Repórter Brasil: Trabalho escravo na cadeia da Pernambucanas

Tempo de leitura: 11 min

02/04/2011
Trabalho escravo é encontrado na cadeia da Pernambucanas

Grupo de imigrantes sul-americanos submetidos a condições análogas à escravidão foi flagrado costurando blusas da coleção Outono-Inverno da Argonaut, marca jovem da centenária rede varejista Pernambucanas

por Bianca Pyl*, Repórter Brasil
São Paulo (SP) – A casa branca, localizada em uma rua tranquila da Zona Norte da capital paulista, não levantava suspeita. Dentro dela, no entanto, 16 pessoas vindas da Bolívia viviam e eram explorados em condições de escravidão contemporânea na fabricação de roupas.

O grupo costurava blusas da coleção Outono-Inverno da Argonaut, marca jovem da tradicional Pernambucanas, no momento em que auditores fiscais da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP) chegaram ao local.

Entre as vítimas, dois irmãos com 16 e 17 anos de idade e uma mulher com deficiência cognitiva. No local, a fiscalização constatou a degradação do ambiente, jornada exaustiva de trabalho e servidão por dívida, três traços que caracterizam o trabalho análogo ao de escravo -crime previsto no Art. 149 do Código Penal. As vítimas trabalham mais de 60 horas semanais para receber, em média, salário de R$ 400 mensais.

Descobriu-se que a encomenda das peças havia sido feita pela intermediária Dorbyn Fashion Ltda. – um entre os mais de 500 fornecedores da centenária rede de lojas. O flagrante, registrado em 14 de março, motivou o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) a cobrar cerca de R$ 2,3 milhões da Pernambucanas, soma dos valores referentes a autuações com a notificação para recolhimento do Fundo de Garantia pelo Tempo de Serviço (FGTS).

A Repórter Brasil acompanhou a operação comandada pela SRTE/SP. O cenário encontrado de condições degradantes apresentava diversos riscos à saúde e segurança das vítimas. Não há janelas ou qualquer tipo de ventilação no espaço apertado e quente. A insalubridade, a precariedade e o improviso marcavam tanto os ambientes de trabalho quanto os de descanso.

Alimentos eram armazenados de forma irregular: além da bandeja de iogurte dentro da gaveta, a inspeção se deparou com carnes estragadas. A sofrível estrutura não permitia nem banhos com água quente.

As jornadas de trabalho eram exaustivas, sem pagamento de horas extras. Os “salários” não alcançavam o salário mínimo e muito menos o piso da categoria. Também foram recolhidas anotações referentes a descontos irregulares, artifício comum dentro do esquema de servidão por dívida. As passagens de ônibus para o Brasil eram “pagas” com trabalho intenso de costura.

Na chegada da equipe de fiscalização, os trabalhadores deixaram transparecer a apreensão. “Medo de ter que ir embora sem nada”, disse um deles. Um costureiro interrompe o depoimento do outro e poucos falam abertamente sobre as condições em que vivem. Mesmo assim, Joana** relatou que “quanto mais rápido se trabalha, mais se pode ganhar”. Ela e seus companheiros de trabalho não tinham, contudo, acesso ao controle de sua produção e nem quanto receberia por peça. As jovens nunca viram as roupas que produzem na loja e nunca compraram nada nas lojas Pernambucanas.

A primeira pergunta que Joana** fez às autoridades presentes veio de chofre: “Eu posso estudar?”. A jovem sempre alimentou o sonho de cursar – em sentido inverso percorrido por muitos brasileiros que estudam na Bolívia para se tornar médicos – uma faculdade de Medicina no Brasil.

Ela contou já ter feito o curso preparatório em seu país. A jovem chegara em São Paulo (SP) apenas um mês antes do flagrante. Um táxi teria sido encarregado de trazê-la da rodoviária diretamente até a discreta oficina. Na cidade de El Alto, vizinha à capital La Paz, Joana** consertava telefones celulares.

A investigação que chegou até o local começou em agosto do ano passado, quando outra oficina que empregava imigrantes sem documentos e em condições degradantes foi flagrada costurando vestidos Vanguard, marca feminina adulta da Pernambucanas – a Repórter Brasil também acompanhou esta ação e publicará, em breve, outra reportagem com mais detalhes da operação passada.

A partir de então, auditores e auditoras da SRTE/SP decidiram aprofundar as investigações para verificar a eventual repetição das ocorrências constatadas na confecção das peças da Vanguard em outras oficinas irregulares e para coletar subsídios adicionais para embasar as conclusões oficiais.

