Por Roberto Amaral*
“A fraqueza clássica, quase congênita, da consciência nacional dos países subdesenvolvidos não é somente a consequência da mutilação do homem colonizado pelo regime colonial. É também o resultado da preguiça da burguesia nacional, de sua indigência, da formação profundamente cosmopolita de seu espírito” – Frantz Fanon, Os condenados da terra.
O colonialismo não se manifesta apenas pela sua aparência mais ostensiva ou grosseira: o poder militar e econômico, uma só unidade, alimentada por polos imbricados, canais comunicantes.
Os fuzileiros navais, as invasões, as conquistas de territórios, o arsenal atômico, os bloqueios e as tarifas fazem o pano de fundo da guerra ideológica — a essencial, a perdurante, glamorosa e insidiosa como Hollywood, mas igualmente letal: ela se embrenha nos corações e nas mentes, domina a alma de suas vítimas.
A preeminência estadunidense, como a britânica que nos malsinou no Império, não é, porém, um determinismo.
O mandato dos impérios está subordinado ao que habitualmente chamamos de “ciclos históricos”, que conhecemos tanto apogeu quanto declínio, e entre um tempo e outro, as guerras que montam e desmontam reinos e fantasias, como o sonho do III Reich.
O persistente é uma dominação ideológica. Vão-se os exércitos de ocupação, cortam-se os laços da dependência econômica, mas permanecem a preeminência ideológica — de todas as formas de dominação, a mais daninha e a mais difícil de erradicar, porque reinante na visão do mundo do colonizado.
O “liberto”, embora politicamente livre, permanece colonizado quando não se desvincula do papel de transmissor do pensamento da matriz. Sua cultura é subsumida pelo que vem de fora, dominante simplesmente porque vem do centro hegemônico: como importa coisas, bens materiais, bijuterias, bugigangas e capital, o colonizado importa ideias, assimila conceitos, instituições e, finalmente, visão de mundo; aprende a considerar a superioridade do “outro” — mais forte, mais belo, mais inteligente, rico e poderoso graças aos seus próprios méritos, prenda de uma raça superior, por isso mesmo designado ao mando.
É, em síntese, a interiorização pelo dominado dos valores e com base na cultura dominante, naturalizando a dominação; o colonizado é agente de reprodução da ordem social que o oprime.
Festejados intérpretes de nossa história, por sua vez reprodutores da mistificação das teorias da eugenia que dominaram a Europa no século XIX, procuraram explicar o incômodo atraso do desenvolvimento brasileiro, vis-à-vis aos EUA, para assim naturalizá-lo, como inarredável decorrência de nossa “pobreza” racial ou étnica.
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Pontificaram nessa linha, entre muitos, médicos, antropólogos, filósofos e historiadores como Silvio Romero, Nina Rodrigues e Oliveira Viana: no Norte, uma colonização anglo-saxônica, assim “superiora”, protestantes voltados ao trabalho e ao lucro, que chegaram com suas famílias e liam a Bíblia antes de conduzir seus escravos no eito.
Aqui, a colonização levou a cabo por portugueses mestiços e católicos, negros deprimidos e índios indolentes, mal saídos da pedra lascada. Besteirada em que se destacou Vianna Moog (Bandeirantes e pioneiros).
Os “intérpretes”, eles por sua vez reprodutores da ideologia do colonialismo, se esquivaram de registrar as implicações da presença do braço negro escravizado no sucesso da colonização dos EUA. O registro relativo aos indígenas dá conta de seu massacre, necessário para uma grande obra civilizatória.
Assim opera a hegemonia cultural da classe dominante
Em 1950, a derrota da Copa do Mundo de futebol, que o Brasil fora determinada a ganhar, explicou-se pela presença dominante e majoritária de negros na final contra o Uruguai, uma ex-província ingrata do Império brasileiro. Nelson Rodrigues, sensor da alma brasileira, reagiu ao bestialógico construindo o conceito de “complexo de vira-lata”, com o que define o sentimento de inferiorização naturalizado entre nós.
Desprovidos de uma visão própria de si e do mundo, seríamos um povo à mistura de si mesmo; despojados de orgulho nacional, nos pejamos na idolatria do mais forte. Dela padecemos, e ela é visível tanto na ação de políticos e partidos de direita — no Brasil, exemplarmente entreguistas — quanto na apatia de segmentos significativos do que costumeiramente chamamos de sociedade civil.
