Passe livre: Na capital da Estônia, trânsito de automóveis caiu 10%

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Patrimônio da humanidade, Tallinn, capital da Estônia, tem 426 mil habitantes. É a maior cidade do país e a capital mais antiga do norte da Europa. Os primeiros traços de ocupação humana ali têm 5.000 anos.

O Palácio Kadriorg, construído por Pedro o Grande, o mercado, a igreja e a torre medievais são testemunhas da história de um centro urbano com profundas raízes no passado. Mas Tallinn nao parou no tempo e é uma das dez cidades mais avançadas do mundo em matéria de tecnologia digital. E agora, em janeiro, colocou em prática um projeto pioneiro: transporte coletivo totalmente gratuito para os moradores da cidade.

Quem é residente de Tallinn pode circular todo dia, a qualquer hora, nos coletivos, sem pagar nada. Basta comprar o cartão inteligente que libera as catracas e nunca mais pagar um centavo. Os visitantes, do país ou do exterior, não têm a mesma vantagem. São os únicos que pagam para andar nos ônibus e nos charmosos bondes da cidade.

Para desestimular o uso de automóveis particulares, Tallinn foi um pouco mais longe. Proibiu a circulação de carros de passeio em algumas ruas e aumentou o preço dos estacionamentos. Nos primeiros dois meses de experiência com o passe livre em Tallinn, o trânsito diminuiu 10%, ou seja, 7.600 carros deixaram de circular na cidade todos os dias.

Com as medidas, Tallinn se tornou exemplo.

Keila, também na Estônia, com 10 mil habitantes, seguiu o mesmo caminho e adotou o passe livre em fevereiro. É bem verdade que Keila tem apenas duas linhas de ônibus, mas agora, junto com Tallinn, faz parte de uma coalização de centros urbanos que brigam pelo transporte público e gratuito em todo o continente, chamada Free Public Transport European Network.

Não é uma tarefa fácil ou de curto prazo. Mas vai ganhando terreno. E a ideia, defendida pelo Movimento Passe Livre, no Brasil, tem adeptos, grupos e organizações brigando na mesma direção no mundo inteiro. Nos Estados Unidos, 32 cidades já experimentaram ou estão testando a ideia. Nova York, centro urbano norte-americano que tem o melhor sistema de transporte público do país, está longe de oferecer o serviço de graça. Mas se dependesse apenas da vontade do prefeito Michael Bloomberg, estaríamos todos andando de metrô e de ônibus de graça por aqui.

Bloomberg gostaria de ver apenas bicicletas, pedestres e transporte coletivo em toda a ilha de Manhattan. No ano passado, ele afirmou: “Se fossemos desenhar um sistema de transporte público perfeito, ele teria que ser gratuito e teríamos que cobrar imposto de quem usa carro”.

Theodore Kheel, famoso advogado de direitos trabalhistas de Nova York e ativista político, defendia exatamente essa proposta. Ele morreu em 2010, mas deixou discípulos. O matemático John Bachar Jr. usou a matemática pura analisar o ar e o trânsito. Estudou o transporte de massa e o consumo de combustíveis desde 1992 até hoje.

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Concluiu: a única saída para reduzir a poluição, parar de queimar o petróleo que tem dias contados e garantir a circulação das pessoas nos centros urbanos é adotar o transporte coletivo gratuito. “O Sistema de Transporte de Massa Gratuito é a única medida efetiva de sair desse atoleiro que é o transporte universal”.

John Bachar vive na Califórnia e desenhou a saída, com solução para o financiamento. Segundo ele, é fácil cobrir os custos do transporte público e gratuito. O dinheiro viria “de uma taxa anual minúscula cobrada sobre a riqueza líquida do 1% mais rico da população adulta”.

Na Califórnia, o que isso significa? Uma taxa anual de 0,48% sobre uma riqueza de US$ 2,5 trilhões, o que renderia US$ 11,94 bilhões anuais para o sistema de transporte. Mais do que suficiente para garantir o transporte público no estado, segundo o matemático.

Ele diz que o modelo se aplica a todo o país. Depende da vontade política, da preocupação com as necessidades da maioria e com a qualidade de vida e do ar que todos nós respiramos.

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