A fiscalização teve acesso ao pedido de compra do lote (2.748 peças) do “casaco longo moletom – tema Romance Gótico”, da Argonaut, que os libertados costuravam no momento da ação. As Pernambucanas pagariam R$ 33,50 por cada peça à Dorbyn e venderia a mesma por R$ 79,90. O valor pago pela Dorbyn por cada blusa à oficina de costura  era de R$ 4,30.

Riscos

Em dois cômodos pequenos, pelo menos oito máquinas estavam sendo utilizadas. Uma das paredes apresentava rachaduras. No teto, a cobertura de plástico estava cedendo. A única janela dava acesso a um dos quartos e estava fechada, com uma costureira trabalhando de costas. Esse ambiente era frequentado por três crianças.

Os auditores da área de Saúde e Segurança do Trabalho interditaram a oficina porque havia grave e iminente risco à vida dos trabalhadores. A lista de problemas começava com as instalações elétricas irregulares, com toda a fiação exposta.

“Nós verificamos o uso excessivo de benjamins – prática que não é permitida porque causa uma sobretensão muito grande. E o risco de curto e, consequentemente, de incêndios era alto”, explicou Rodrigo Vieira Vaz.

Não havia extintor de incêndio ou rota de fugas no local. Os tecidos, que são materiais inflamáveis, ficam espalhados pelo chão da oficina, dificultando até a circulação das pessoas.

A iluminação do ambiente era imprópria e, segundo avaliação dos técnicos, poderia acarretar em problemas na visão dos costureiros e costureiras. A Norma Regulamentadora 17 (NR-17) prevê iluminação específica para este tipo de trabalho.

As cadeiras utilizadas não tinham nenhuma regulagem: eram bancos sem encostos. Até mesmo uma caixa de papelão servia para assento de um dos trabalhadores. O uso de cadeiras inadequadas pode acarretar problemas na coluna ou músculo-esquelético.

A exposição a lesões e acidentes era latente. As correias das máquinas não tinham proteção alguma. “A correia pega velocidade com o acionamento das máquinas e pode até decepar um dedo”, exemplifica Teresinha Aparecida Dias Ramos, médica e auditora fiscal que fez parte da equipe de operação. Para ela, a probabilidade de proliferação de doenças era muito grande por conta da falta de higiene e de ventilação.

A fiscalização encontrou alimentos vencidos na geladeira da oficina. A cozinha era suja e minúscula.  Não havia mesas ou cadeiras para que os empregados pudessem fazer as refeições com um mínimo de conforto.

As instalações sanitárias também eram sujas e insuficientes para a quantidade de costureiros e costureiras. Os banheiros exalavam odor forte e asqueroso. O único chuveiro elétrico estava desligado por causa da sobrecarga de energia elétrica da oficina, com fiações cortadas, o que forçava os imigrantes a encarar o temido banho de água fria. O empregador não fornecia roupas de cama e toalhas de banho.

A limpeza dos dormitórios, das instalações sanitárias e demais dependências era feita pelos próprios trabalhadores, conforme escala fixada na porta de um dos banheiros. Os alojamentos eram dois dormitórios divididos por guarda-roupas de modo a criar quatro espaços diferentes, que eram divididos entre todos os trabalhadores, inclusive os casais com filhos. Eram três casais, sendo um com dois filhos e os outros com uma filha cada.

Intermediária

Durante a fiscalização, dois funcionários da Dorbyn – Rogério Luís Rodrigues de Freitas, gerente administrativo, e Maria Xavier dos Santos, encarregada de acabamento das peças produzidas – foram até a oficina para verificar como estava a produção dos bolivianos.

De acordo com levantamento da fiscalização, outras 16 oficinas informais produziram peças para a Dorbyn entre janeiro de 2010 e fevereiro de 2011. Apenas a oficina da Zona Norte flagrada com trabalho escravo produziu 49,8 mil peças ao longo do período. Na prática, portanto, foi o ponto de costura que mais forneceu para a Dorbyn durante o intervalo pesquisado.

O boliviano que se apresentou como dono da oficina vistoriada disse ter conhecido a Dorbyn, no mercado desde 1979, por meio de folhetos distribuídos na Praça Kantuta – ponto de encontro de imigrantes bolivianos no centro da metrópole. Ele foi até o bairro do Brás, onde fica a sede da intermediária, e se acertou com o gerente Rogério. Passou, então, a abastecer a empresa em 2009. Segundo depoimentos, a pequena oficina costura com exclusividade para a Dorbyn pelo menos desde outubro de 2010.

