O paranóico

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Por Marco Aurélio Mello

por Marco Aurélio Mello

Uma vez o Luiz Carlos Azenha (manda-chuva aqui do Viomundo) disse uma coisa que eu nunca mais esqueci: “o paranóico pode até ser paranóico, mas que ele está sendo seguido está.”

Sempre recorro a esta afirmação quando vejo que as pessoas às vezes antecipam fatos, noutras os criam, à imagem e semelhança do que suas cabeças inventaram.

O sujeito cisma do nada que sua companheira está sendo assediada e quando vai checar está mesmo. Outro desconfia de repente que seu sócio o trapaceia, fuça, investiga e… descobre o malfeito.

A paranoia é um estado de espírito típico dos que se acham perseguidos, ou até dos que podem estar no centro da mira telescópica. Acomete pessoas sensitivas, intuitivas, mas que nem sempre interpretam os sinais com a devida acuidade.

É uma forma crônica de “delírio de relação”, como: ciúme excessivo, ou mania de perseguição. E num estágio mais avançado é chamado de esquizofrenia paranoide: o sujeito está na “nóia”, ou “noiado”, como em um usuário de crack, por exemplo.

Em alguns casos é tão factível que o sujeito se convence da história que a própria cabeça dele construiu. Casos que, quando levados à ficção, sempre rendem cenas memoráveis, principalmente em quadros de humor.

Tem o sujeito que acha que está sendo seguido e joga o carro do precipício, tem aquele outro que cisma que alguém
trama a sua morte e acaba morrendo do jeitinho que previu e assim por diante…

A internet também tem seus monstrinhos paranóicos. Um deles é apelidado de stalker. Em inglês a palavra significa – ao contrário – “perseguidor”. É o sujeito que obsessivamente cerca uma pessoa, em geral uma celebridade. Ele acompanha todos os passos da “vítima” e, em alguns casos a aborda, a ataca e, às vezes, até a agride.

Mas há um outro tipo de stalker mais light, portanto mais comum. Aquele namorado ciumento, por exemplo, que começa a vasculhar o seu perfil em busca de alguma informação que possa compor um mosaico pré concebido.

A pessoa sai de casa e diz: vou ao supermercado. Lá vai o stalker checar se foi ou não, se demorou muito, se usou o celular, se acessou as redes sociais enquanto estava fora…

Há também aquele que vai na postagem do outro ver quem curtiu e compartilhou. A partir daí entra no perfil de cada uma das pessoas para saber quem são: onde moram, quem são os amigos em comum, vasculha fotos, percorre as postagens dela para saber se há nelas curtidas do primeiro e quando acha alguma correspondência entre os dois, pronto!

É muito comum ser um delírio construído a partir de uma pista falsa. Mas como tudo se encaixa perfeitamente,
nasce daí uma verdade quase absoluta. É quando há a inversão do ônus da prova, ou seja, quem precisa provar para o stalker que não é nada disso é justamente aquele que acaba de ter sua vida devassada, real ou virtualmente.

Se isso já aconteceu com você – em qualquer um desses papéis – relaxa, acontece com todo mundo. Mas cuidado, ao persistirem os sintomas, pode ser um aviso de que algo não anda bem com você.

Neste sentido a Lava Jato e o juiz Sérgio Moro prestam um relevante papel toda vez que perseguem sem provas, mas com convicção um dos acusados. Com suas violações eles alimentam o monstro paranóico que poderá devorá-los amanhã.

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Marco Aurélio Mello

Jornalista, radialista e escritor.


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