Jeferson Miola: Prefeitura não adota soluções que acelerariam fim da inundação de Porto Alegre

Tempo de leitura: 2 min
Jeferson Miola: ''Em documento entregue ao prefeito Sebastião Melo em 13 de maio, engenheiros, hidrólogos, urbanistas, geólogos, arquitetos, pesquisadores, cientistas e ex-dirigentes do DEP e do DMAE [DMAE] apontam um conjunto de medidas emergenciais que a Prefeitura deveria adotar para escoar a água que invadiu a cidade. São soluções viáveis e de baixo custo". Foto: Maurício Tonetto/Secom Prefeitura de Porto Alegre

Prefeitura continua negligente e não adota soluções que poderiam acelerar fim da inundação de Porto Alegre

Por Jeferson Miola, em seu blog

Especialistas convergem no diagnóstico de que falhas da Prefeitura na manutenção do sistema de proteção contra enchentes em Porto Alegre causaram a inundação da cidade, que poderia ter sido evitada [aqui e aqui]

E agora, em pleno desenvolvimento do evento climático, com as águas empoçadas e descendo lentamente, especialistas denunciam a incompetência e negligência da Prefeitura, que não adota soluções viáveis e de baixo custo que poderiam começar a esvaziar imediatamente a inundação de Porto Alegre.

Em documento de 13 de maio entregue ao prefeito Sebastião Melo, engenheiros, hidrólogos, urbanistas, geólogos, arquitetos, pesquisadores, cientistas e ex-dirigentes dos departamentos municipais de Esgotos e Pluviais [DEP] e de Águas e Esgotos [DMAE] apontam um conjunto de medidas emergenciais que a Prefeitura deveria adotar para escoar a água que invadiu a cidade.

Num documento sintético e objetivo, os técnicos propõem soluções imediatas para fechar os “vazamentos nas comportas para evitar a entrada (e retorno) das águas do Guaíba, recompor os Condutos Forçados e bombear as águas da inundação de Porto Alegre para o Guaíba através das Casas de Bombas ou alternativamente”.

As medidas seriam:

  1. através de mergulhadores vedar as comportas do Muro e Av. Castelo Branco, com sacos permeáveis à entrada de água preenchidos com areia misturada com cimento, borrachas e parafusos. Sugerimos prioridade para a comporta 14 que invadiu o bairro Navegantes;
  2. também com mergulhadores vedar as comportas e colocar ensecadeiras nas Casas de Bombas com Stop Logs, solda sub-aquática e bolsas infláveis de vedação;
  3. vedar hermeticamente as tampas violadas dos Condutos Forçados Polônia e Álvaro Chaves;
  4. com as Casas de Bombas secas e protegidas por ensecadeiras, reenergizá-las, o que pode ser realizado com redes paralelas de cabos isolados pela Equatorial. Se assim não for possível, utilizar diretamente nas Casas de Bombas geradores movidos a combustível;
  5. caso não seja possível operar imediatamente as Casas de Bombas, utilizar bombas volantes de grande vazão para drenar o Centro Histórico e os bairros da região norte da Cidade. No caso do bairro Sarandi, onde as águas superaram a cota de 6,0m e a Casa de Bombas nº 10 está completamente inundada, é certo que serão necessárias bombas volantes”.

O Diretor-Presidente do DMAE e seu adjunto foram procurados para explicar a posição do órgão e da Prefeitura a respeito das medidas urgentes defendidas pelos especialistas, mas não se manifestaram.

O Ministério Público Estadual e o Federal têm recebido denúncias sobre as falhas administrativas e negligências da Prefeitura, que precisam ser apuradas e os culpados devidamente responsabilizados nas esferas administrativa, cível e criminal.

Caso, contudo, a Prefeitura continue desprezando aportes técnicos e de especialistas e não adote urgentemente as medidas que podem acelerar o fim da inundação da cidade, a responsabilidade do prefeito e autoridades municipais, que já é enorme, fica ainda mais agravada.