À Repórter Brasil, Fábio Khouri, um dos sócios da Dorbyn, declarou que o número de oficinas subcontratadas varia de acordo com a época. O empresário não quis informar quantos funcionários a Dorbyn mantém registrados nem quantas encomendas que recebem se referem diretamente a Pernambucanas. Disse ainda que o fornecimento da oficina fiscalizada não era contínuo e que o mesmo dependia da disponibilidade do oficinista.

“Assim que ele [dono da oficina] regularizar a situação, abrir firma e registrar os funcionários, a Dorbyn continuará a ´mandar´ serviço, dependendo da necessidade”, completou. Segundo Fábio, a Dorbyn “de forma alguma” conhecia a situação dos trabalhadores. “Havia alguma semanas que não íamos lá”, colocou, sem antes reiterar que costuma auditar os parceiros que contrata para verificar em que condições as peças estão sendo produzidas.

Responsabilização

Na avaliação dos integrantes da SRTE/SP, a responsabilidade trabalhista é da Pernambucanas. Foram lavrados 41 autos contra a empresa – cada auto se refere a uma irregularidade constatada.

Segundo Luís Alexandre Faria, que coordenou a operação, a Pernambucanas não pode alegar que apenas vende – e não produz – peças de vestuário.”Os atos diretivos e empresariais são da Pernambucanas. É a empresa que determina a tendência, faz o controle de qualidade de cada peça, estipula o preço e o prazo que as peças devem ser entregues”, acrescentou. Por causa desse papel determinante na produção, foi possível identificar a subordinação reticular dos outros envolvidos frente a Pernambucanas.

A produção pulverizada das peças dos grandes magazines propicia agilidade na entrega e transfere os custos empresariais e trabalhistas para a ponta da cadeia produtiva. “Há uma demanda de consumo muito grande que deu espaço ao chamado fast fashion”, complementou Luís. O que ocorre é uma espécie de concorrência ao revés – se uma determinada oficina não aceita produzir peças a um determinado valor, outra certamente aceitará.

Após a inspeção na referida oficina de costura, a equipe da SRTE/SP também realizou auditoria contábil e in loco na sede da empresa Arthur Lundgren Tecidos S.A – Casas Pernambucanas. A partir desse trabalho, foi mapeada a cadeia produtiva das peças comercializadas pela rede – desde fornecedoras diretas , passando por confecções e chegando até as oficinas de costura quarteirizadas, inclusive com a discriminação de onde se localizam.

O resultado da primeira etapa de investigações demonstra, segundo a auditoria, que o processo de produção (costura) das roupas das Pernambucanas ocorre com total precarização das condições contratuais dos trabalhadores e dos ambientes de trabalho, resultando no desrespeito aos mais básicos e elementares direitos dos trabalhadores.

O flagrante na oficina da vez não deve ser entendido como caso isolado, como advertem os membros da SRTE/SP. Na visão apresentada por eles, as empresas interpostas, chamadas pela Pernambucanas de fornecedoras, funcionam, na realidade, como verdadeiras células de produção da empresa, todas interligadas em rede por contratos simulando prestação de serviço, mas que, na realidade, encobertam “nítida relação de emprego entre todos os obreiros das empresas interpostas e a empresa autuada”.

Em reunião com os auditores, Eduardo Tosta de Sá Humberg, gerente da Pernambucanas, afirmou não reconhecer a responsabilidade da empresa pelos trabalhadores encontrados em situação degradante, “tendo em vista que a empresa tão-somente faria a compra de peças de vestuário de seus fornecedores”. Antes de selecionar um fornecedor, a empresa alega que faz uma criteriosa análise da capacidade produtiva.

Entretanto, nenhum costureiro aparece admitido no livro de registros da Dorbyn, apreendido para averiguação. Há apenas um encarregado, um ajudante geral, um assistente financeiro, um auxiliar de limpeza, um auxiliar de manutenção, dois balconistas e um encarregado de expedição.

“A Dorbyn nada agrega ao processo produtivo das peças comercializadas e encomendadas pela Pernambucanas”, conforme o relatório da fiscalização. A empresa não possui nem trabalhadores da área de criação, nem costureiros, já que toda a produção é “quarteirizada” para oficinas de costura. Na avaliação da SRTE/SP, a Dorbyn não possui capacidade produtiva para a produção das peças encomendadas pela Pernambucanas.

