Nuzman é preso no Rio devido à tentativa de ocultar 16 Kg em ouro, diz MPF
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Nuzman e ex-diretor de Comitê Olímpíco são presos em operação que investiga fraudes na escolha da Rio 2016
Carlos Arthur Nuzman e Leonardo Gryner foram presos, no início da manhã desta quinta-feira, em endereços da Zona Sul da cidade. PF e MPF investigam compra de jurados para a eleição da sede olímpica.
por Arthur Guimarães e Fernanda Rouvenat, TV Globo e G1 Rio
Agentes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal prenderam Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Rio 2016, e Leonardo Gryner, ex-diretor de operações do comitê Rio 2016 e braço-direito de Nuzman, na manhã desta quinta-feira (5), na Zona Sul do Rio.
Nuzman é suspeito de intermediar a compra de votos de integrantes do Comitê Olímpíco Internacional (COI) para a eleição do Rio como sede da Olimpíada de 2016.
Ele foi preso em casa, no Leblon, por volta das 6h. Nuzman é presidente do COB há 22 anos. O pedido de prisão temporária foi decretado pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal.
Nuzman deixou sua casa, no Jardim Pernambuco, uma das áreas mais nobres do Leblon, por volta das 8h30. Ele foi conduzido por agentes para a sede da Polícia Federal, no Centro.
Segundo a defesa de Nuzman, a medida adotada foi dura. “Vou me inteirar dos fatos agora .Eu não tenho a menor ideia. Vou saber agora o que se passa e quais são os fundamentos dessa medida. É uma medida dura e não é usual dentro do devido processo legal”, afirmou Nélio Machado.
Segundo o Ministério Público Federal, o pedido de prisão foi decretado porque houve uma tentativa de ocultação de bens no último mês, após a polícia ter cumprido um mandado de busca na casa de Nuzman no mês passado. Entre os bens ocultados, há valores em espécie e 16 quilos de ouro que estariam em um cofre na Suíça.
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A ação é um desdobramento da “Unfair Play”, uma menção a jogo sujo e que é mais uma etapa da Lava Jato no Rio. Os presos serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Também estão sendo cumpridos mandados de busca na casa dos suspeitos presos, além do bloqueio e indisponilidade de bens de ambos. Ainda há um pedido de quebra de sigilo telefônico de Maria Celeste de Lourdes Campos Pedroso, que também foi intimada a depor na sede da Polícia Federal.
De acordo com as investigações, Maria Celeste é destinatária de vários e-mails encaminhados por Papa Diack, filho de um dirigente africano que detinha poder de voto para a escolha da cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Segundo a Justiça, ela pode ter informações importantes para o esclarecimento dos fatos.
O esquema de corrupção, segundo os investigadores, tem a participação do ex-governador Sérgio Cabral. O dinheiro teria vindo do empresário Arthur Cesar Soares de Menezes Filho, conhecido como Rei Arthur, que também teve mandado de prisão decretado, mas está foragido da justiça.
Gryner foi preso em casa, em um apartamento de luxo em Laranjeiras, na Zona Sul. Ex-diretor do COB, ele também foi diretor de Comunicação e Marketing da candidatura do Rio à sede olímpica, e teve encontros com o filho do presidente da Federação Internacional de Atletismo, suspeito de ter recebido propina para votar no Rio de Janeiro como sede dos jogos.
Segundo os investigadores, as provas colhidas na primeira etapa da “Unfair Play” mostram evidências de que Nuzman e Gryner foram os agentes responsáveis por fazer a ligação entre o esquema de propinas de Cabral e membros africanos do COI, por meio de Arthur Soares.
As visitas de Cabral, Gryner e Nuzman a vários membros do Comitê que escolheria a sede dos Jogos Olímpicos de 2016 foram admitidas, inclusive, pelo próprio ex-governador durante depoimento à Justiça Federal na Operação Eficiência.
Ainda de acordo com o MPF, as prisões temporárias de Nuzman e Gryner eram fundamentais não só como garantia da ordem pública, como para permitir bloquear o patrimônio e impedir que ambos continuem cometendo crimes e ocultando provas.
Mesmo com toda a investigação e deflagração da operação há cerca de um mês, não houve nenhuma movimentação para afastar Nuzman e Gryner de suas funções junto ao COB e ambos continuavam gerindo os contratos firmados pelo Comitê. Dessa forma, segundo o MPF, eles continuavam a ter acesso ao dinheiro público, documentos e informações importantes para as investigações.
