Come Ananás: “Arranca a cabeça e deixa pendurada”

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Ilustração: Ildo Nascimento (instagram.com/ildo.nascimento.31)

“Arranca a cabeça e deixa pendurada”

Um terço dos mandados levados pelas “tropas de elite” de Castro para o massacre na Penha e o Alemão foram expedidos pela Justiça do Pará, onde a “tropa de elite” da PM tem um cântico de decapitação

Por Hugo Souza, no Come Ananás

Um dos mortos na megachacina de Claudio Castro nos complexos da Penha e do Alemão foi Iago Ravel Rodrigues Rosário, de 19 anos. Moradores encontraram Iago decapitado na mata da Vacaria, no alto da serra que numa ironia se chama da Misericórdia. Vídeos mostram o corpo de Iago estirado no chão e a cabeça, arrancada, pendurada numa árvore.

Outro vídeo, este de alguns anos atrás, mostra policiais da “tropa de elite” da Polícia Militar do Pará, a Rotam, entoando o seguinte cântico de guerra na presença do governador Helder Barbalho: “Arranca a cabeça e deixa pendurada/É a Rotam patrulhando a noite inteira/Pena de morte à moda brasileira”.

A Megaoperação Contenção, levada a cabo na última terça-feira, 28, na Penha e no Alemão pelas “tropas de elite” das polícias Civil e Militar do Rio, tinha como objetivo divulgado cumprir quase 100 mandados de prisão.

Destes, 32 — cerca de um terço — foram expedidos pela Justiça do Pará contra “alvos paraenses” que se deslocaram para o Rio, de onde teriam continuado a articular ações criminosas no estado da Região Norte.

Na última quarta-feira, 29, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) informou que dos 32 mandados de prisão deferidos pela Justiça do estado, cinco foram cumpridos e “outros 15 homens, alvos da operação, morreram ao entrar em confronto com os agentes de segurança”. Um dos mortos, segundo a Segup, teria ordenado um ataque recente a policiais em Belém.

Em 2023, Helder Barbalho condecorou com a Láurea do Mérito Operacional 22 policiais paraenses que participaram de uma operação contra o Comando Vermelho no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. Treze pessoas foram mortas naquela operação. Entre elas, o chefe do CV no Pará, Leonardo Araújo, conhecido como “Léo 41”.

Alguns veículos de imprensa, como o Metrópoles, afirmam que Megaoperação Contenção foi uma “operação conjunta das forças de segurança do Rio de Janeiro e do Pará”, mas não há confirmação oficial de que policiais do Pará tenham participado da carnificina desta semana na Zona Norte do Rio.

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Há “apenas” 132 mortos, um deles cortado em dois, de uma só tacada: a tacada necropolítica de Claudio Castro — do bolsonarismo — visando as eleições de 2026, mas não “apenas”.

Os filmes Tropa de Elite são o que são: apologias da “pena de morte à moda brasileira” premiadas no Festival de Berlim. Tropa de Elite 2, não obstante, traz verdades.

O filme, que trata da ascensão das milícias, mostra que no Rio de Janeiro, hoje — e não é de hoje — não há grande operação policial que não seja balizada, decidida, desencadeada antes de tudo pela conquista, reconquista ou defesa miliciana de territórios.

“Quem disse que foi a polícia que cortou a cabeça?”, disse nesta quinta-feira, 30, o secretário de Policia Civil do Rio de Janeiro, o delegado Felipe Curi, respondendo com frieza, por assim dizer, a questionamentos sobre a decapitação de Iago Ravel Rodrigues Rosário no maciço da serra da Misericórdia.

Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Comentários

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Heitor Horacio

O Estado policialesco faliu em 1985, pois o povo nao aguentava mais os esquadroes da morte e junto com esse Estado faliu a Economia do Brasil com um monte de gente desempregada e passando fome nos anos 80. Mas os generais sairam muito bem $$$ do governo.
Será que foi o cabo e o soldado que vazaram a operaçao para os cappos do CV ou aquele Major da reportagem atras do possante.
Deve ter sido o verdadeiro dono da droga. O verdadeiro Cappo.
Operaçao sinistra.
Mas entendo a raiva dos policiais.
Se a matança generalizada se espalha pelas cidades do Brasil nem a policia estará a salvo. Ja vimos esse filme real e nao foi Tropa de Elite.
Perdemos colegas policiais …

Heitor Horacio

Tem politico ai que so ta interessado em voto. Nao se enganem.

Bernardo

A ideologia e a formação das PMs são voltadas para a guerra e não para a segurança. Encaram as pessoas como inimigos e usam táticas e estratégias militares de guerra. Tudo isso aliado à baixa qualidade dos responsáveis pelo tema da segurança gera um morticínio desnecessário. No caso do Rio fizeram um puxadinho de Gaza. Sem o governo federal nenhum governo estadual dará resposta adequada.

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