A destruição do painel de Enio Squeff

Tempo de leitura: 2 min

da Larissa Squeff, que montou um blog para denunciar

Carta do Enio aos amigos

Amigos, acabo de saber que o Sesc-Itaquera desmontou o painel que fiz em 2004, como parte dos 450 anos de São Paulo.

Além da pintura e de um grande vitral, representando o santo São Paulo, cem – 100 – corpos humanos, principalmente de Itaquera, foram devidamente gravadas no painel. As pessoas – vale dizer, homens, mulheres, crianças- consentiam em se despir atrás de um biombo.

Tinham seus corpos pintados e, em seguida, eram, então, carimbadas no painel. Até informação contrária, foi  a primeira vez que uma obra, em nossa cidade, se compôs com a impressão corporal de pessoas.

Mais do que um mural, pretendia-se registrar, de forma indelével, os corpos de alguns paulistanos do ano da graça de  2004. Para a obra, a propósito, colaboraram não apenas os físicos dos itaquerenses, reproduzidas em acrílico, mas uma composição musical de Willy Correa de Oliveira e a dança de 40 bailarinos coordenados pelo coreógrafo Ricardo Iazzetta, o Zeta.

Ambos, por encomenda do Sesc, reuniram músicos e bailarinos, respectivamente. E inauguraram o painel, agora descartado.

Não discuto minha obra. Ao contrário do que foi prometido pela direção do Sesc, eu seria notificado sobre qualquer possível remoção do mural. E isso não aconteceu.

Alguns amigos, aconselharam-me a processar judicialmente o Sesc. Seria a resposta adequada a um ato de violência iconoclástica. E por parte de uma instituição que diz promover e zelar pelas obras de arte que ela mesma encomenda. No caso, porém, deu-se o desprezo puro e simples, principalmente pelos corpos impressos de dezenas de pessoas da nossa sofrida cidade.

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Ou seja, na sugestão de que fosse às vias jurídicas, eu talvez obtivesse alguma compensação material – mas não teria recuperados os corpos que o Sesc pretende sejam o lixo da história, por não pertencerem aos bairros ditos “nobres”, de  São Paulo.

Não me atraem, em suma, comparações com atos deletérios do passado. Ou com o desprezo por pessoas que não se inserem na nomenclatura nobiliárquica de São Paulo. Restar-me-ia, portanto, prestar continência aos mentores do atentado. De preferência, a bater com retinência os calcanhares, no estilo a que talvez devessem se seguir os “passos de ganso”, de macabra memória.

Deixo, porém, à história o julgamento do atentado. Mais do que compensações, ele depõe contra uma instituição que se pensa acima do bem e do mal.   E a qual cabe inquirir se é disso que se espera de quem recebe dinheiro que o Estado deixa de arrecadar.

Lamentável, para ser gentil.

Enio Squeff

Artista plástico e jornalista

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