O sentimento registrado pelo dramaturgo é uma ideologia da classe dominante brasileira, e permeia hoje nossa sociedade.
Vicente Rao, ativo ao governo título de Café Filho (agosto de 1954 a novembro de 1955), declara, sob os aplausos da grande imprensa: “O Brasil está fadado a ser, por tempo indefinido, um satélite dos EUA”.
Nada distinto do que ouvimos do general Juraci Magalhães, nosso embaixador em Washington (junho de 1964): “O que é bom para os EUA é bom para o Brasil”.
Mais recentemente (2001), no discurso de transmissão do cargo de Ministro das Relações Exteriores ao professor e empresário Celso Lafer — aquele chanceler notabilizado por tirar os sapatos e as meias para adesão na “América” —, o diplomata de carreira Luiz Felipe Lampreia proclamava de peito entufado: “O Brasil não pode querer ser mais do que é”.
Essas reflexões me ocorreram quando, há poucos dias, assisti à inquirição a que foi apresentado o embaixador Celso Amorim no programa Roda Viva, da TV Cultura.
Essas reflexões me ocorreram quando, há poucos dias, assisti à inquirição a que foi apresentado o embaixador Celso Amorim no programa Roda Viva , da TV Cultura.
A bancada de jornalistas, representantes do mainstream da imprensa brasileira, cientes de seus valores, reclamaram para o “pavio curto” da ocorrência brasileira aos ataques dos EUA e à resistência de Lula nas críticas a Donald Trump, que, vale registrar, o ofendeu — e a nós — endereçando ao presidente da República carta pública que, ademais de desrespeitar normas diplomáticas e de mínima civilidade, impõe as medidas escondidas que agridem nossa dignidade e ameaçam a economia nacional.
Um delegado do sionismo pôs em xeque o rigor de nossa denúncia de genocídio contra o povo palestino. Muitos estranharam estar o presidente Lula a encetar diálogo com presidentes de nações amigas (como a China, nosso maior parceiro comercial, e a Índia, a maior população do mundo), e o Japão, em busca de novos mercados para nossas exportações, ao invés de se dedicar a salamaleques com o magnata, como cobra o empresariado — fingindo ignorar que o secretário do Tesouro dos EUA acabara de rejeitar a audiência prometida ao ministro Fernando Haddad; sem considerar que Trump pressionou os países com os quais cedeu negociar a redução das compras de soja e algodão brasileiro, e que o Departamento de Estado acabou de dar um comunicado público em que nos acusa País de suprimir a livre expressão ao importar limites à ação das plataformas digitais.
O mesmo texto aponta, como sinal de ameaça aos direitos humanos no Brasil, as “perseguições” judiciais ao capitão Bolsonaro e seus asseclas que invadiram as sedes dos poderes três na frustrada tentativa de golpe de 8 de Janeiro de 2023.
E por aí a entrevista, conduzida por uma bancada muito menos comprometida do que Amorim merece, e a audiência brasileira tem direito de exigir. É a miséria do jornalismo.
Reagindo ao ataque, o governo federal, para salvar os empresários exportadores (maioritariamente operadores do agronegócio) da chantagem de Trump, abriu-lhes um crédito subsidiado de 30 bilhões de reais, adiou o pagamento de impostos, abriu as portas para compras governamentais do excedente de produção não exportado, pedindo (isto é, sem condicionar) o único compromisso de manter os empregos de seus trabalhadores — o que, a experiência ensina, não será cumprido.
Mas o capital não se satisfaz. Diz, por meio de seus porta-vozes, que “Lula precisa fazer um gesto e buscar um canal com a Casa Branca” (Malu Gaspar, O Globo, 14/08/2025).
Na mesma toada, o governador-presidenciável de São Paulo e seu colega governador do DF escrevem ao presidente dos EUA. Este, sob o pretexto de explicar a violência na capital da República, acusa o governo brasileiro “de não acreditar no diálogo” e pede crédito por ter promovido reunião de governadores para defender a abertura de diálogo entre Brasil e EUA — diálogo que não teve a dignidade (pode-se esperar dignidade de Sua Excelência?) de registrador ter sido rompido por Trump.
O Congresso, iniciado reacionário, dirigido politicamente pela extrema-direita brasileira, por sua vez guiado pela extrema-direita dos EUA, governante a partir da Casa Branca, promove a revisão dos principais direitos conquistados pela Constituinte de 1987-88. Avança um golpe de Estado que, desta feita, ainda dispensa o concurso da caserna.
