WALCYR, O CARRASCO DO BLACK POWER
por Lelê Teles, via e-mail
Walcyr Carrasco, autor da novela Amor à Vida, da Rede Globo, orientou a equipe de caracterização da trama das 9 da noite a cortar o cabelo do ator Kayky Gonzaga, que faz o personagem Jayminho, um garoto negro que foi adotado por um casal de gays brancos.
Nada demais não fosse a explicação do autor: “tenho ouvido críticas muito pesadas e rejeição, principalmente ao cabelo dele. Eu quero um personagem bem aceito”.
Como é, principalmente ao cabelo dele, então há outras críticas “muito pesadas” e “rejeição” contra o ator negro? Quais seriam?
Carrasco dá uma pista: “bem, se não estão felizes com o que estou fazendo contra o preconceito, tiro o personagem da novela e acaba a polêmica”.
Humm, taí uma boa forma de lutar contra o preconceito.
Para o autor decidir tirar o personagem da trama é porque as críticas devam ser realmente muito pesadas.
Por que a estética negra incomoda tanto? Por que um garoto negro não pode ter um cabelo comprido?
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Segundo Walcyr “a verdade é essa: só pedi para mudar o visual de Jayminho porque ele foi adotado por alguém de dinheiro. É o que aconteceria”.
Mentira, o ator Marcello Antony, que é o pai adotivo do garoto na novela, é pai adotivo de um garoto negro na vida real e o filho de Antony, veja você, tem o cabelo quase igual ao de Jayminho.
Ninho, outro personagem da novela, tinha um longo cabelo rastafári. Como rastafári ele era um pai irresponsável, seqüestrador da própria filha, traficante e violento.
Aí ele se mudou para os Estados Unidos, cortou os cabelos e, qual Sansão, perdeu as forças. Tornou-se um cara compreensivo, responsável e amigo da filha.
O diabo é que Ninho é um artista, ganha a vida como artista, mas passou a andar vestido como um gerente de loja de shopping Center.
Walcyr deu ainda uma última explicação sobre a polêmica envolvendo o cabelo de Jayminho: “não é porque alguém é negro que é obrigado a usar black power.” C
laro que não, mas ninguém obrigou o garoto a usar black power o autor é que está o está obrigando a cortar. É o contrário.
Agora veja você, nessa mesma novela a atriz Marina Ruy Barbosa simplesmente se recusou a raspar a cabeça como a trama exigia; detalhe, ela tinha câncer e se submeteria a uma quimioterapia. Outro detalhe, a moça é ruiva.
Talvez por isso mesmo, ela tenha recebido tanto apoio nas redes sociais.
Quiçá os mesmos que fizeram críticas muito pesadas ao cabelo de Jayminho sejam os que elogiam a insubordinação da atriz para não cortar as madeixas ruivas.
Houve um tempo em que os negros com destaque na mídia, no Brasil, talvez para não receberem “críticas muito pesadas” raspavam a cabeça.
Alexandre Pires, Jacaré do É o Tchan e todos os cantores de pagode nos anos 90 usavam cabeça raspada.
Na Seleção que disputou a Copa do Mundo na França em 1998 todos os jogadores negros eram carecas e somente os negros; Dunga, Bebeto e Leonardo não rasparam.
Zé Roberto é que rompeu esse ciclo.
As novelas, há muito, não criam somente um simulacro de sociedade no Brasil, elas confundem a realidade com esse simulacro.
Mamãe não sabe se a campainha tocou na novela ou se foi na casa dela.
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