Roberto Moraes: Importar plataformas faz parte do desmonte do setor naval brasileiro

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O fechamento dos estaleiros, as plataformas vindas do exterior e a volta do retrocesso neoliberal da dependência consentida e subordinada

por Roberto Moraes*, em seu blog, sugerido por FrancoAtirador

No Brasil havia em 2015, um total de 32 estaleiros marítimos instalados e em funcionamento, sendo 15 estaleiros no ERJ. Depois do ERJ, se destacam as bases de construção naval, na região Sul com 7 estaleiros e o Nordeste com 5 estaleiros.

No total 10 estados possuem bases de construção naval o que evidencia a expansão do setor pelo país, na década entre 2005 e 2015, quando a grande maioria atendia a demanda de embarcações ligadas aos serviços de apoio à exploração de petróleo offshore.

Em junho de 2014, o secretário estadual de Desenvolvimento do ERJ, Júlio Bueno disse, em seminário promovido pela Firjan e pelo Sindicato Nacional da Indústria Naval e Offshore (Sinaval): “saímos de sete mil empregos no país e quatro mil no Rio para 78 mil postos de trabalho, sendo 30 mil apenas em nosso estado”.

Estes dados fazem parte das investigações da minha tese de doutoramento no PPFH-UERJ — em fase de redação — que analisa o que passei a chamar da Tríade: Petróleo–Porto–Indústria Naval, como um dos eixos do Desenvolvimento Nacional.

Como praxe adotei durante toda a fase de pesquisas e investigações parte daquilo que vem sendo levantado e analisado.

Assim, eu tenho trazido para este espaço contribuições para um debate mais amplo, entendendo que não faz sentido esperar a conclusão de uma tese para que as contribuições da pesquisa sirvam para além das discussões acadêmicas.

Assim, no dia 26 de julho passado este blog trouxe aqui um texto que analisava os problemas da tríade e o desemprego na indústria naval, diante da fase de colapso do “ciclo petro-econômico”. Na ocasião já se falava na perda de mais de 12 mil empregos em Niterói e quase 40 mil em todo o país.

Pois bem, é com este propósito, que ao ler na mídia, a matéria do jornalista Nicola Pamplona, da Folha de São Paulo com o título “Petrobras quer trazer do exterior plataforma para área do pré-sal”, depois comentada no blog Conversa Afiada e Tijolaço, respectivamente, dos jornalistas Paulo Henrique Amorim e Fernando Brito, eu resolvi ampliar o debate do tema, como é também praxe na mídia alternativa e de atuação colaborativa.

Assim, há que se lamentar a decisão da direção da nossa estatal do petróleo, seguindo orientação deste governo Temerário, em acabar com todo o resquício que ainda possa existir, da ideia de construção e adensamento da cadeia produtiva da indústria naval nacional.

Ela foi fruto da ideia e do planejamento de uma política de conteúdo nacional, sustentada no que eu chamo do nosso modelo tupiniquim Tríade: Petróleo-Porto-Indústria Naval. Esta tríade tem nesta “mercadoria especial” que é o petróleo, um enorme poder de arrasto sobre a demanda dos sistemas portuários e do sistema marítimo, em que está inclusa a indústria naval com os estaleiros.

Os criminosos desvios de recursos verificados nestes projetos devem ser rigorosamente punidos. Porém, os projetos nacionais de engenharia e tecnologia do conjunto da tríade não podem ser achatados e transformados em terra arrasada. Isto é um crime maior que o primeiro que lhe deu origem.

Ao observar no mapa abaixo como espacialmente a indústria naval foi se espalhando pelo litoral brasileiro, se tem uma breve noção do porte do atual desastre, decorrentes das medidas que estão se sucedendo nos três e interligados setores.

A partir deste desmonte, também como cadeia – só que destrutiva e não produtiva -, se destituiu uma presidenta que sonhou e ousou tentar impedir novos esquemas e assim corrigir os desvios.

Porém, como a emenda e o soneto fazem parte de um único e uníssono coro, agora se enterra de vez o objetivo de fazer o Brasil competir nesta complexa cadeia de valor global.

Em todo o mundo (especialmente os mais capitalistas) a indústria naval é fortemente apoiada e sustentada por políticas e regulação pública, não apenas através de demandas em embarcações para as suas marinhas e seu comércio internacional, mas de forte financiamento e proteção.

Desde 2013/2014 eu insistia no debate de que em meio aos erros e às confusões, se travava um debate e uma disputa entre dois projetos e visões: de um lado o social nacional desenvolvimentismo e de outro, a neo-dependência liberal de mercado. O golpe tirou o poder de um lado e entregou ao outro, sem votos.

Enfim, em nosso Brasil, restou ao povo o desemprego, enquanto a nação retorna ao retrocesso neoliberal da dependência consentida e subordinada de outrora. Haverá resistências!

* Engenheiro, professor do Instituto Federal Fluminense e pesquisador do Programa de Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).


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Comentários

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Edson do Nordeste

Essa Tríade finaciaria o desenvolvimento das Forças Armadas, É os caras também não ESTÃO nem aí! Nacionalismo mandou lembrança! É muito triste! Que país esse!

Nelson

O governo do PT adotou uma postura nacionalista demais, na visão do Sistema de Poder que domina os EUA. Para mim, foi uma postura ainda tímida, deveria ter sido bem mais incisiva. Entretanto, nem essa postura tímida era tolerada por tal sistema.

Então, esse sistema planejou o golpe, nos mínimos detalhes, e contou com a anuência dos vende-pátria costumeiros, para liquidar, em definitivo, com qualquer resquício de soberania que ainda resta a nosso país.

    FrancoAtirador

    .
    .
    Pois é, meu caro Nelson.

    Mas o Chávez Promoveu a Participação Popular Direta na Venezuela e radicalizou

    o Nacionalismo, a Exemplo dos Comandantes Che e Fidel na Década de Sessenta.

    E apesar da Destruição da Economia Venezuelana Causada pela Guerra Geopolítica,

    Declarada pelos Iúnáit Stêits of America em Acordo com a Arábia Saudita na OPEP,

    Nicolás Maduro Continua no Poder, Anos Após a Morte de Chávez, para o Desgosto

    de Ariel Palacios, Correspondente da “Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP)”*,

    Comandada Direto da Flórida, por Cubanos Dissidentes e Membros do Tea Party,

    Sociedad Interamericana de Prensa
    3511 NW, 91st Avenue
    Doral, FL 33172 USA

    http://en.sipiapa.org/contenidos/home.html
    .
    .

Mauricio

Cambada de vendilhões, mereciam a pena de morte por traição à pátria.

    FrancoAtirador

    .
    .
    Prezado Mauricio.

    É a Seqüência de Crimes de Lesa-Pátria
    Praticados no Governo de FHC (PSDB)

    que foram interrompidos com a Vitória
    de Lula sobre Serra nas Eleições de 2002.

    E os Tucanos Entreguistas Criminosos,
    retornando pela via Anti-Democrática

    e com o Monopólio das Comunicações,
    estão com uma Ganância por Alienação

    do Patrimônio Público às Corporações
    Estrangeiras do Norte, como NANHDP.

    Paredão Nessa Gentalha é Muito Pouco.
    Tinham de ser Deportados pra Maiâmi.

    O Serra, por exemplo, se for Banido
    da Vida Política, Morre de Fome aqui.
    .
    .

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