Bolsonaro recebe apoio de apenas 37% da bancada federal do PSL e deputada admite que partido do presidente “só quer dinheiro”; veja o desabafo

Tempo de leitura: 5 min
Os ministros e o presidente que querem o fim da corrupção, com as candidatas laranjas de Minas Gerais que os ajudaram a se livrar da corrupção; Fotos das redes sociais e Agência Brasil

PDC (1989), PP (1993), PPR (1993), PPB (1995), PTB (2003), PFL (2005), PP (2005), PSC (2016), PSL (2018), ??? (2019). Jair Bolsonaro troca de legenda eleitoral como quem troca de camisa. Por baixo delas, esconde sua verdadeira sigla: o partido da milícia. Sâmia Bonfim, deputada federal (Psol-SP)

Melhores momentos de 09.10.2019

Da Redação

A deputada Alê Freitas (PSL-MG) foi excluída repentinamente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputadas e fez um desabafo de enorme repercussão nas redes sociais.

“Esse partido só quer dinheiro e se dane o povo brasileiro”, disse ela, que mais tarde repetiria a denúncia em discurso no plenário (veja os vídeos acima).

Alê Freitas não menciona o nome do cacique que a expulsou da CFT, mas é provável que tenha ligação, esteja a serviço ou seja o próprio ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, ex-presidente do PSL em Minas Gerais.

Apesar de indiciado sexta-feira passada por falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita e associação criminosa, o deputado federal mais votado do PSL em Minas foi mantido no cargo pelo presidente da República Jair Bolsonaro.

Alê Freitas, envolvida com o ministro numa disputa pelo controle da máquina política do partido no estado, disse ter sido ameaçada de morte por Marcelo Álvaro depois de reunir provas contra ele por envolvimento com o laranjal do PSL no estado.

As ameaças teria sido feitas por ligação telefônica e através de intermediários. Se confirmadas, confirmam o perfil mafioso do partido que serviu de veículo a Jair Bolsonaro.

Em Minas Gerais e Pernambuco, o partido do presidente da República está sob suspeita de ter fraudado as cotas mínimas de 30% de candidaturas femininas lançando candidatas laranja.

Com isso, dinheiro público do fundo partidário foi desviado em benefício pessoal ou de candidaturas masculinas.

Em Minas, o ministro Marcelo Álvaro é acusado de ter comandado o laranjal, que teria inclusive respingado na campanha presidencial de Jair Bolsonaro.

De acordo com uma planilha vazada para o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, laminados com propaganda da campanha de Bolsonaro foram produzidos em Minas com dinheiro do caixa dois.

Luciano Bivar, presidente do partido e supostamente responsável pela tesouraria, disse que os candidatos do PSL trabalharam “umbilicalmente” com Jair Bolsonaro em 2018.

Hoje o Ministério Público Eleitoral de Minas determinou a abertura de um segundo inquérito contra o deputado federal e ministro do Turismo, pelo uso de caixa dois durante a campanha.

Duas testemunhas se apresentaram às autoridades dizendo que trabalharam na campanha de Marcelo Álvaro recebendo “por fora”.

Reprodução do Facebook do ministro anticorrupção.

Um dos motes da campanha de Marcelo Álvaro foi o combate à corrupção.

Na votação em que foi aberto o processo de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara, em 2016, ele votou SIM em nome da esposa, das duas filhas e da mãe.

Porém, a colega de partido Alê Freitas assegura que Marcelo é hipócrita.

Ela chegou a fazer representação contra seu desafeto regional na Procuradoria Geral da República, nos seguintes termos:

Ao receber notícia da ameaça [de morte], ao tomar ciência de que o representado estava disposto a parar a vida dele para acabar com a dela, a representante sentiu medo, angústia, não só por si, mas por sua família, pois é de conhecimento geral, tanto na região do Vale do Aço quanto na região do Vale do Rio Doce, que o representado anda em más companhias.

Alê Silva foi eleita deputada federal com 48.043 votos. Marcelo Álvaro teve 230.008.

NOTA DE APOIO

Hoje, deputados federais do PSL divulgaram nota de apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

Eles representam pouco mais de 35% da bancada federal.

Ausentes, as assinaturas dos líderes do PSL e do governo na Câmara, delegado Waldir e Joice Hasselmann.

Diz o texto:

Nós, parlamentares do PSL, comprometidos com o projeto de um novo Brasil, que foi e que é encabeçado pelo nosso presidente Jair Bolsonaro, reiteramos o acordo firmado em 2018 com a grande maioria dos brasileiros de construir um país livre da corrupção, em nome dos valores republicanos voltados à consolidação da nossa bandeira de ética na democracia e de justiça social.