Entre abril e junho de 2010, a Dorbyn vendeu 4,9 mil peças para diversos compradores, enquanto que para a Pernambucanas as vendas foram de quase 50 mil peças no total (gráfico acima). “Isso mostra a dependência da Dorbyn em relação a Pernambucanas”, explicou Luís Alexandre.

De acordo com a auditoria, a intermediária confeccionou 141,5 mil peças de vestuário, de janeiro de 2010 a fevereiro deste ano, que foram vendidas para as lojas Pernambucanas. O “fornecimento” não exigiu a contratação formal de nenhuma costureira ou costureiro em uma atividade econômica que, aliás, é conhecida pela intensiva utilização de mão de obra.

O relatório final problematiza a questão. “Esta forma de superexploração da força de trabalho, negando aos trabalhadores direitos laborais e previdenciários mínimos, dá-se com intuito de maximizar os lucros, atingindo uma redução do preço dos produtos, caracterizando uma vantagem indevida no mercado e levando à concorrência desleal”.

Após a fiscalização, os libertados receberam a guia para sacar três parcelas do Seguro Desemprego para o Trabalhador Resgatado e a Carteira de Trabalho e da Previdência Social (CTPS) provisória, válida por 90 dias.

As vítimas receberam entre R$ 1,5 mil e R$ 6 mil de verbas rescisórias. Os valores foram pagos pela Dorbyn, totalizando R$ 44,8 mil. O total calculado pelos contadores da Pernambucanas e auditores da SRTE/SP, porém, era de R$ 173 mil. “A Dorbyn se recusou a pagar saldos de salários e outras remunerações anteriores”, explica a auditora Giuliana Cassiano.

O relatório será encaminhado à Secretária de Inspeção do Trabalho (SIT) do MTE para que seja aberto procedimento administrativo que poderá culminar com a inclusão da Pernambucanas na “lista suja” do trabalho escravo.

O magazine, que completou 100 anos em 2008, recebeu todos os autos de infração e uma notificação do MTE na última quinta-feira (31) para adotar imediatamente providências como: sanar todas as irregularidades relatadas nos autos; promover a imediata anotação dos contratos de Trabalho nas CTPS dos trabalhadores – para isso, o MTE deve tornar sem efeito as anotações já realizadas pela Dorbyn; realizar o pagamento de todas as verbas de natureza trabalhista não quitadas com os trabalhadores até o momento – inclusive salários, horas extras, entre outros; garantir alojamento decente em imóveis apropriados, com um trabalhador por quarto e uma família por imóvel; e garantir o retorno daqueles que desejarem voltar à Bolívia.

A Pernambucanas não respondeu às questões enviadas pela reportagem sobre o caso. A empresa se limitou a dizer que enviou nota em que se vale de ata da audiência realizada no último dia 15 de março, acompanhada pela Repórter Brasil, na qual afirmou – por meio de seu advogado – não estar “reconhecendo qualquer responsabilidade pelas ocorrências relatadas e que não mantém relação alguma com a oficina implicada”.

O magazine – que possui 16 mil funcionários próprios, alocados em 610 filiais espalhadas pelo país – ressaltou que segue “política de responsabilidade social que inclui o compromisso de todos os fornecedores com o respeito à legislação trabalhista e aos direitos do trabalhador”. Informou ainda que uma cláusula no contrato de compra de mercadorias em que determina que o fornecedor “não poderá se envolver com, ou apoiar, a utilização de trabalho infantil, trabalho forçado ou quaisquer outras formas de exploração ilícita de mão de obra ou, ainda, outras atividades que, de maneira direta ou indireta, atinjam os princípios básicos da dignidade humana”.

Tráfico

Foram apreendidos ainda sete cadernos com anotações de dívidas dos empregados com o dono da oficina. Há desde marcações referentes à compra de shampoo até o desconto do custo da passagem da Bolívia ao Brasil. Uma das vítimas chegou a receber R$ 238 por um mês inteiro de trabalho. Um dos cadernos também mostra outro tipo de redução no salário em virtude de peças com defeitos devolvidas pela empresa.

Muitos elementos indicam que os trabalhadores foram vítimas de tráfico de pessoas. Para Juliano Lobão, do Comitê Interinstitucional de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, diversos fatores permitem tal apontamento. Entre eles, a recepção e a hospedagem dos trabalhadores pelo dono da oficina. “Isso por si só já caracteriza o crime de tráfico de pessoas, conforme definição do Protocolo de Palermo, ratificada pelo Decreto Nacional nº 5.948, de 26 de Outubro de 2006, que institui a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas”.