E a sociedade silenciada; as ruas estão quietas e vazias, o País em relativa calmaria; não se registram incômodos cívicos.
A Academia rumina em paz celestial: as bolsas de pesquisa (de valores irrisórios) em dia, os restaurantes universitários em funcionamento e os movimentos (amesquinhados) dos professores pagos.
Os sindicatos, esvaziados em sua capacidade de mobilização por razões consabidas, mal conseguem cuidar dos reajustes salariais de suas categorias. O movimento vem da extrema-direita arruaceira tomando de assalto o Congresso e desmoralizando suas mesas diretoras, na tentativa de, açulada por Trump, impor a impunidade dos golpistas.
A falência de um sentimento coletivo pode ser o fim da aspiração de um povo que já pretendeu ser algo distinto de uma simples aglomeração populacional.
Talvez seja esta a crise mais grave desde 1964. Trata-se de crise da política, que arrasta a institucionalidade, mas vai além dela. É preciso reagir já, sem cairmos na ilusão de que tudo se retome à disputa eleitoral e de que ocupar o Planalto é o mesmo que dissuade o poder.
***
Cavalaria inimiga — “Um grupo de oficiais da reserva ligado ao governo de Jair Bolsonaro tentou escalar a crise política, levando-a para dentro dos quartéis. Foram neutralizados, sem a necessidade de nenhuma conversa no Forte de Caxias para eles importam aquilo que diziam defensor quando estavam na ativa: disciplina. […] O radicalismo é assim. Parece ombrear com os que defendem o Brasil, mas, ao fim e ao cabo, são autores de crimes, massacres, conspurcações e badernas” (Marcelo Godoy, Estadão, 08/12/2025).
Michel Misse foi para Maracangalha — “ Eu vou pra Maracangalha / Eu vou , cantávamos na saída e chegada do nosso bloco de Carnaval, ano após ano, aqui do lado, na Cobal do Humaitá, zona sul do Rio de Janeiro. Michel, além de fundador, era o puxador de samba e um mestre de cerimônia. Braços abertos para cada um que chegava para se somar à vontade de vida. Elegância na voz, delicadeza nos movimentos, cortesia no trato e alegria. com arte, entre a música e as ciências sociais, como quem costura ritmos e ideias num mesmo tecido colorido. […] Michel foi hoje para Maracangalha. Mas não foi só. amanhã!” (Jaqueline Muniz). À poesia de Jacqueline junto à minha saudade do amigo que partiu.
American Way — Scott Bessent, o secretário do Tesouro dos EUA que recentemente cancelou de última hora uma reunião virtual com o ministro Haddad (pelo que consta ministro Haddad (pelo que consta, após interferência espúria de um golpista foragido), afirma que a China é a economia mais desequilibrada da história moderna — isto, segundo ele, por estar fora da busca do emprego e não da lucratividade. O melhor modelo é o dos EUA, onde cerca de 42 milhões de pessoas (12% da população) sobreviveram à base de vale-refeição e 46 milhões não conseguiram sequer acessar serviços de saúde…
Este artigo foi publicado em CartaCapital, edição de 14/08/2025
*Roberto Amaral foi presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula. É autor do livro História do presente – conciliação, desigualdade e desafios (Editora Expressão Popular e Books Kindle).
*O artigo teve a colaboração de Pedro Amaral.
Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Comentários
Zé Maria
BRICS lança seu próprio ‘Pix’ para
derrubar dependência do dólar
O bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul acelera a criação de uma plataforma própria de liquidação financeira, chamada BRICS Pay, que tem como objetivo diminuir o uso do dólar nas transações internacionais entre seus membros.
A iniciativa é vista como um dos movimentos mais ambiciosos do grupo para reforçar sua posição no comércio global e reduzir vulnerabilidades a sanções impostas por potências ocidentais.
O que é o BRICS Pay?
O BRICS Pay é concebido como um sistema de mensagens e liquidação financeira descentralizado.
Ele funcionaria como um canal seguro que permite a realização de pagamentos internacionais diretamente nas moedas locais dos países membros — como Real [Brasil], Rublo [Rússia], Rúpia [Índia], Yuan [China] e Rand [África do Sul].
Inspirado em modelos já utilizados pela China e pela Rússia, o sistema busca interligar os bancos centrais e instituições financeiras do bloco, permitindo que empresas realizem exportações e importações sem a necessidade de conversão para o dólar ou o euro.