Para isso, é necessário construir uma plataforma partidária ampla, cujo núcleo central é a solidez de um partido orientado pelos princípios e valores expostos acima, que nos foram confiados e seguem sendo defendidos pelos brasileiros. Esse partido, para nós, ainda é o PSL.

Mas para que partido contribua para o estabelecimento de uma nova política, é preciso que a atual direção adote novas práticas, com a instauração de mecanismos que garantam absoluta transparência na utilização de recursos públicos e democracia nas decisões.

Isso se torna ainda mais importante levando em conta que no ano que vem serão realizadas eleições municipais, nas quais esperamos ver o povo brasileiro reafirmar as ideias e conceitos que garantiram a eleição do presidente Jair Bolsonaro.

Não perdemos as esperanças na criação de um canal de diálogo que resulte na reunificação dos que foram eleitos com essas bandeiras. É isso o que a sociedade brasileira quer.

Assim, temos certeza de que essa é a vontade de todos e de cada um de nós filiados: a construção de um partido forte, transparente, democrático e que represente os anseios da sociedade brasileira.

Assinam:  Carla Zambelli — Bibo Nunes — Alê Silva — Chris Tonietto — Aline Sleutjes — Carlos Jordy — Filipe Barros — Sanderson — General Girão — Luiz Lima — Bia Kicis — Hélio Lopes — Cabo Junio Amaral — Luiz Philippe de Orléans e Bragança — Guiga Peixoto — Márcio Labre — Vitor Hugo — Eduardo Bolsonaro — Daniel Silveira

DISPUTA POR DINHEIRO

Ao falar em “transparência na utilização de recursos públicos e democracia nas decisões” os apoiadores de Bolsonaro na bancada federal do partido deixaram óbvio o motivo do descontentamento do grupo com o presidente do PSL, Luciano Bivar: a disputa é pela chave do cofre.

O partido terá mais de R$ 100 milhões* para financiar as eleições municipais de 2020.

Com os filhos Flávio e Eduardo instalados nas direções regionais mais importantes do PSL, no Rio e em São Paulo, Jair Bolsonaro quer também o controle da tesouraria.

Não faz sentido ter o dedaço para indicar candidatos a prefeito mas não ter dinheiro para fazer as campanhas.

A falta de endosso da líder do governo na Câmara, Joice Hasselmann, à nota é fácil de explicar: sua candidatura à Prefeitura de São Paulo é contestada pelo filho do presidente da República, Eduardo Bolsonaro.

O grupo de Eduardo prefere o deputado estadual Gil Diniz, conhecido como Carteiro Reaça.

Joice é tida como muito próxima do tucano João Doria, pré-candidato do PSDB ao Planalto em 2022.

Paranoicos, os Bolsonaro temem ser traídos por Joice uma vez que ela se instale na Prefeitura.

Doria poderia ajudar Joice e esfaquear Bolsonaro oferecendo a ela o Palácio dos Bandeirantes com apoio do PSDB na eleição seguinte.

Doria e Joice parecem atuar no “modo” José Serra: uma eleição a cada dois anos, mandatos pela metade, o que garante mais e mais poder.

Joice já disse que será candidata à Prefeitura com ou sem PSL, com ou sem Bolsonaro.

Joice é inimiga mortal de Carla Zambelli, que assina a carta de apoio ao presidente junto com Eduardo Bolsonaro.

Esta noite, Bolsonaro deixou o Palácio do Planalto botando panos quentes na crise com o partido.

Por causa da fidelidade partidária, deputados que deixarem o PSL com o presidente da República, se ele de fato sair do partido, correm o risco de perder o mandato.

Sem mandato, sem grana.

É possível que Bolsonaro só tome a decisão kamikaze de abandonar a legenda se as múltiplas investigações sobre a campanha de 2018 — no MPE, no TSE, na PGR e na CPI das Fake News evoluírem para o risco de anulação das eleições ou da cassação da chapa Jair Bolsonaro-Hamilton Mourão.

Aí, sim, Bolsonaro poderia usar o PSL… como laranja, para fugir da responsabilidade.

Fugir da responsabilidade. Alguém aí falou em fuga?

PS do Viomundo: *O valor do fundo partidário do PSL, conforme divulgado oficialmente por advogados do presidente Jair Bolsonaro, em ação movida contra o partido, será superior a R$ 100 milhões em 2020.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

Inferno na Torre do Bataclã do Bolsonaro
(ou seria BaitaClã?) …

Deixe seu comentário

Leia também