Ferido em Fortaleza (foto repproduzida do UOL)
“Provocadores” e “infiltrados”: quando a polícia é o bando.
por Túlio Muniz*
A manifestação em Fortaleza neste dia 19 de Junho, antes do jogo das seleções brasileira e mexicana, só não reproduziu um único ponto de discórdia entre institucionalidade e população que se vê Brsil afora: em Fortaleza, o preço da passagem do transporte público não é, necessariamente, o carro chefe da revolta.
A passagem de ônibus aqui é de R$ 2,20, isso por conta de aumento recente, no apagar das luzes do governo do PT que ficou oito anos à frente da Prefeitura. E desde sábado, 15 de Junho, funciona a principal promessa eleitoral do prefeito atual, do PSB, o “Bilhete Único”, onde o usuário tem duas horas para pegar quantos ônibus quiser pagando apenas uma tarifa.
Afora isso, a manifestação reproduziu aspectos que vêm sendo registrados em todo o país: saúde, educação e, sobretudo, o despreparo e desrespeito da polícia no enfrentamento a manifestações, e a consequente reação desproporcional dos policiais diante de provocações de reduzidíssimo contingente de manifestantes.
Contra paus e pedras arremessados por alguns poucos, a polícia respondeu com balas de borracha (uma excrescência que deveria ser banida) e gases de pimenta e lacrimogêneo que acabaram por atingir milhares de manifestantes, todos instalados no sentido contra vento (inclusive este que lhes escreve).
Começou às 10h a concentração das 50 mil pessoas (estimativas da PRF, com a qual concordo), a cerca de um quilometro do estádio onde o jogo ocorreria. Às 11h seguramente havia pelo menos 10 mil pessoas no inicio da Av. Alberto Craveiro, principal acesso ao estádio. Às 12h em ponto a massa avançou cerca de 500 m na avenida, onde se instalara a primeira barreira policial.
Durante cerca de meia hora os manifestantes apelavam à não violência, inclusive com gritos de “Ou ou ou, a greve da polícia o povo apoiou”, referência à greve da PM entre dezembro de 2011 e janeiro de 2013. Ocorre que nas barreiras desta quarta estavam o Batalhão de Choque e a Cavalaria da PM cearense, setores que menos aderiram à greve.
Apoie o VIOMUNDO
É certo que alguns manifestantes atiraram paus e pedras mas, reitero, um número inexpressivo diante do contingente de manifestantes os mais variados,o que se expressava em cartazes, roupas, faixas, gritos, desde “#vempraruacristão” (sic) num cartaz manual a adolescentes com caras pintadas e camisetas com Bob Esponja, adolescentes punks, militantes do MST e do movimento Crítica Radical (de Fortaleza, anti institucional, embora não anarquista).
Visivelmente, a massa era composta um grande contingente da chamada “classe média”, estudantes ou não, que não suporta mais a violência crescente em Fortaleza nos últimos dez anos (o Mapa da Violência de 20012 situa a cidade como a quinta do país onde mais se mata).
Quando se defronta com uma polícia que deveria garantir a segurança pública com o mesmo vigor que combate à manifestações populares, é imprevisível o que está por vir. Como imprevisível foi o desfecho do protesto, com a massa bloqueando a BR 116 no seu trecho urbano que é o principal acesso à cidade e um dos principais ao estádio.
Como imprevisível será a reação do governador Cid Gomes, apupado por todos os presentes, em uníssono, como “Cid, ditador”, diante da truculência policial, essa sim a provocação infiltrada na manifestação. Se o governador endossou ou não a desnecessária ação policial, terá de lidar com os deméritos do protesto, aprofundando ainda mais o descrédito à política estadual de segurança. Se até Neymar postou críticas a ação do governo no twitter, imaginem as urnas em 2014. Imaginemos depois da Copa.
*Historiador com Graduação (2003) e Mestrado (2005) pela UFC, na qual atualmente é pesquisador recém-doutor no Programa de Pós-Graduação em História. Doutor (2011) pela Un. de Coimbra, Portugal. Jornalista Profissional (Mtb 4844jp24/55).
Leia também:





Comentários
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!