Ângela Carrato: As baixarias da campanha eleitoral de 2026 contra Lula e PT já começaram

Tempo de leitura: 7 min
Presidente Lula durante entrevista coletiva, no Palácio do Planalto, em 18 de dezembro de 2025. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Por Ângela Carrato*

“Quando chegar na minha mesa, eu vou vetar”. Esta foi a resposta do presidente Lula ao ser indagado, durante entrevista coletiva nesta quinta-feira (18), sobre a posição que adotará em se tratando do projeto da dosimetria.

Ao responder de forma direta, o presidente deu mostras de que, finalmente, o Palácio do Planalto aprendeu a combater, no nascedouro, fake news dos extremos, direita e esquerda.

A aprovação final deste projeto pelo Senado aconteceu no dia anterior e estava sendo utilizada para espalhar a versão mentirosa de que só teria sido possível graças a um “acordão” que incluiu o governo, o PT e o próprio STF.

O objetivo da fake news, que chegou a provocar críticas ao governo na mídia corporativa e reações indignadas de integrantes do campo progressista nas redes sociais, era atritar Lula com a sua base social e espalhar a dúvida em se tratando do futuro dos golpistas presos e dos que ainda estão em vias de serem julgados.

De forma irônica, o presidente lembrou que, “se houve acordo, não fui informado”, acrescentando que “o que aconteceu em 8 de janeiro de 2023 foi muito sério e não podemos esquecer. Os julgamentos ainda estão acontecendo”. Indo além, disse que falta descobrir quem financiou a tentativa de golpe.

Habilidoso, o presidente evitou entrar no mérito da posição adotada pelos parlamentares, lembrando que se o Congresso Nacional tem o direito de aprovar o que bem entende, ele tem o direito de vetar e o Congresso de derrubar o veto dele.

A decisão final se o veto de Lula for derrubado, ficará por conta do STF e é muito pouco provável que a Corte seja favorável a uma medida inconstitucional.

Basta lembrar que o projeto da dosimetria nada mais é do que a tentativa de reduzir drasticamente as penas recebidas pelos golpistas e tem como objetivo beneficiar um grupo específico, o que é vedado pela Constituição.

Jair Bolsonaro, por exemplo, teria sua pena de 27 anos e três meses diminuídos para pouco mais de três anos.

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Quando o relator tentou corrigir o projeto da dosimetria, a emenda ficou pior do que o soneto, pois reduziria também as penas de todos os tipos de criminosos, inclusive os de altíssima periculosidade.

Não havia a menor dúvida de que o Senado iria aprovar o projeto da dosimetria, mesmo após as enormes manifestações populares contrárias à medida no último domingo. Além de uma maioria de políticos de direita e de extrema-direita, o seu presidente Davi Alcolumbre precisava dar uma demonstração de força para o STF e para o próprio governo Lula.

Alcolumbre, como o presidente da Câmara dos deputados, Hugo Motta, estão apavorados com as operações da Polícia Federal que, a cada dia, apertam mais o cerco contra aliados e amigos deles.

Curiosamente, Motta, através de ato da mesa diretora da Câmara dos Deputados, cassou nesta quinta-feira, os mandatos dos deputados Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem, o primeiro por estar há meses nos Estados Unidos e o segundo, por já sentenciado, ter fugido para os Estados Unidos.

Agindo assim, Motta tenta se afastar dos golpistas e da extrema-direita.

Desde a Operação Carbono Oculto, que atingiu a avenida Faria Lima, o coração financeiro de São Paulo, ao mostrar o envolvimento de parlamentares com a lavagem de dinheiro do PCC por fintechs, bateu desespero na extrema-direita. Os apoiadores da possível candidatura do governador de São Paulo,

Tarcísio de Freitas, à presidência da República em 2026 perderam o rumo, pois a operação chegou próximo da antessala dele no Palácio dos Bandeirantes.

A situação ficou mais complicada ainda, quando o ex-presidente Bolsonaro, passando por cima da expectativa da Faria Lima, resolveu anunciar que o nome que terá seu apoio em 2026 é o do seu filho, Flávio, e não o de Tarcísio de Freitas, como gostaria o mercado financeiro.

