Luciano Martins Costa: A lista de pautas indigestas

Tempo de leitura: 3 min

LIVRO-DENÚNCIA

As relações perigosas da imprensa

Por Luciano Martins Costa em 13/12/2011, no Observatório da Imprensa

O ruidoso silêncio dos jornais de circulação nacional em torno do livro A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., diz muito sobre o que tem sido, nos últimos anos, o viés político da imprensa brasileira. Mas deixa ainda mais obscuros os escaninhos da relação entre o ex-governador, ex-ministro, ex-prefeito e ex-senador José Serra com a cúpula das empresas de comunicação dos principais centros do país.

Repórteres que acompanham a carreira desse político paulista se habituaram há muito tempo a aceitar como normal sua ascendência sobre as cabeças coroadas da imprensa tradicional. Nunca ocorreu a ninguém – ou se ocorreu, nunca antes qualquer profissional havia enfrentado essa tarefa – vasculhar os segredos dessa estranha relação.

O livro de Ribeiro Jr., pelo menos nos trechos já divulgados em entrevistas que circulam pela internet e reproduzidos por blogs, levanta hipóteses que podem conduzir a conclusões perigosas demais para serem tratadas com leviandade. Talvez seja essa exatamente a razão pela qual os grandes jornais ainda não se dispuseram a entrar no assunto com a dedicação que ele merece.

Silêncio da imprensa

Se é verdade metade do que já se disse sobre a investigação de Ribeiro Jr., deve haver motivos para preocupações em muitas casas de boa reputação. Mais alguns dias e os primeiros compradores terão completado a leitura das 334 páginas do livro, e então o silêncio da chamada grande imprensa será de pouca valia.

Argumentando-se que é apenas a cautela do jornalismo responsável o motivo de tamanha retração – pois seria leviano conceder o aval da imprensa ao livro e seu autor sem uma leitura cuidadosa da obra – ainda assim não se pode escapar de uma comparação com outros livros sobre políticos publicados recentemente.

Não é mistério para as pessoas afeitas ao mister do jornalismo que muitas das resenhas publicadas pela nossa imprensa são produzidas por osmose, sem que os redatores de cadernos de cultura tenham que se dar o trabalho de ler inteiramente a obra analisada. O método é descrito deliciosa e ironicamente pelo escritor Ronaldo Antonelli, ex-redator do jornalismo cultural, em seu romance O crepúsculo das letras.

Foi assim, claramente, que alguns livros sobre políticos ganharam destaque recentemente. Principalmente aqueles escritos por seus desafetos, como foram os casos daqueles que têm como personagem o ex-presidente Lula da Silva.

Se o caso é de esperar que algum bom resenhista termine sua leitura, louvado seja o silêncio da imprensa em torno do livro-bomba de Amaury Ribeiro Jr. Caso contrário, pode-se dizer que se trata do silêncio dos indecentes.

Choque de realidade

Há evidências de que o viés conservador da imprensa nacional se transforma em padecimento mental. A possibilidade de que um livro venha a desfazer a imagem pública de um aliado político parece paralisar as grandes redações.

Mesmo a hipótese de que se trate de uma grande farsa, a esta altura muito improvável, seria motivo para que o tema atiçasse a curiosidade dos editores. Se nem a possibilidade de provar que se trata de uma armação, com a consequente canonização midiática de José Serra, é capaz de mover os grandes jornais, pode-se afirmar que a imprensa precisa de um choque de realidade.

Uma imprensa ruim ainda é melhor que nenhuma imprensa, mas para merecer o respeito da sociedade é preciso algum sinal vital de jornalismo, ainda que tênue. A imobilidade das grandes redações diante de um escândalo potencial como o que representa o livro de Amaury Ribeiro Jr. alimenta de argumentos aqueles que defendem o controle externo da mídia.

A melhor defesa é o esforço pelo jornalismo de qualidade, que inclui banir a prática da lista negra de pautas indigestas.

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Comentários

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Caroço no angu do PIG « Ficha Corrida

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jaime

"Uma imprensa ruim ainda é melhor que nenhuma imprensa" – sim, só que esta, para ser ruim ainda tem que melhorar muito. Francamente, acho que de qualquer forma vale aquela idéia: eles acabam se enforcando na própria corda, ou seja, agora nem quero que melhore. Deixa assim, tá de bom tamanho, penso que logo mais só os donos vão acreditar no que seus jornais dizem; estão se tornando rapidamente irrelevantes. E ver que essa imprensa é que pautou o Congresso durante décadas! Um Congresso, aliás, que terá de receber de braços abertos seu filho pródigo Jader Barbalho – por obra e graça da opinião de um ministro do Supremo – que se preparou a vida inteira para chegar lá, segundo suas próprias palavras – que achou que o povo estava sendo experto demais. Valha-me! Legislativo? Judiciário? Imprensa? Meus caros, considerando tudo, convenhamos, está bom demais! Pela lógica, se tudo isso desse frutos, deveríamos estar pedindo anexação ao Haiti.

jucemir

Já encomendei o livro do Amaury.

Mas olha que pauta incômoda é o que não falta, tanto de um lado como de outro…
…Será que a Igreja Universal do Reino da Record seria uma pauta cômoda?

Cleverton_Silva

O S(F)erra está se descabelando (mais ainda)!

