24/07/2010
iG
Diferença de metodologia explica diferença nos números?
Institutos de pesquisa diferentes podem realizar um mesmo trabalho recorrendo a metodologias distintas. É o que acontece, por exemplo, nos levantamentos eleitorais.
Tanto o Instituto Vox Populi quanto o Instituto paulista Datafolha fazem entrevistas, milhares de entrevistas, para aferir a opinião do eleitor. Acontece que os dois institutos possuem metodologias distintas para realizar levantamentos sobre intenção de voto. Isso explica eventuais variações no resultados de amostras coletadas ao longo das eleições.
Uma das principais diferenças está na “busca” pelos entrevistados. O Datafolha, por exemplo, faz a abordagem nas ruas por entender que não há como ter acesso completo a residências em determinados locais, como edifícios e favelas. Ou seja, seus pesquisadores realizam as entrevistas sem ter meios de comprovar exatamente onde as pessoas moram. Já as entrevistas do Vox Populi são pessoais e domiciliares. Os principais institutos brasileiros não aceitam pesquisas por telefone.
O desenho da amostra também varia conforme os institutos. Para montar o universo a ser pesquisado, o Datafolha utiliza informações sobre eleitores obtidas do Tribunal Superior Eleitoral e dados sobre sexo e faixa etária com base no IBGE. O Datafolha não leva em conta, porém, dados sobre escolaridade ou renda familiar mensal. Já o Vox Populi usa dados censitários do IBGE e realiza um roteiro aleatório para escolha dos domicílios. O Ibope, por sua vez, seleciona probabilisticamente os municípios e leva em conta variáveis como sexo, idade, grau de escolaridade e dependência econômica.
A ordem das perguntas também distingue a forma como os entrevistados são abordados. Por entender que a ordem pode influenciar as respostas, o Datafolha não faz perguntas que estimulem nomes de candidatos, partidos ou avaliações de governo antes das questões sobre em quem o eleitor pretende votar. Já outros institutos têm como método técnicas para “esquentar” o entrevistado – caso do Ibope, que faz as chamadas perguntas “quebra-gelo” para introduzir o entrevistado ao assunto (no caso, as eleições). Há empresas que optam em perguntar sobre a situação do País antes de aplicar os questionários da pesquisa. É comum entre institutos perguntas referente ao grau de conhecimento sobre os candidatos citados nos formulários.
O tamanho da amostra também varia entre institutos. O Datafolha considera não haver um tamanho ideal de amostra – e utiliza, para pesquisas nacionais, amostras superiores a 2.500 entrevistas e sempre margem de erro de 2%, No últimos levantamento feito pelo Vox Populi, que apontou Dilma Rousseff (PT) à frente do candidato José Serra (PSDB) na disputa presidencial (41% a 33%), foram ouvidas 3.000 pessoas, e a margem de erro foi de 1,8% para mais ou para menos – quanto maior a amostra, menor a margem de erro.
Vale lembrar também que institutos como o Vox Populi costumam ouvir eleitores que moram na zona rural , ao contrário de outras empresas, que atuam somente nas zonas urbanas. Isso também pode explicar possíveis diferenças entre sondagens.
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24.julho.2010
por Jose Roberto de Toledo
Diferenças entre pesquisas vão além da margem de erro
no Estadão
A diferença nos resultados entre as pesquisas Vox Populi e Datafolha está além da margem de erro de ambas. No cenário com os candidatos dos pequenos partidos, Dilma Rousseff (PT) tem 41% no instituto mineiro contra 36% no paulista. Aplicada a margem de erro de 2 pontos porcentuais, ela teria no mínimo 39% no Vox, ainda um ponto além do máximo a que chegaria no Datafolha (38%).
Com José Serra (PSDB), os dois institutos estão no limite de um empate técnico. Os 33% do tucano no Vox Populi poderiam ser no máximo 35%, somada a margem de erro. Feita a conta inversa com os 37% que Serra tem no Datafolha, ele chegaria a no mínimo 35%.
Não se trata de um desencontro episódico. Há meses que os resultados do Vox Populi têm sido consistentemente diferentes dos do Datafolha, e têm contado uma história com final distinto.
O instituto mineiro identificou uma aceleração mais acentuada de Dilma e sua ultrapassagem sobre Serra no final de junho, enquanto o Datafolha desde meados de maio vem mostrando um empate técnico persistente entre os dois líderes da corrida presidencial.
Tudo indica que o motivo dessa divergência seja a maneira como os dois institutos abordam e entrevistam os eleitores. Enquanto o Vox Populi faz a pesquisa na casa das pessoas, o Datafolha faz a abordagem nos chamados pontos de fluxo. Seus críticos dizem que assim o Datafolha não atinge o eleitor rural. Mas quem mora no campo também vai à cidade.
Por si só, a diferença de tipo de abordagem não deveria levar a uma divergência tão consistente nos resultados. Os números do Datafolha nas pesquisas mais recentes têm se aproximado dos do Ibope, que, como o Vox Populi, aplica 85% dos questionários nas casas dos entrevistados.
A grande diferença está na ordem e na formulação das perguntas no questionário. Antes de indagar a intenção de voto estimulada, o Vox Populi pergunta o grau de conhecimento que o eleitor tem de cada um dos três principais candidatos, citando seus nomes duas vezes, e assim, estimulando a memória dos entrevistados.
Em seguida, o pesquisador do Vox Populi pergunta em qual dos candidatos o eleitor votaria e mostra uma cartela em que, ao lado dos nomes dos presidenciáveis, está escrito o partido de cada um deles. São duas informações que não necessariamente estavam associadas na cabeça do eleitor e que, juntas, podem levá-lo a optar pelo candidato do partido A ou do partido B.




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