Desde então, a mídia corporativa, que é o maior partido de direita no Brasil, mostra-se tão ou mais desesperada que os políticos de oposição diante da possibilidade, cada dia maior, de Lula vencer para um novo mandato.

Daí a proliferação de fake news como tentativa para desgastar o governo, provocar uma crise institucional ou mesmo fazer com que Lula chegue enfraquecido na disputa pelo novo mandato.

Justificativa deste desespero são também as sucessivas candidaturas na extrema-direita que, mesmo infladas e divulgadas à exaustão, não ganham apoio junto à opinião pública.

Nomes como Romeu Zema e Ronaldo Caiado simplesmente não emplacam. O grupo Globo, depois do esfriamento do nome de Tarcísio, parece ter abraçado a pré-candidatura do governador do Paraná, Ratinho Jr.

Só que o Brasil não é o Paraná e o nome Ratinho, vamos e venhamos, não ajuda em nada.

O desespero da mídia corporativa explica ainda o fato de ter divulgado com enorme rapidez e sem qualquer apuração que houve acordão para reduzir as penas de todos os golpistas, tentando misturar, aos olhos do cidadão comum, alhos com bugalhos, justificando frases como “todo político é igual”.

A esquerda “caviar” também embarcou nesta conversa e saiu gritando que foi “traída”, que “nunca mais irá às ruas” e “não votará mais no PT”.

A boataria foi tamanha e as fake news começaram a se avolumar de tal forma que Lula fez o certo: convocou uma entrevista coletiva para fazer o balanço das atividades do governo em 2025. E, claro, as pergunta que abriram a entrevista não poderiam ter sido outras.

– Houve acordão?

– O senhor vai vetar o projeto da dosimetria?

Como tem acontecido nas sessões deliberativas na Câmara e no Senado, quando da aprovação do projeto da dosimetria houve muita confusão.

O governo queria e conseguiu que fosse incluída na pauta de votação do dia na Câmara dos Deputados, o projeto que taxa as bets.

Talvez a confusão tenha se originado neste momento, pois o líder do governo no Senado, Jacques Wagner, aceitou votar a dosimetria desde que as bets também entrassem em pauta no Senado ainda este ano.

A taxação das bets, fintechs e de Juros sobre Capital Próprio (JCP) foram aprovadas na Câmara.

Se a aprovação for confirmada pelo Senado, o governo terá cerca de R$ 22,45 bilhões a mais para o orçamento de 2026.

A medida foi aprovada na Câmara, como queria o governo. A dosimetria também foi aprovada no Senado, mas com um detalhe fundamental: todos do PT votaram contra ela.

Quanto à chamada “base governista”, é mais do que sabido que, mesmo tendo assento no ministério, sistematicamente vota contra o governo.

Setores da mídia corporativa e influenciadores nas redes sociais chegaram a afirmar que Jacques Wagner tinha negociado a aprovação da dosimetria, no mentiroso “acordão”.

Afirmação que não faz o menor sentido, seja porque o PT votou contra, seja porque a oposição tinha número suficiente para aprová-la, como acabou acontecendo.

Pelo visto, também neste aspecto, o governo deu mais um tremendo drible na oposição.

Drible que Lula citou, mas evitou qualquer tom de comemoração, lembrando que mesmo tendo minoria na Câmara e no Senado, conseguiu aprovar 99% das medidas econômicas enviadas ao Legislativo.

Fato que, segundo ele, transforma este ano em momento de “colheita”, ao passo que o ano que vem será a hora da “da verdade”, com cada um, governadores e candidatos, mostrando o que fizeram.

Esta recente ofensiva da extrema-direita não se limitou à fake news sobre acordão. Ela tentou tirar de cena a grande revelação sobre a Operação Lava Jato e seus principais dirigentes, o então juiz Sérgio Moro, e o então procurador federal Deltan Dallagnol.

A PF encontrou na busca e apreensão que fez na 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, documentação que comprova que Moro e sua equipe grampearam ilegalmente empresários, magistrados, políticos e a própria presidente Dilma Rousseff, como há três anos e meio denuncia o ex-deputado e empresário Tony Garcia, ele próprio usado por Moro para tais finalidades.

Em qualquer país, essa documentação seria suficiente para levar a dupla Moro-Dallagnol à cadeia.