Taiguara

O melhor de tudo isso é que fica provado que o Aócio não é confiável. Seu antídoto contra o Serra provocou um irreversível choque anafilático nos demofrênicos-tucanopatas.
O link que posto abaixo dá uma ideia do que ocorre quando alguém ousa contrariar os interêsses do Sinhôzinho das Gerais.
http://www.novojornal.com/politica/noticia/lista-

Marcio H Silva

KASSAB é vaiado pelos Bombeiros no RJ dia 12-12-11. O silencio da midia também prejudica a classe dos bombeiros do RJ que até hoje NUNCA conseguiu falar com Cabral. Entraram em estado de greve esta semana.

![youtube EqCxfYoFW28&feature=player_embedded#! http://www.youtube.com/watch?v=EqCxfYoFW28&feature=player_embedded#! youtube]

Marcio H Silva

Na entrevista da Record Newa, Amaury comenta que o grande gancho do livro é a facilidade de rodar a grana e internalizar no país. Ele defende que este processo tem que parar. A grande ( velha ) mídia além dos interesses políticos também pode estar sendo incomodada por esta proposta de estancar a lavagem de grana, ferindo seus interesses. Se puxar o rabo o elefante aparece…..

Leider_Lincoln

Olha que interessante: http://fotocecilia.blogspot.com/2011/09/guest-pos… e http://www.cartacapital.com.br/sociedade/os-cevad… .

Eunice

Cadê o Clóvis Rossi, aquele que foi ao pescoço do Mino no programa do Heródoto?

Pedro

Princípio básico daquilo que a imprensa chama de "liberdade de imprensa": não publicar jamais a verdade!

Pedro

A imprensa é isso. Tem gente que compra, por exemplo, o Globo, para se informar. Tamanha ingenuidade já não é mais permitida no mundo em que vivemos.
Antes de publicar qualquer coisa, a imprensa brasileira, argentina, chilena, consulta a CIA. Se esta permitir, teremos como resultado a liberdade de imprensa.
Alguém conhece maior censura à imprensa do que a que ela própria se faz?

Luis Hipolito

Esse livro ainda vai dar o que falar…

Sérgio Pedro

Azenha, porque a lista tem que ser negra?

    Magali Pedro

    "Páginas amarelas", "imprensa marrom", "lista negra" – em fraseologia, são exemplos de "colocações": palavras que andam juntas por convenção. (Tagnin, 2005. Do jeito que a gente diz. São Paulo: Ática)

    FrancoAtirador

    .
    .
    Caro Sérgio Porto.

    Com a sua permissão e a do Azenha.

    Creio que, no caso, o adjetivo "negra"

    não se refere à cor da pele,

    mas ao obscurantismo da mídia.
    .
    .

    mucio

    Por que negro não é sinônimo de preto. Negro vem do grego NEKROS que quer dizer morte, sem vida, sem brilho. Termo usado pelos escravagistas para referir-se a escravo de qualquer etnia. Dando uma noção de pertencimento do indivíduo a algo de ordem inferior.

    Valdeci Elias

    Mucio,o "NEGRO", em lista negra não quer dizer inferioridade, más sim pervecidade ou malicidade . O individuo que estiver na lista negra, não é inferior, más ruim.

Marcos

"Viés conservador" !!! Vai ser elegante assim na PQP!!!

Attila Louzada

Citando o artigo, "Argumentando-se que é apenas a cautela do jornalismo responsável o motivo de tamanha retração – pois seria leviano conceder o aval da imprensa ao livro e seu autor sem uma leitura cuidadosa da obra – ainda assim não se pode escapar de uma comparação com outros livros sobre políticos publicados recentemente." Não me parece razoável que a impensa tenha tal preocupação. Segundo o manual que seguem, basta que alguém, mesmo com o folha corrida mais imunda, diga algo sem qualquer evidência sólida para que a notícia vire manchete e seja repercutida em vários órgãos de imprensa.

    Gilson Raslan

    Attila, muito bem lembrado. O saldado João Dias, homem violento, corrupto e processado civil e criminalmente, auxiliou a grande imprensa, com suas acusações sem prova, a derrubar o ex-ministro Orlando Silva.
    A grande imprensa questionou o passado de João Dias antes de repercutir suas diatribes?
    A grande imprensa, antes de publicar matérias contra vários ministros deste e do governo passado, questionou o passado nebuloso de outros conhecimentos criminosos que lhe serviram como fontes?
    Essa história de que a grande imprensa não repercute o livro do Amauri, porque está examinando com cuidado o seu conteúdo é a mais DESENVERGONHADA e ESFARRADA justificativa dos barões do PIG.

Marinalva

Os "jornalistas" de O POVO e Diário do Nordeste aqui de Fortaleza, não têm a menor liberdade para comentar o livro A Privataria Tucana.

Eles ("os jornalistas") sabem que se tocarem no assunto é perda de emprego na certa. Eu até que os perdôo porque, no fundo no fundo, a tirania parte dos donos das duas empresas que adoram o José Serra.

Mas comprar jornal de Fortaleza, nunca mais.

    joao

    Desfilem com camisetas com a capa do livro e leiam e depois emprestem ,falem nas midias sociais nao precisamos de jornais mentirosos a nao ser para forrar casinha de cachorro atualmente.

FrancoAtirador

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Bem dito:

É O SILÊNCIO DOS INDECENTES.
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