No mês passado, quando prestou depoimento na sede da PF, Nuzman se reservou ao direito de não falar durante o interrogatório. A defesa dele afirmou, porém, que durante o depoimento “foi esclarecido e reiterado que toda a jornada da Olimpíada da Cidade do Rio de Janeiro, da candidatura à cerimônia de encerramento, foi conduzida dentro da lei e das melhores práticas financeiras, técnicas, operacionais, esportivas e de comunicação”.
Em março, o jornal francês “Le Monde” havia denunciado que, três dias antes da escolha da cidade, houve pagamento de propina a dirigentes do Comitê Olímpico Internacional. A investigação francesa conseguiu reunir elementos que apontam que a empresa Matlock foi utilizada para pagamento de US$ 2 milhões a Papa Diack.
Segundos os investigadores, a Matlock também foi usada para pagamento de propina a Sérgio Cabral. De acordo com depoimento do doleiro e delator Renato Chebar, documentos encaminhados por meio de cooperação internacional com Antígua e Barbuda não deixam dúvidas de quem era o real proprietário da empresa que tinha sede registrada nas Ilhas Virgens Britânicas: Arthur César de Menezes Soares Filhos.
No mês passado, o Ministério Público Federal (MPF) pediu o bloqueio de até R$ 1 bilhão do patrimônio de Carlos Arthur Nuzman, do empresário Arthur Cesar Soares de Menezes Filho, o “Rei Arthur”, e de Eliane Pereira Cavalcante, ex-sócia do empresário. O objetivo, segundo procuradores, era reparar os danos causados pelo trio devido às proporções mundiais da acusação.
Organização criminosa internacional
De acordo com o Ministério Público, as fronteiras internacionais não limitaram a atuação da organização criminosa do ex-governador Sérgio Cabral. Para os procuradores, “trata-se de um esquema altamente sofisticado, que agia internacionalmente com desenvoltura e uma engenhosa e complexa relação corrupta”. Prova disso é que, para alcançar o atual estágio da investigação, o MPF teve que realizar pedidos de cooperação jurídica internacional com nada menos que quatro países diferentes: Antígua e Barbuda, França, Estados Unidos e Reino Unido.
Durante as investigações, o Ministério Público Francês colheu substancioso material para demonstrar que houve compra de votos para escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Um dos votos foi comprado de Lamine Diack, então presidente da Federação Internacional de Atletismo e então membro do Comitê Olímpico Internacional, por meio de seu filho, Papa Massata Diack.
“Operação Unfair Play” da Lava Jato está na casa de Nuzman, apontado como parte de esquema criminoso
O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e Comitê Rio-2016 é alvo, neste exato momento, de um mandado de busca e apreensão em sua casa no Jardim Pernambuco, área de mansões do Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, em ação conjunta da Polícia Federal e da Força Tarefa da Lava Jato do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ).
Arthur Soares, o “Rei Arthur”, íntimo de Sérgio Cabral e empresário com diversos contratos durante o mandato do ex-governador no estado, também é parte da ação. ]
É a compra de voto de um integrante do colégio eleitoral do Comitê Olímpico Internacional (COI) que em 2 de outubro de 2009 definiu o Rio como sede das Olimpíadas que une Nuzman e Arthur Soares na mesma investigação.
Pelas regras olímpicas quebradas, a operação se chama “Unfair Play”. Na medida cautelar assinada pelo Juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal, Nuzman é apontado como uma das “pontas de um esquema criminoso”, com determinação de apreensão de passaporte.
Fato que já o coloca em outro escândalo, já que no próximo dia 13 o COI se reúne em Lima para referendar Paris e Los Angeles como sedes de 2024 e 2028. Impedido de viajar, o anfitrião dos últimos jogos não estará presente por envolvimento na compra de votos, de acordo com a operação em curso.
Diversos agentes da Polícia Federal, acompanhados por procuradores do MPF-RJ revistam nesse momento a mansão de Nuzman com objetivo de apreender computadores, telefones e objetos de valor.
O dirigente está intimado a comparecer em audiência na sede da Polícia Federal ainda hoje, às 15h. Caso não compareça, será levado coercitivamente.
Já Arthur Soares tem sua prisão preventiva decretada, assim como Eliane Pereira Cavalcante, também alvo da operação de hoje, braço-direito do “Rei Arthur”.