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Neste caso, e comprovada mais uma grave negligência da Administração Municipal, é recomendável o afastamento das autoridades incompetentes e ineptas e a instituição de uma governança emergencial para gerir o processo de superação do colapso da cidade com a maior agilidade possível, nos termos indicados por especialistas habilitados.

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Comentários

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Zé Maria

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Empresa Norte-Americana Prestará Consultoria à Prefeitura de Porto Alegre

Contratada por Melo, Alvarez & Marsal Atuou na Privatização da Corsan

[ Reportagem: Bettina Gehm | SUL21 | Maio/2024 ]

https://sul21.com.br/noticias/politica/2024/05/contratada-por-melo-alvarez-marsal-atuou-na-privatizacao-da-corsan/
https://sul21.com.br/noticias/geral/2024/05/empresa-norte-americana-prestara-consultoria-a-prefeitura-na-recuperacao-de-porto-alegre/

Leia também:

” Consultoria Contratada pela Prefeitura de Porto Alegre
Prevê Plano de Ação que Extrapola ‘Período Gratuito’ ”

Prefeito Sebastião Melo Ainda Não Informou
Valor que deve ser Gasto com Alvarez & Marsal

[ Reportagem: Tiago Medina | Matinal Jornalismo | Maio/2024 ]

https://www.matinaljornalismo.com.br/matinal/reportagem-matinal/melo-consultoria-reconstrucao-porto-alegre/

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Zé Maria

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“Crise Ambiental, ‘Complexo de Vira-Latas’ e Segundas Intenções”

“A resposta de nossos ‘gestores’ municipais e estadual,
além das desculpas retóricas, revela um componente
cultural ainda mais nefasto”

“A solução que vem sendo apontada pelos ‘governantes’
do Estado RS é a contratação de empresas privadas de
consultoria, quase sempre multinacionais. que teriam
poderes quase mágicos de solucionar os problemas”

Por Tarson Núñez (*), no SUL21

O desastre vivido pelo Rio Grande do Sul nestas últimas duas semanas precisa ser encarado também como um momento de aprendizado.

Após o esforço inicial de salvar as pessoas e reduzir os danos, a superação desta crise deveria passar por não reproduzir os erros e por trabalhar para atacar as causas que levaram ao desastre.
Neste caso da catástrofe que vivemos, fica evidente que nossos problemas resultam de um modelo econômico predatório e insustentável.

Nos meios científico e acadêmico há um sólido consenso de que um
modelo econômico baseado no crescimento quantitativo das riquezas
sem preocupação com a sustentabilidade é a receita por trás do desastre.

Ganância, monocultura voltada para exportação, falta de regulação
das atividades econômicas, concentração de riqueza, entre outras
características do modelo atual, são as causas dos problemas que
estamos vivendo.

Mas para além destas questões macroeconômicas e ambientais, existe
uma outra dimensão desta tragédia que se relaciona com os mecanismos
de governança, da crise daquelas estruturas que nos permitem coordenar
e direcionar as ações relacionadas com a economia e com o meio ambiente.

É a questão da capacidade estatal, ou seja, da capacidade das estruturas
governamentais de implementar políticas públicas.

No Rio Grande do Sul e em Porto Alegre temos assistido uma demolição
sistemática de estruturas que certamente contribuiriam para prevenir
e enfrentar os problemas gerados pela crise ambiental.

Nossas instituições públicas de pesquisa vêm sendo fechadas, destruindo
décadas de conhecimento acumulado.

Empresas públicas, patrimônios dos gaúchos, vêm sendo entregues para
a iniciativa privada, o que reduz o compromisso com o bem comum.

A legislação ambiental vem sendo desmantelada, abalando os mecanismos
de controle.

As estruturas voltadas para a preservação do meio ambiente estão
fragilizadas e têm seus orçamentos reduzidos.

As capacidades de planejamento, de gestão e de enfrentamento de
crises estão virtualmente paralisadas.

Quando os eventos extremos se manifestam, nossa possibilidade
coletiva de resistir é mínima.

Frente a esta situação, a resposta de nossos gestores municipais
e estadual, além das desculpas retóricas, revela um componente
cultural ainda mais nefasto.