Aqui possivelmente também levará, mas como Moro tem mandato de senador e conta com apoio de poderosas forças nacionais e internacionais, o processo será mais longo, mesmo começando a se afunilar com rapidez.

Não faltam previsões de que até o meio do próximo ano, Moro pode estar preso.

A ação da PF deveria ter rendido manchetes nos principais telejornais e jornais do país, mas acabou envolta num silêncio absoluto. Silêncio dos mais reveladores.

É que toda a mídia corporativa, grupo Globo à frente, foi fundamental para transformar a criminosa Operação Lava Jato, Moro e Dallagnol em “heróis no combate à corrupção”, quando, na verdade, eram verdadeiros vilões.

A TV Globo, por exemplo, insiste em desconhecer a série de reportagens do portal The Intercept Brasil, denominada #VazaJato, que, há seis anos, revelou diálogos os mais comprometedores entre Moro, Dallagnol e equipe, no qual tramavam contra Lula.

Dallagnol, até o último momento, tinha dúvida se o triplex era mesmo de Lula, mas nem ele e nem Moro, vacilaram ao acusar e sentenciar o ex-presidente. Acusação que contou com as digitais de integrantes do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Nos últimos três dias, a TV Globo manteve total silêncio sobre as novas revelações da PF, que agravam em muito a situação de Moro, pois se as provas da #VazaJato não tinham valor legal, as de agora têm.

Tanto que numa espécie de resposta de Moro às revelações da PF, uma ala da própria PF (é minha gente, a PF ainda tem uma ala lavajatista) realizou na manhã desta mesma quinta-feira, operação de busca e apreensão envolvendo suspeitos de descontos indevidos de aposentados e pensionistas do INSS.

A operação foi determinada pelo ministro do STF, André Mendonça, cuja proximidade com Bolsonaro e com os lavajatistas não é nenhuma novidade. A operação atingiu o vice-líder do governo no Senado, Weverton Rocha (PDT-MA) e o secretário-executivo do ministério da Previdência Social, Adroaldo Portal.

Questionado sobre o assunto, Lula foi direto ao ponto: quem cometeu erro tem que pagar pelo que fez.

Weverton e Adroaldo são considerados nomes progressistas e estiveram contra o golpe, travestido de impeachment, contra a presidente Dilma Rousseff. Weverton não foi preso. Adroaldo foi. Ambos foram citados em denúncias do “Careca” do INSS.

Denúncias que precisarão ser comprovadas.

Lula não moveu uma palha por eles. Adroaldo, inclusive, foi imediatamente exonerado do INSS.

Mais duro ainda, o presidente sequer polemizou quando um repórter, durante a entrevista coletiva, citou injustamente seu irmão e um dos seus filhos como suspeitos de envolvimento com grupos que lesaram aposentados.

Lula poderia ter rebatido lembrando, por exemplo, que o jornal Folha de S. Paulo, sem ter feito qualquer apuração, citou seu irmão como se fosse o “dono” de um sindicato que aparece nas investigações, quando, na época, nem cargo na diretoria ele possuía.

Já seu filho, cujas acusações no passado envolveram desde ser dono da gigante Friboi, passando por mansão em São Paulo e Ferrari revestida em ouro, agora é acusado de ter viajado no mesmo voo de um dos acusados de fraudar aposentados. Motivo para merecer delação do “Careca” do INSS.

Lula fez bem ao não polemizar e nem cair neste tipo de armadilha que a mídia corporativa utiliza com frequência. Frisou que a decisão de apurar corrupção no INSS foi do seu governo, mesmo os descontos indevidos tendo começado no governo anterior, deixando claro que todos podem ser investigados, seu filho, um ministro, quem quer que seja, sendo inadmissível a apropriação do dinheiro já curto dos aposentados.

Pela amostragem do que se viu nesta semana que antecede ao Natal, período geralmente tranquilo, o que vem por aí é muita fumaça e muitas fake news sempre empoderadas pela mídia golpista, pela extrema-direita e pela esquerda “caviar”.

As fake news vão ser rebatidas na lata pelo governo.

Os golpistas vão continuar presos e cumprindo suas respectivas penas.

No mais, o que estamos assistindo é o começo da campanha eleitoral de 2026, com toda a canalhice e baixaria que ela promete.

Ângela Carrato é jornalista, professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG. Membro do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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