Os três terão objetos de valor apreendidos como garantia para eventual dano moral fixado em sentença. O dano moral deve-se ao estrago feito a imagem do país devido ao escândalo e está estabelecido em R$ 1.000.000.000,00 (Um bilhão de reais) entre o patrimônio dos três.
Ação é fruto de colaboração da Força-Tarefa da Lava Jato do MPF-RJ com o Ministério Público Financeiro da França
A ação é fruto de colaboração da Força-Tarefa da Lava Jato do MPF-RJ, comandada por Eduardo El Hage e do Ministério Público Financeiro da França e de delações premiadas como a dos irmão Chebar.
Através dessa cooperação, comprovou-se que “Rei Arthur” realizou pagamento de U$ 2 milhões para o senegalês Papa Diack, filho de Lamine Diack, presidente da Federação Internacional de Atletismo, eleitor da sede dos jogos, para determinar o próprio voto e influir em outros participantes do pleito.
No dia 29 de setembro de 2009, três dias antes da eleição do COI, uma conta de Papa Diack recebeu uma transferência de U$ 2 milhões por parte da Matlock Capital Group Limited, empresa de Arthur Soares com inscrição nas Ilhas Virgens Britânicas, repassando propina que teria Sérgio Cabral como mandatário final para influir na escolha da sede olímpica.
A tarefa de garimpar esses votos e do contato com os integrantes do colégio eleitoral do COI, e principalmente o ataque aos votos dos 54 eleitores dos países africanos era de Carlos Arthur Nuzman, em uma série de viagens e visitas, como foi mostrado com exclusividade na Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo em diversas reportagens, com documentos que mostram essa movimentação.
O site mostrou também que um mês antes da transferência para a conta do filho de Lamine Diack, uma comitiva brasileira formada por Carlos Arthur Nuzman, Sérgio Cabral e Eduardo Paes, entre outros, fez campanha e encontrou-se com o senegalês no Mundial de Atletismo de Berlim, em agosto de 2009.
Arthur Soares está na relação dos fornecedores do Comitê Rio-2016 através do “Consórcio Alimentar”, empresa que se formou para tal serviço e na qual o amigo de Cabral está representado em participação societária através da Prol Alimentos, que vem a ser um dos braços da Prol, como passou a se chamar a “Facility”, a empresa do amigo de Cabral cujos negócios com o governo estadual chegaram a R$ 2,8 bilhões, divididos em 57 contratos com 19 órgãos.
Carlos Arthur Nuzman assumiu o COB em 1995, depois de uma década de comando da CBV, prometendo transformar o Brasil em uma potência olímpica em 8 anos. Nesses 21 anos, o Brasil passou longe disso e não cumpriu nenhuma dessas metas esportivas, nem mesmo as relativas ao quadro de medalhas na edição caseira. Apesar de o volume de dinheiro que alimentou a entidade nessas duas décadas ter sido recorde. Dinheiro público em sua maior parte, vindo de convênios com o Ministério do Esporte e empresas estatais.
Em 2009, logo após a confirmação do Rio como sede olímpica, Nuzman passou a ser também presidente do Comitê Rio-2016, até então Comitê de Candidatura Rio-2016. O acúmulo entre o comando do comitê olímpico e o da organização dos jogos por parte de um mandatário foi algo inédito na história olímpica. A promessa de realização dos jogos apenas com dinheiro privado também não se cumpriu.
A despeito de toda enxurrada de dinheiro público na entidade comandada pelo dirigente, logo após o término, o próprio Nuzman reconheceu que o país tinha regredido para os níveis esportivos equivalentes aos de 1995, ano em que assumiu. Porém, sem assumir a responsabilidade por tal fato e sim debitando na conta do enxugamento de receitas.
Os mecanismos de fiscalização das verbas concedidas a entidades esportivas seguem questionadas por suas fragilidades.
Outro ponto de questionamento repetido a Carlos Arthur Nuzman nessas duas décadas como mandatário, foi a relação íntima e próxima com uma agência de viagem, a Tamoyo, que manteve até ser vendida, logo após a escolha do Rio como sede, a exclusividade na venda de passagens para o COB e dos tíquetes olímpicos para pacotes de viagens.
Com o surgimento da Lei Agnello/Piva, o volume de viagens para atletas pagas através de convênios com o Ministério Público cresceu em grande volume, constituindo a maior parte consumida da verba de 2% da loteria repassada ao COB. E em sua maioria, gasta nos contratos de parceria com a empresa preferida de Nuzman.




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