Diferentemente de uma moeda única, que ainda permanece como hipótese em discussões teóricas, a proposta concentra-se em facilitar o uso prático e integrado das moedas nacionais.
Motivações para reduzir o uso do dólar
Desde a Segunda Guerra Mundial, o dólar consolidou-se como a principal moeda de referência no comércio internacional, respondendo atualmente por cerca de 84% das transações globais.
Esse domínio garante aos Estados Unidos vantagens estratégicas e a capacidade de aplicar sanções financeiras que podem excluir países de sistemas como o SWIFT.
Para o BRICS, a dependência dessa estrutura representa risco político e econômico.
A conversão cambial para o dólar também eleva custos de operação e reduz a competitividade de exportações, especialmente em momentos de instabilidade.
Avanços recentes
Na cúpula realizada em julho de 2025, os líderes do bloco reafirmaram a intenção de acelerar o desenvolvimento do sistema.
China e Rússia, que já possuem alternativas nacionais ao SWIFT, lideram a fase inicial de testes.
O Brasil sinalizou adesão, especialmente visando expandir exportações de produtos agrícolas e energéticos.
Países recém-ingressos [Brics+], como Egito e Emirados Árabes Unidos, também podem se beneficiar da integração, ampliando a rede de comércio sem depender do dólar.
Impactos positivos para o Brasil
A adesão ao BRICS Pay pode trazer ganhos relevantes para o comércio exterior brasileiro:
Redução de custos cambiais: exportadores poderiam receber diretamente em moedas como yuan ou rúpia, convertendo para reais com menor perda.
Diversificação de mercados: a ferramenta pode facilitar negociações com parceiros como Irã e Emirados Árabes, que importam grandes volumes de alimentos e combustíveis.
Fortalecimento da autonomia econômica:
ao reduzir a exposição ao dólar, o Brasil pode atenuar riscos associados a disputas comerciais ou sanções..
Perspectivas e cenários futuros
Economistas avaliam que, caso seja consolidado, o BRICS Pay pode representar a maior mudança no comércio internacional desde a criação do euro. Projeções otimistas indicam que até 2030 o sistema poderia movimentar centenas de bilhões de dólares em transações anuais — sem usar a moeda americana.
Por outro lado, se enfrentar resistência interna ou falhas técnicas, a iniciativa pode se restringir a acordos bilaterais entre poucos países, perdendo relevância global.
Conclusão
O BRICS Pay surge como uma aposta estratégica do bloco para reduzir a hegemonia do dólar e criar maior resiliência financeira no Sul Global.
Para o Brasil, a plataforma representa a possibilidade de ampliar mercados, reduzir custos e reforçar a soberania econômica.
O êxito, porém, dependerá da cooperação entre os membros, da superação de barreiras técnicas e da capacidade de enfrentar resistências geopolíticas.
https://www.ocafezinho.com/2025/08/14/brics-lanca-seu-proprio-pix-para-derrubar-dependencia-do-dolar/
Zé Maria
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[Make American Pure White
And isRéu Exclusively Jewish]
[O Temor dos NeoNazistas Estadunidenses de que
“os Negros e Hispânicos se tornem Maioria nos Estados Unidos DA América” é Equivalente ao Medo dos Sionistas
de que os Não-Judeus se tornem Maioria em isRéu.
No fundo, são Dois Países majoritariamente Racistas.]
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“EUGENIA EM NOVO FORMATO”
“Ideias que Hitler Copiou dos EUA Renascem sob Trump”
[Reportagem: Luiz Carlos Azenha | Revista Fórum Nº 176]
Ideias que o governo de Adolf Hitler eventualmente adotou
na Alemanha, que tomaram forma nos Estados Unidos,
estão ressurgindo sob Donald Trump.
De acordo com a porta-voz da Casa Branca,
os estimados 800 sem teto que moram nas ruas
de Washington DC podem ser multados ou presos
se não aceitarem se mudar para abrigos ou receber
‘tratamento compulsório’.
Não houve menção até agora a qualquer projeto social
para tirá-los da miséria.
É uma questão de estética urbana.
Trump, que atropelou políticos locais para assumir o controle
da polícia do Distrito de Columbia [Washington DC], tem
um projeto higienista que pretende ampliar para outras
cidades governadas por democratas, como Chicago e
Los Angeles.
Não é um acaso que as três cidades são governadas
por democratas negros, duas delas por mulheres.
