

Professor Fernando Haddad (PT=SP)
Candidato ao Governo Estadual de SP
https://twitter.com/Haddad_Fernando/status/1546156113481048068
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“Um bolsonarista invadiu a festa de aniversário de Marcelo Arruda,
militante do PT em Foz do Iguaçu. Atirou e assassinou Marcelo.
A violência política incentivada por Bolsonaro deixa um rastro de sangue
pelo Brasil. Intolerável!
Minha solidariedade à família, amigos e companheiros”
https://twitter.com/SamiaBomfim/status/1546129800091385858
.
. .

Zé Maria

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Os Veículos de Comunicação do Grupo Globo
estão se referindo ao Guarda Municipal Vítima
do Assassino Bolsonarista, em Foz do Iguaçu,
como ‘tesoureiro do PT’ – assim, sem ao menos
especificar que o era do Diretório Municipal do
Partido, nem nada.

Poderia tê-lo qualificado pela profissão, Guarda
Municipal, ou como Diretor do Sindicato dos
Municipários Local, ou simplesmente Petista.

Conhecendo os Assessores Globais da Força-
Tarefa da Lava-Jato de Curitiba, desconfia-se
que estejam preparando uma Armação para
o Caso, até porque há Precedentes Notórios,
como aquele Jorro de Cédulas do Esgoto JN.
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.

    Zé Maria

    “Estão se reunindo pensando em qual
    fake news vão inventar pra distorcer o fato.
    Não duvido nada surgir um boato …
    Fizeram a mesma coisa quando mataram a Marielle.
    É só esperar mais um pouco que vai surgir esse papinho.”
    https://twitter.com/lucares5/status/1546191275552120833

    Zé Maria

    https://pbs.twimg.com/media/FXYSLV1WQAEHJMa?format=jpg

    Delegada que ontem havia assumido o caso do Crime de Ódio Político
    Praticado pelo seguidor de Bolsonaro contra o Militante Petista em Foz,
    já publicou ataques contra Lula e o PT nas redes sociais.

    https://jc.ne10.uol.com.br/colunas/jamildo/2022/07/15041921-delegada-que-investiga-morte-de-petista-em-foz-do-iguacu-publicou-contra-lula-e-pt.html

    Iane Cardoso foi substituída hoje pela Delegada Camila Cecconello,
    Chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
    A decisão da troca do Comando da Investigação do Assassinato foi
    tomada pela Secretaria de Segurança Pública do Governo do Paraná.

    A primeira entrevista da Delegada Iane à Imprensa gerou protestos
    no Partido dos Trabalhadores porque ela disse que o assassino era
    “vítima” [SIC].
    (Fonte: CNN)

    Alguns Crápulas da Mídia Porca estão sugerindo que o Assassino Bolsonarista estava fazendo Vigilância [Ronda !?!?]* nos arredores do Prédio da Associação
    de Servidores onde ocorria a Festa de Aniversário da Vítima Assassinada.

    *[Armado dentro do próprio Carro com a Esposa e o Filho Bebê de 45 dias !?!?]
    .
    .

    Zé Maria

    .
    O Atual Governador do Paraná é Bolsonarista e Candidato à Reeleição
    com Apoio Explícito do Miliciano-Mor do Planalto que é Candidato à
    Reeleição ao Cargo de Presidente da República do braZil.

    Segundo o Secretário Estadual de Segurança Pública do Paraná, a
    Delegada Iane Cardoso, Bolsonarista que foi substituída por outra,
    continuará na Equipe de investigação do Crime Fatal de Ódio Político
    que foi Cometido pelo Seguidor de Bolsonaro contra o Dirigente Petista.

    Conhecendo as Práticas ilegais Contumazes dos Governos Bolsonaristas,
    essa Investigação tem tudo para ser Manipulada e Redirecionada Contra
    Lula e o PT ou, no mínimo, para acobertar o Seguidor de Bolsonaro Assassino.
    .

Zé Maria

#BolsonarismoMATA
“Não são dois lados da mesma moeda.
O bolsonarismo prega a morte, a tortura
e leva a assassinatos políticos.
Definitivamente não é uma escolha difícil.”
Guilherme Boulos
Candidato a Deputado Federal=SP

Zé Maria

.
.
“Com base nos depoimentos que circulam até agora,
o que houve foi um assassinato, crime de ódio político
—típico de fanáticos fascistas, estimulados por um líder
obcecado por mortes e por armas.
O líder da nação legitima e banaliza esse tipo de ação.”

Rosana Pinheiro-Machado
Graduada em Ciências Sociais (UFRGS)
Mestre e Doutora em Antropologia Social (UFRGS/UCL)
Professora de Desenvolvimento Internacional do
Department of Social and Policy Sciences na
University of Bath e Fellow da Higher Education Academy
United Kingdom [UK] of Great Britain and Northern Ireland
https://www.escavador.com/sobre/8953412/rosana-pinheiro-machado
.
https://twitter.com/_pinheira/status/1546194666692943873
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Zé Maria

É Absolutamente Inaceitável!

Ainda há Veículos da tal Imprensa Tradicional que têm a desfaçatez
de chamar de ‘mortes por discussão política’ [SIC] um Evidente
Homicídio Premeditado – obviamente do lado do Assassino – e a
Legítima Defesa da Vítima que ainda teve tempo de responder.

Milicianos, Bandidos, Assassinos! Foi essa Escória Fascista que Moro,
DD e a Mídia Porca colocaram no Poder Executivo Central em Brasília!

Polarização Pôrra Nenhuma! Crime Bárbaro por Motivo Torpe!

Jornalistas Serviçais dos Patrões! Não se façam de Desentendid@s!
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