A solução que vem sendo apontada é a contratação de empresas
privadas de consultoria, quase sempre multinacionais, que teriam
poderes quase mágicos de solucionar os problemas.

Revelando o que o célebre dramaturgo Nelson Rodrigues costumava
chamar de “complexo de vira-latas”, nossos governantes apresentam
como solução trazer de fora do estado e do país supostos especialistas
com expertise internacional que teriam, portanto, maior capacidade
de resolver os problemas de forma mais eficiente.

Não ocorre aos nossos gestores mobilizar a enorme e qualificada
estrutura já instalada no Rio Grande.

A UFRGS, que é uma das cinco melhores universidades do país,
é solenemente ignorada.

Não importa que tenhamos na Faculdade de Economia alguns dos
melhores economistas do país, com conhecimento acadêmico e
experiência de gestão.

Não importa que na cátedra de ecologia do curso de geologia tenhamos
especialistas reconhecidos internacionalmente.

Se ignora que o nosso Programa de Pós-Graduação de Planejamento
Urbano e Regional seja um dos melhores do país.

Na Geografia, no Instituto de Pesquisas Hidráulicas, no pós-graduação
de Administração Pública, temos um enorme contingente de especialistas.

E isso só para citar algumas áreas, certamente há muitos mais.

E isso apenas para falar da universidade pública.

Temos também toda uma rede de instituições confessionais e comunitárias
por todo o estado com milhares de técnicos especializados que poderiam
ser mobilizados.

Mais do que isto, no próprio governo estadual e na prefeitura temos técnicos
capacitados que estão sendo ignorados.

Mas o “complexo de vira-latas”, aquela ideologia que defende que tudo
que vem de fora é melhor, nos impede de utilizar esta capacidade instalada.

Preferimos contratar consultorias estrangeiras.

Em meados de abril, o governo estadual apresentou um plano para “o futuro
do Rio Grande”, elaborado pela Mckinsey.

Esta consultoria norte-americana elaborou o que chama de “uma nova
agenda de desenvolvimento para o RS”.

E, no meio da catástrofe climática, o prefeito Melo anuncia a contratação
do escritório Alvarez & Marsal, uma firma norte-americana que se apresenta
no Linkedin como uma “empresa que fornece serviços de consultoria,
melhoria de desempenho de negócios e gerenciamento de recuperação”.

A opção, portanto, é por recusar uma sinergia com a capacidade local
instalada e buscar soluções externas.

No entanto, um mínimo esforço de investigação nos mostra que esta
solução, além de representar no mínimo um desrespeito aos especialistas
locais, é muito questionável do ponto de vista da sua eficácia.

Comecemos pela Mckinsey e associados.

Esta consultoria norte-americana, que se apresenta como uma “consultoria
global de gestão”, foi quem formulou para governo do estado do Rio Grande
do Sul um plano de desenvolvimento apresentado em abril deste ano.

Já de saída é possível pensar como é estranho que um governo reeleito,
que já está no seu sexto ano, recém agora esteja pensando em um plano.

Mas nem é necessário realizar pesquisas muito aprofundadas para
se descobrir algumas questões bem complicadas desta empresa.

Um artigo publicado pela agência Reuters, coincidentemente na mesma
semana em que o plano para o RS foi anunciado, mostra práticas bastante
questionáveis desta consultoria.

A matéria relata que a Mckinsey está sendo investigada nos Estados Unidos
por conta do seu papel como consultora de empresas farmacêuticas que
produziam medicamentos opióides.

O inquérito das autoridades norte-americanas avalia se a Mckinsey se
envolveu em uma conspiração criminosa durante os anos em que forneceu
assessoria para as empresas farmacêuticas, quando patrocinou estudos
voltados para demonstrar que estas drogas não causavam problemas para
a saúde.

A empresa trabalhava para a Purdue, fabricante da Oxitocina, e outras
empresas farmacêuticas, elaborando estratégias de marketing para
aumentar a prescrição dos analgésicos que geraram uma epidemia
de dependência e overdoses fatais.