Além disso, foram encontrados documentos pessoais com descontos de valores ligados à hospedagem, à alimentação e a outros gastos. “Isso reforça ainda mais a exploração a qual os trabalhadores estavam submetidos. Não podemos ainda ignorar as péssimas condições encontradas no local de trabalho,e as condições de higiene igualmente ruins do local como um todo”, detalha Juliano, que acompanhou a ação. A SRTE/SP encaminhará os cadernos à Polícia Federal (PF) para apuração dos indícios.

Paralelamente, a Defensoria Pública da União (DPU) está encaminhando pedido de regularização migratória das vítimas com base na Resolução Normativa nº 93, de 21/12/2010, do Conselho Nacional de Imigração (CNIg). A resolução prevê permanência provisória no país, pelo prazo de um ano, de estrangeiros submetidos ao tráfico de pessoas.

“Quem decide sobre o pedido é o Ministério da Justiça. O Comitê Interinstitucional de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Estado de São Paulo, que reúne várias instituições públicas com atuação no caso, também será acionado para os devidos encaminhamentos, a depender das demandas individuais de cada uma das vítimas”, relata a defensora Fabiana Galera Severo, que está cuidando do caso.

A equipe de fiscalização foi composta pelo Comitê Interestadual de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (ligado à Secretaria Estadual de Justiça de São Paulo), pela Comissão Municipal de Direitos Humanos, MTE, PF e Ministério Público do Trabalho (MPT). Contudo, os dois últimos órgãos abandonaram a ação quando ela ainda estava em curso.

De acordo com a assessoria de imprensa da Superintendência Regional da PF em São Paulo, os três agentes que participaram da ação tinham a função “única e exclusiva” de dar apoio e fazer a proteção policial. Diante do questionamento da reportagem sobre a motivação para o abandono da ação em andamento, o assessor de imprensa do órgão se limitou a dizer que as investigações sobre o caso ainda estão internamente em andamento e a posição será apresentada assim que houver algo mais conclusivo.

O MPT também informou, por meio da assessoria de imprensa, que a investigação e procedimentos administrativos ainda estão em curso e somente após a conclusão é que o órgão se pronunciaria.

*A jornalista da Repórter Brasil acompanhou a fiscalização da SRTE/SP como parte dos compromissos assumidos no Pacto Contra a Precarização e pelo Emprego e Trabalho Decentes em São Paulo – Cadeia Produtiva das Confecções.

**Nomes fictícios para que a identidade dos trabalhadores seja protegida.

Leia aqui o artigo do Leonardo Sakamoto, do blog do Sakamoto, sobre o desrespeito aos direitos fundamentais na usina de Jirau.


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Comentários

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Edson

Sou empresário do segmento de confecções e fico estarrecido com tamanha falta de ética dessas grandes redes de varejo. Adotam um estilo selvagem de relacionamento comercial onde abusam do poder econômico que têm. É muito comum usarem de sua força para fecharem contratos com confeccionistas onde só tem cláusulas favoráveis a elas e rotineiramente viram as costas se recusando a receberem pedidos após confeccionados, tentando obter dessa forma preços mais baixos ainda e fazendo com que muitos pequenos empresários fechem seus negócios com enormes prejuízos, muitas vezes indo a falência. Quem é do meio sabe muito bem disso. Os consumidores precisam saber que quando frequentam essas lojas acabam por serem coniventes com essa vergonha. Responsabilidade social é apenas um chavão que utilizam por que está na moda, mas na verdade atuam como verdadeiros gafanhotos, utilizando táticas destrutivas ao invés de boa parceria.
Quando vejos essas redes na mídia, muitas vezes em horário nobre, sinto nojo porque sei o quanto são asquerosos.
Batalho para trabalhar honestamente e vejo que essa é uma missão cada dia mais difícil. Infelizmente a desonestidade e a falta de ética estão vencendo.

