Fernando Brito: Questão de como se sentem Rosanas e Larissas

Tempo de leitura: 3 min

O que a elite brasileira vaia? 

por Fernando Brito, no Tijolaço

Larissa e Rosana são duas personagens da ótima reportagem de Natanael Damasceno e Selma Schmidt publicada hoje pelo jornal O Globo, que mostra a elevação da renda nas favelas cariocas.

Rosana nasceu, cresceu e  mora no  Morro da Providência, no Centro e abriu uma “birosca” em casa, há 18 anos. É essa moça da foto, que continua lá, mas agora dona do “Sabor das Louras” e do “Gelada do Moreno”, ambos com alvará, legalizados. Vende de 30 a 40 refeições por dia.Fatura, com a cerveja e os salgadinhos, de R$ 3 mil a R$ 4 mil.

Rosana é um sucesso que, há alguns anos, era chamado de “desordem urbana” e está procurando onde montar um restaurante, por ali mesmo.

Ela também é um exemplo dos  números do IBGE que  mostram que, em dez anos, a renda mensal das pessoas que moram em favelas do Rio cresceu 109% entre 2000 e 2010, subindo  de R$ 244 para 510, na mediana que, diferente da média, que a tudo soma e divide, passa um traço dividindo os 50% que ganham mais dos 50% que ganham menos.

Não é, porém, um fenômeno carioca. No mesmo critério, a mediana da renda mensal dos brasileiros subiu, naquela década, 89%. Passou  de R$ 200 para R$ 370.

E, ambos os casos, muito, muito pouco. Uma miséria, para não usar eufemismos.

Mas a matéria mostra que, com este tiquinho a mais e o crédito, essas pessoas agora têm geladeira, televisão, um pouco mais de conforto e até computadores, embora, em muitos casos, não tenham saneamento básico. Isso, porém, nunca tiveram, como também não tinha mais coisa alguma.

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Já Larissa mora na Barra, num condomínio do bairro, nos limites do Recreio, e sua família tem cinco carros, um para cada um: o casal e os três filhos. Gasta de gasolina e estacionamento, para ir à PUC, onde estuda, R$ 500.

Ou tudo o que um morador de favela tem para viver, vestir e alimentar os filhos.

Depois destes dois retratos, deixo ao leitor e à leitora o exercício de sociologia de imaginar se quem estava no estádio Mané Garrincha – como estaria no Maracanã – na abertura da Copa das Confederações, com ingressos que variavam entre R$ 76 (poucos, os da “categoria 4″)  e R$ 266, seria Rosana ou Larissa?

A vaia à Presidenta Dilma, assim, é só uma questão de como se sentem Rosanas e Larissas.

Embora, só no finalzinho da matéria da Folha de hoje, que “ parte da torcida passou a aplaudir a presidente” no momento dos apupos. Talvez o pessoal da “categoria 4″.

Ou de entendermos que Rosana serviria com prazer Larissa  uma “estupidamente gelada” no seu “Sabor das Louras”, quem sabe com um bolinho de abóbora com camarão. E Larissa, provavelmente, teria horror se visse da janela a portinha humilde de Rosana.

Porque, talvez, não consiga entender que este país e este planeta pertencem tanto a ela quanto pertencem a Rosana.

PS do Fernando Brito. Falando em Copa, lembrei de uma frase do Stanislau Ponte-Preta, o Sérgio Porto, que dizia que a Polícia Militar é uma instituição especializada em transformar briga em conflito generalizado. Isso, parece, vai se tornando mais verdadeiro. Fruto de governantes que querem ser “paladinos da ordem” e de uma mídia que, em nome da segurança, transformou as instituições policiais em hordas que se atiça contra os fracos. Vi, todos os dias,  o quanto Brizola pagou por não aceitar essa monstruosidade.

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