A Mckinsey reconheceu suas responsabilidades e já firmou acordos
de cerca de 1 bilhão de dólares por conta de processos e acusações
legais em todos os 50 estados daquele país.

Esta é a empresa que o governo escolheu para elaborar uma agenda
de futuro para o Rio Grande do Sul.

Já a Alvarez & Marsal está sendo contratada em função da sua experiência
no processo de reconstrução de New Orleans após o furacão Katrina.

Mas qualquer pesquisa mais cuidadosa sobre este caso nos mostra que
este é um dos casos de reconstrução mais mal sucedidos em nível
internacional.

De saída, uma das principais medidas adotadas em New Orleans, foi
a demissão de 7.500 professores e a privatização da rede de escolas
públicas.

A reconstrução lá privilegiou a recuperação dos bairros mais ricos e
das áreas turísticas, enquanto os bairros mais pobres ficaram abandonados
e muitos dos seus moradores precisaram sair da cidade em função das
precárias condições de vida.

Hoje, a cidade ainda tem menos habitantes do que antes do furacão.

No Le Monde Diplomatique de maio deste ano foi publicada uma matéria,
cujo título sintomaticamente é “Como matar uma cidade”, onde é feita
uma descrição detalhada deste processo.

Além disso, a Alvarez & Marsal é, sobretudo, um escritório de advogados.

Seu trabalho principal tem sido orientar empresas em situações
complicadas, de forma a impedir que seus gestores prestem contas
pelos seus erros.

Seus outros dois clientes mais famosos no Brasil foram a Vale do Rio Doce,
responsável pela tragédia de Brumadinho, e as Lojas Americanas, envolvida
em fraudes contábeis bilionárias.

E, não por acaso, os gestores dessas empresas até agora conseguiram
evitar punições decorrentes de suas condutas.

Estes dois exemplos, resultantes de uma breve pesquisa, mostram
a fragilidade, a irresponsabilidade e a ineficiência das ‘soluções’
propostas pelos consultores contratados por nossos governantes.

Como bons vira-latas, nossos gestores trocam o conhecimento público
e qualificado disponível por provedores de “soluções” enganosas, tanto
do ponto de vista profissional como ético.

Consultores que, por definição, trabalham para agradar os seus
contratantes.

E isto nos leva para um segundo ponto, que vai além do questionamento
acerca da qualidade do trabalho realizado.

Como diz o dito popular: “quem paga a banda escolhe a música”.

As ‘soluções’ propostas por estes consultores certamente não vão ser
orientadas pelo conhecimento científico, mas sim pelo viés político
que orienta nossos governantes.

Então não teremos as melhores soluções para o enfrentamento da crise
climática, mas formulações que sirvam para legitimar as ações que
os governantes vêm adotando, que nos levaram ao desastre que estamos
vivendo.

Portanto, esta prática de contratação de consultorias revela mais do que
simplesmente a mentalidade colonizada dos vira-latas, que consideram
que tudo que vem de fora é melhor.

Revela também uma estratégia voltada para a preservação de um modelo
de desenvolvimento e uma prática política que são responsáveis pelos
desastres ambientais que fazem com que a sociedade como um todo
pague pela ganância e a sede de poder de grupos econômicos privilegiados.

A principal lição que devemos tirar desta crise, portanto, deveria ser
a de romper com estas práticas irresponsáveis.

É hora do Rio Grande se libertar do “complexo de vira-latas”.

(*) Tarson Núñez é Doutor em Ciência Política pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS.

https://sul21.com.br/opiniao/2024/05/crise-ambiental-complexo-de-vira-latas-e-segundas-intencoes-por-tarson-nunez/

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Zé Maria

https://prefeitura.poa.br/sites/default/files/usu_img/sites/dmae/Esgoto-cloacal-2.jpg

As Bombas da Rede de Esgoto Doméstico (Cloacal)
também não funcionaram durante a Enchente.

Quando o Guaíba subiu, a Cidade de Porto Alegre
foi Inundada de Xixi e Cocô que refluíram pelos Canos

e regurgitaram pelas Tampas de Bueiros nas Ruas
notadamente dos Bairros Menino Deus e Cidade Baixa.

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