Lousan

Se todos os encargos cabíveis e salários decentes fossem pagos a todos os brasileiros (e até bolivianos, peruanos e quem mais vier) a quanto sairia esta camiseta, blusa, ou sei la o que? ao invés de 79,99, poderia ser 179,99? O pobre salariado que vive com 1 salário mínimo compraria uma blusa dessas pros seus 2, 3, 4 filhos?
Costuma-se ver só um lado da moeda, o lado de quem é o 'explorado' pela elite, mas como vamos nos vestir, comer e viver com R$ 600 em uma cidade como são paulo que para colocar um litro de gasolina (graças a Petrobras 'publica' do PT) ou andar ensardinado no metro (graças ao Metro 'privatizado' do PSDB) se paga R$ 2,90 (isso para mostrar que em ambos os casos de 'gestão' a gente vai sempre perder). A mudança precisa vir la de cima para que impostos sejam repensados e desta forma tenhamos condições de pagar o preço real dos produtos.
**Se bem que com a fama do brasileiro de querer sair ganhando em tudo, duvido que mesmo com os preços mais baixos e um salário menor as pessoas deixem de frequentar o Brás, Bom Retiro e lojas como a Pernambucanas pra ter a roupa da novela a um preço R$ 1,00 mais barato do que de uma loja formal.

    Silva

    Voce não percebeu que a Pernambucanas pagam 39 reais por peca, e deste apenas 4 são repasados para a empresa que fabrica as pecas, então este seu pensamento não tem logica.

    Com este valor daria pra pagar muito bem os funcionarios se fosse repassado um valor maiso por peça produzida a fabrica, pelo menos uns 15 ou 20 reais.

ALBERTO

Prováveis comentários dos cidadãos paulistanos do "bem":
"Já que não podemos mais usar os BAIANOS, usamos os BOLIVIANOS. Afinal, é tudo a mesma M…"
"Essa notícia é falsa, não deu na Folha nem na Veja."
"São os coreanos que fazem isso, paulistas nunca."
"A gente dá casa e comida para esses miseráveis e vejam como eles agradecem!"
"Se puserem a ROTA na rua, eles voltam correndo pra Bolívia."
"Isso é trololó de petista. Ministério de Brasília não tem nada que se meter com São Paulo."
"Boliviano é índio. Índio é gente?"
"Que gracinha!"
"Agora, além de preto, nordestino e viado, vâmo tê que espancá boliviano?"
"Chama o BOLSONARO!!"

rita

estou perplexa!

LULA VESCOVI

Sinceramente,dá vontade de vomitar e ser um alienado que não vai atrás de blogs sujos para ler.O pior é que não vai dar repercussão nenhuma na grande imprensa.Esses fiscais tem de ser heróis para levar adiante o seu trabalho.

Aderbal

Prezados,
Vou informar algo que provavelmente a maioria não sabe . Este tipo de serviço "escravo" acontece principalmente com os próprios brasileiros. Um simples resumo do que sei nestes 35 anos convivendo na periferia de sp :
Meus pais trabalham com sua própria oficina de costura desde meus 12 anos (assim como muitos brasileiros que trabalham por conta, principalmente na ZLeste), neste época 1987 até 1994 o Brasil tinha pouca competição na indústria Textil, e quem conseguiu montar seu negócio ou oficina no setor tinha uma qualidade de vida boa. Meus pais por exemplo tinham cerca de 8 empregados e vizinhos também trabalhavam na área.
A partir de 1994 o sr FHC escancarou a a importação irresponsável de produtos Têxtil sem controle principalmente da China e India. Com isto a indústria Textil quase quebrou totalmente no Brasil neste período.A região do Bras e Bom retiro que sempre foi controlado por Coreanos e Libaneses, sempre terceirizou seus serviços para estas pequenas oficinas caseiras e depois disso achou uma outra solução: Importar mão de obra escrava da Bolívia.
Esta situação fez com que os salários pagos para quem trabalhava com a costura terceirizada fossem reduzidas de forma irresponsável dos fabricantes e com a conveniência do governo ( ou vocês acham que a Policia, Ministério público, grandes marcas não sabiam ?), provavelmente a troca de favores.
Com esta situação houve a quebra ou desistência do negócio de quase todos micro empresários donos de oficina na época. Quase todos, meus pais continuaram assim como muitos também continuaram …
Iriam fazer o que vender fruta ? montar o que ? sem estudo é difícil …
Hoje eles trabalham para se sustentar trabalhando 12, 14 hs por dia, bem diferente da minha infância onde se enchia 2 3 carrinhos de supermercado.
Vão reclamar pra quem ? pro Papa ? O governo fingiu que nada aconteceu, continuou a mesma situação e empurraram com a barriga.
Agora falam dos direitos Humanos dos Bolivianos, se não cuidaramm nem dos direitos humanos e trabalhistas dos próprios brasileiros.
Vou dar só um exemplo : em 1995 meus país "costuravam" para lojas do Brás uma jaqueta jeans por 5 reais. Hoje 16 anos depois uma peça similar esta 4,50 .
Ou seja vamos supor que fizeram 200 peças em 2 semanas.
Em 1995 ganhariam 1000 reais
Em 2011 ganhariam 900 reais.
Um dia tiro os 2 desta situação.

