Por Marco Aurélio Mello

por Marco Aurélio Mello
A professora chega na sala de aula e conta para os alunos que vai visitar a filha no fim do ano, no hemisfério Norte.
A molecada tem 10 anos de idade, entre eles, o meu filho caçula.
A ideia da professora é comprar um casaco bem grosso (de seiscentos reais!) para enfrentar o inverno.
Pelo telefone a filha se espanta: com o mesmo valor ela comprou luvas, gorros, cachecóis e casacos para ela e o marido.
A professora conclui que “a culpa” é dos impostos.
Meu filho está abismado com tamanha diferença, pergunta, quer entender…
Digo a ele que a professora esqueceu de contar algo muito importante.
Ela está comparando nossa sociedade com a maior sociedade de consumo do planeta.
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Expliquei que numa sociedade de consumo com esse grau de intensidade, quase sempre, as pessoas têm muito mais do que precisam.
E são estimuladas a comprar o tempo todo.
E é tanto, mas tanto estímulo, que elas compram sem pensar, o que gera um enorme desperdício.
Para facilitar ainda mais a compreensão apelei para algo do universo dele.
– Quando você sai para comer um sanduíche, o que você pede?
– Pão, carne e queijo; fritas (embalagem pequena) e suco de uva (copo pequeno).
– Quanto custa?
– Dezenove reais.
– Sabe quanto custa o combo com sanduíche duplo, fritas média e refrigerante médio?
– Não.
– Dezenove reais e noventa centavos.
– Entendeu?
– Sim, é mais vantagem, né?
– É a lógica do combo, filho. Somos sempre estimulados a consumir mais do que precisamos.
– Sim.
– Já imaginou o impacto disso em nós todos e no planeta?
– Sim.
– Não é à toa que há tantas crianças obesas hoje em dia, não acha?
– Sim.
– Pensando bem, não sei se ter impostos altos não é tão ruim…
– Verdade.
Depois deste pequeno diálogo fiquei pensando o quão importante é o papel do professor.
Tenho certeza de que da próxima vez a professora não vai “vender seu peixe” para ele assim tão fácil.
E eu nem falei da lógica das matérias-primas, do trabalho semi escravo nos países periféricos, do consumo de energia e água em larga escala, da poluição…
Se você é do tipo que defende escola “sem partido”, é melhor abrir o olho!
Marco Aurélio Mello
Jornalista, radialista e escritor.




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