Veja como foi o debate na Fiocruz sobre o futuro da atenção ao câncer na era covid-19

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Fiocruz promove webinário sobre o futuro da atenção ao câncer e o impacto da Covid-19 no rastreamento de novos casos e tratamento

Cee-Fiocruz 

Um conjunto de tecnologias promete revolucionar, em futuro próximo, as possibilidades de diagnóstico e tratamento do câncer, a segunda doença que mais mata no Brasil.

Vacinas terapêuticas personalizadas para ativar a resposta imunológica do paciente contra as células cancerígenas, ou biópsia líquida, capaz de detectar precocemente tumores por simples coleta de sangue , ou ainda terapias com anticorpos, para bloquear o crescimento e disseminação de células malignas, constituem possibilidades promissoras.

Edição genômica, terapia celular, vírus oncolíticos, imagem molecular, terapias com RNA e tumor delivery são outras possibilidades de abordagem que emergem e sugerem uma transformação no panorama do cuidado à doença no futuro. 

Contudo, a incorporação das tecnologias emergentes é ainda incerta, pelo seu alto custo e tempo de desenvolvimento e produção, com risco de se concentrar em grupos específicos de pacientes, pelas desigualdades regionais do país (dois terços das unidades de saúde mais qualificadas encontram-se nas regiões Sul e Sudeste) e pelas dificuldades dos sistemas de saúde em absorver essas tecnologias, tendo em vista nem sempre estarem, ainda, estruturados para oferecer os recursos já disponíveis. 

O cenário, ao mesmo tempo promissor e cheio de desafios, torna-se ainda mais complexo com a pandemia de Covid-19, que veio retardando a procura dos pacientes pelos serviços de saúde, o que dificulta a prevenção e posterga necessários tratamentos, com risco de sobrecarregar o sistema.

Essas e outras questões estarão em pauta no webinário Atenção à Saúde, Inovação Tecnológica e Câncer: Impactos e Desafios da Era Covid-19, que será realizado pelo Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz), no dia 20 de agosto de 2021, das 14h às 16h.

O evento contará na mesa de abertura com a presença da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, do diretor do CEE-Fiocruz, Carlos Gadelha, e do ex-ministro da Saúde e pesquisador do Centro, José Gomes Temporão. 

Na programação, os palestrantes Luiz Antonio Santini, ex-diretor do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e também pesquisador do CEE, e Nina Melo, coordenadora de pesquisa da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) e do Observatório de Oncologia do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC)

Eles apresentarão, respectivamente, os temas: Futuro das tecnologias de diagnóstico e tratamento do câncer – acesso em um cenário de desigualdades e Câncer e Covid-19 – panorama atual do diagnóstico e tratamento do câncer no Brasil sob o impacto da pandemia.

Participam ainda do evento, como debatedores, Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínicas; Jorge Alberto B. Iriart, pesquisador e professor associado do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Martín Bonamino, pesquisador Inca e da rede Fio-Câncer/Fiocruz.

Câncer: problema de saúde pública

“O webinário busca, a partir da abordagem do câncer como problema de saúde pública, sustentar uma proposta ampla do CEE, voltada à investigação do futuro do sistema de saúde no país, de modo a orientar a construção de políticas de saúde justas e sustentáveis, conforme a missão do Centro”, destaca Temporão, que coordenou com Santini no CEE a pesquisa Futuro das Tecnologias de Diagnóstico e Tratamento do Câncer (FTDTC) (2019- 2049), a ser abordada no evento.

“O câncer é, hoje, a principal causa de morte em mais de 600 cidades brasileiras, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta o mesmo cenário para as próximas décadas, em termos globais”, observa o ex-ministro. 

Santini abre as exposições, trazendo questões levantadas a partir dos resultados de quatro pesquisas realizadas no CEE, que buscaram identificar as percepções de pesquisadores internacionais, de médicos (do SUS e da saúde suplementar) no Brasil e da sociedade (pacientes, cuidadores, entre outros), a respeito da aplicação, no futuro, das tecnologias emergentes, no diagnóstico e tratamento do câncer.  

“Definimos uma patologia, o câncer, para estudar a questão do acesso, seja a recursos de atenção atuais, seja a inovações”, explica Santini, reforçando que, se as tecnologias emergentes se mostram capazes de gerar benefícios aos pacientes com câncer, não há, ainda, garantias de que serão compartilhadas de forma equânime e sustentável e se atenderão ao conjunto da sociedade.

“A quem as inovações beneficiarão?”, indaga. “A partir das quatro pesquisas, estamos identificando um campo de investigação, no que se refere ao acesso”. 

Santini ressalta que, além da discussão sobre a possibilidade ou não de incorporação de novas tecnologias, há necessidade de reflexão sobre fatores sociais, bioéticos e clínicos para a definição de estratégias que garantam o cuidado sustentável do câncer.

Em seguida, com base em uma pesquisa realizada com o apoio do TJCC ao longo do ano de 2020, Nina Melo traçará um panorama do diagnóstico e tratamento do câncer no Brasil sob o impacto da pandemia de Covid-19.

A pesquisa, realizada com oncologistas das cinco regiões do Brasil, teve como objetivo avaliar as diferenças na assistência ao câncer em cada uma dessas regiões, a partir da visão de quem se ocupa em sua rotina do cuidado ao paciente. 

“Foi constatado que, nesse período, a demanda por diagnósticos diminuiu muito. Isso significa que, em curto espaço de tempo, teremos diagnósticos de estágios muito mais avançados de câncer no Brasil e as pessoas vão encontrar uma rede de atendimento sobrecarregada”, explica Nina.

Segundo a pesquisadora, dados da Sociedade Brasileira de Patologia mostram que no ano de 2020, pelo menos 50 mil novos casos de câncer deixaram de ser diagnosticados, quando o número de novos casos é comparado com o de 2019.  


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