Scan

"As Pernambucanas pagariam R$ 33,50 por cada peça à Dorbyn e venderia a mesma por R$ 79,90. O valor pago pela Dorbyn por cada blusa à oficina de costura era de R$ 4,30."

E a Dobyn não sabia de nada?

As Pernambucanas têm 79,90/33,50 = 138% de lucro
A Dobyn 33,50/4,30 = 680%

E A Dorbyn não sabia de nada?
Em alguns casos acho que a lei deveria permitir que se cortasse as duas mãos de gente desse tipo.

Rasec

Há mais de 30 processos aqui em São Paulo na Superintendência do Ministério do Trabalho envolvendo também as lojas Mariza, acusadas da mesma prática!
Essa elite é nojenta e se utiliza de trabalho análogo ao trabalho escravo para enriquecer às custas dos imigrantes, principalmente latinos (Peru, Bolívia e Uruguai).
Os processos estão bem fundamentados, com fotos das fábricas de costura terceirizadas, com péssimas condições de saúde e segurança!
Vamos ver no que dá!

Yes we créu !!!

Antes de comprar qualquer coisa nas Pernambucanas, lembrem-se dessa reportagem. A camisa barata pode significar , na verdade, mao-de-obra escrava. E nao me venham com essa conversa de que a loja de departamentos nao tem responsabilidade. Ela conhece bem os custos de producao, e eh muito facil saber quando um determinado item estah abaixo do valor de mercado.

Klaus Balogh

É, aprendemos bem com nossa parceira China! O que me deixa impressionado é que em situações normais de trabalho e cumprimento dos diretos dos trabalhadores, os empresários escravocatas, teriam ainda assim seus lucros.

ANA

O que a Europa faz com imigrantes ilegais, o que a China faz com seus cidadãos, o que a Índia faz com as suas crianças e o que o Brasil faz com bolivianos: Escravidão no neoliberalismo globalizado.

    Juliana

    A China não é comunista, tia?

    ANA

    E daí? que seja a China comunista!
    Em tempo, felizmente não tenho sobrinha tão careta como você.

FrancoAtirador

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Sugestivo o título:

CADEIA DA PERNAMBUCANAS

OS EMPREGADOS SÃO PRESIDIÁRIOS ESCRAVOS.
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Mas quem deveria ir para a cadeia é o dono da loja.
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Magda Lena

Mas então a União também é escravagista, pois os terceirizados (limpeza, vigilância, secretárias, contínuos) são contratados em esquemões de licitação, depois de uns meses não recebem salário, a "firma" desaparece e os coitados ficam a ver navios e com a luz e água desligadas.
Não sabiam? pois é…só sabem o que o blog publica.
Fora União!!

    Scan

    Fora União!
    Coloquem a Magda no lugar dela!
    Meu deus, não tem limites a idiotice?

    Marcia Costa

    Olha Scan, ele não está de todo errado. Moro em BSB e aqui todos sabem que os processos licitatórios para escolha de empresas que prestam serviços são julgados pelo menor preço. Os servidores que participam das licitações parecem não atentar para inexequibilidade de certas propostas apresentadas. A desculpa da maioria das comissões de licitação é que seguem as determinações do TCU. Está correta a adoção do menor preço, desde que ele seja suficiente para remurerar os trabalhadores, recolher os encargos previdenciários e trabalhistas, além de recolher tributos como o ISS, por exemplo. Portanto, é a mais pura realidade que muitos trabalhadores dessas empresas não recebem sequer o vale-transporte. Todos conhecem algum trabalhador nesta situação e assim permanecem acuados pelo medo de denunciar essa condição e serem excluídos do mercado de trabalho…

Luci

Cade a campanha para acabar com este "simbolo da miséria humana" escravização de seres humanos, onde o capitalismo desumaniza para lucrar? O dinheiro oriundo do trabalho que escraviza tem valor moral e humano? Quem escraviza trabalhadores porque segue impune?

Gerson Carneiro

Mais uma triste história da série de fábulas da "São Paulo que recebe bem os imigrantes". Outro dia era a C&A que estava envolvida em caso semelhante.

    @rcleme

    Eu juro que gostaria de entender qual o mecanismo onde se trata um problema nacional como se fosse exclusivo de SP. Se formos para o NE não vamos achar trabalho escravo? No Sul? Nas fazendas do Centro-Oeste?

    Se achar escravos no NE (já se achou, a colocação é só retórica), a simpatia do povo nordestino vira "fábula" tbm?

    Desculpa Gerson, usar notícia séria pra fazer panfletagem é demais. Se eu falasse algo semelhante sobre o NE seria taxado de "preconceituoso" e "anti-nordestino". Mas falar mal de SP (especialmente vindo de quem não é daqui) dá medalha, é bonito.

    Por fim, SP recebe bem demais os imigrantes, meus dois lados da família que o digam.

    Gerson Carneiro

    O post trata de um fato ocorrido em São Paulo, e meu comentário é sobre o fato trazido no referido post. Se o referido fato tivesse ocorrido na minha querida Bahia, cheia de miséria e alegria, eu diria: "Mais uma triste história da série de fábulas da minha querida Bahia, cheia de miséria e alegria". Como de fato já apontei meu dedo para feridas da Bahia e suas personalidades.

    Então, de verdade, não estou enxergando a incongruência que você tenta apontar no meu comentário.

    Assim sendo, minha opinião é a de que você, meu bom rapaz, está com um certo complexo.

    Rodrigo

    Ok Gerson, vou ficar com sua justificativa. Peço desculpas então.

    Gerson Carneiro

    Rodrigo,
    Não há necessidde de pedir desculpas. Estamos apenas discutindo civilizadamente. E mútua e reciprocamente aprendendo. Assim eu penso, pelo menos. Abs.

    El Cid

    e bota complexo nisso !!

    Rodrigo

    Adoniran Barbosa sabia das coisas…

    "Você parece relógio de repetição
    Vê se arranja uma outra profissão
    Pra não ficar igualzinho ao papagaio
    Currupaco, papaco, paco
    Vê se não me enche o saco."
    (Adoniran Barbosa, Currupaco)

    El Cid

    ó trollzinho narcisista e vitimizado… tá doendo ?? vai pro colinho da Carmem Leoprace…

    Rodrigo

    Doendo? Nada, tou cantando…incomoda?

    Quem canta os males espanta. Nem sempre, visto que você continua respondendo minhas msgs, mas vou tentando…

    El Cid

    Resposta estilo "Tarzan" pra ti: mim, papagaio. você, tucano enrustido !! kkkkkk !!

    Klaus

    Só em São Paulo se faz isto, né? Se pudesse, a esquerda nacional estirparia este câncer que são os paulistas. Mas vá fazer qq comentário negativo sobre nordestinos (a começar do chapéu ridículo da foto) o mundo cai sobre sua cabeça.

    Gerson Carneiro

    Eu quero sim que dêem destaque para as desgraças da Bahia. Critiquem. Ponham-as em evidência.

    O engôdo do metrô de Salvador; a violência policial; a saúde e a segurança pública precárias; o extermínio dos negros; os cordeiros do carnaval de Salvador; a violência nas festas de largo; a miséria proliferada na cidade de Salvador; o coronelismo ainda reinante no interior da Bahia; os mutilados vítimas de acidentes de trabalho precário da região do sisal em Conceiçao do Coité… somente quando todas estas desgraças estiverem em evidência, talvez os governantes da Bahia terão vergonha. Vergonha esta que o clã dos Magalhães, que sempre foi o dono da Bahia, nunca teve. Me ajudem nessa. Conto com vocês.

    Quanto ao meu chapéu: A beleza do meu chapéu, que a mim ele me traz, independe da sua opinião sobre ele. Ou seja, se para você ele é ridículo, este fato para mim é indiferente. Importante para mim é a beleza que ele me traz :)

Bertold

E depois os representantes do setores textil, calçadistas, alcooleiros e cítricos, no Brasil reclamam cinicamente da pratica de "dunping" pelos asiáticos quando aqui fazem a mesma coisa.

Cara

Qual é o nome do dono das Pernambucanas, esta empresa lucra com o trabalho escravo. O Repórter Brasil denuncia centenas de cassos de trabalho escravo no país, parece que as autoridades que deveriam enfrentar a quesatão vivem numa Ilaha de prosperidade e não sentem-se abaldas com estas violações de Direitos Humanos. Consumir produtos da cadeia de trabalho escravocrata com publicidades caríssimas que vemos na TV, em revistas e jornais, é fazer-nos cúmplice deste crime hediondo porque tem a finalidade de desumanizar pessoas. Quem é o dono das Pernambucanas? Para este capitalista os trabalhadores escravizados não são seres merecedores de respeito á sua dignidade?

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