Vingança Ditatorial
Além de se tratar de uma vendetta política contra adversários,
em regiões onde perdeu as eleições em 2024, as decisões
de Trump representam uma violação das bases do
federalismo estadunidense, que dá grande autonomia
a estados, condados e municipalidades.
“Trump declarou guerra contra os pobres”, afirmou o
prefeito de Chicago, Brandon Johnson, que foi chamado
de “incompetente” pelo presidente.
Depois de redecorar todo o salão Oval com frisos
dourados e candelabros de gosto duvidoso, Donald
Trump agora quer “embelezar” as cidades estadunidenses,
escondendo a pobreza — majoritariamente parda e negra.
A Eugenia, de Volta em Novo ‘Sabor’
As ideias de hierarquizar raças foram desenvolvidas no
momento em que o capitalismo se expandia e buscava
recursos e mercados à força, na América Latina, África
e Ásia.
O britânico Francis Galton cunhou a frase “eugenia”
em 1883.
A ideia era “aprimorar” o estoque genético humano.
As ideias dele logo ganharam muita força nos Estados
Unidos e em vários países da Europa.
O livro “Guerra Contra os Fracos” (War Against the Weak)
descreve brilhantemente que a pseudociência da eugenia
foi abraçada de tal forma pela comunidade científica
dos EUA que cerca de 60 mil pessoas foram esterilizadas
forçosamente, a maioria de negros.
Na categoria dos que eram chamados de “feeble minded”,
ou genericamente ‘bobos’, estavam incluídos miseráveis
e pessoas com algum tipo de deficiência física ou mental,
vistas então como “poluidoras” do pool genético.
Steven Farber, que estudou o movimento nos EUA,
escreveu que o regime nazista de Hitler adotou ideias
gestadas nos Estados Unidos:
“O que muitas vezes não é reconhecido é que os esforços
nazistas foram reforçados pelas obras publicadas pelo
movimento eugenista estadunidense como a base intelectual
de suas políticas sociais.
Um dos primeiros atos de Hitler após assumir o controle
do governo alemão foi a aprovação da ‘Lei para a Prevenção
de Descendentes com Doenças Hereditárias’ em julho
de 1933.”
Os nazistas, ao proporem seu próprio programa de esterilização,
mencionaram especificamente o “sucesso das leis de
esterilização na Califórnia”, documentado principalmente
pelo eugenista americano P.B. Popenoe.
O programa nazista resultou na esterilização de 360.000
a 375.000 pessoas.
Genes Brancos e “Limpos”
Durante a campanha eleitoral, centrada na ideia falsa de
que os imigrantes estavam comendo animais de estimação
nos Estados Unidos, Donald Trump disse uma frase que
caberia perfeitamente num discurso eugenista:
“Muitos deles [imigrantes] assassinaram muito mais de
uma pessoa e agora vivem felizes nos Estados Unidos.
Sabe, agora são assassinos, eu acredito nisso, está nos
genes deles.
E temos muitos genes ruins em nosso país atualmente.”
“Eu quero mais bebês nos Estados Unidos”, disse o vice-
presidente JD Vance em seu primeiro discurso, como
parte de um movimento pró-natalista que tem o apoio
do MAGA e engajamento da extrema-direita.
A preocupação de que os negros e hispânicos se tornem
maioria no país é um dos combustíveis do movimento.
Mulheres Como ‘Parideiras’
A professora de História Laura Lovett escreveu um livro
em que sustenta que há grande preocupação dos
conservadores em recolocar as mulheres “em seu lugar”,
uma contrarrevolução cultural:
“Quando Theodore Roosevelt usou o termo ‘suicídio racial’,
ele, na verdade, culpa as mulheres que estão indo para
a faculdade pela primeira vez por esse eventual suicídio
da raça branca, ‘a certa’.
Há uma ligação entre o futuro educacional e aspiracional
das mulheres e o declínio da taxa de natalidade.
Havia essa ansiedade de que mulheres brancas, nativas
e de classe média estivessem tendo famílias menores.”
Em abril deste ano, Genevieve L. Wojcik, professora de
epidemiologia da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore,
escreveu um alerta a seus colegas cientistas na revista
Nature com o título “Eugenics is on the rise again: human
geneticists must take a stand” (A eugenia está em ascensão
novamente: geneticistas humanistas precisam se posicionar).
A professora alinhavou várias declarações de autoridades
do governo Trump para fazer o alerta de que a Ciência
muita vezes se molda a objetivos políticos de seus financiadores.
O ataque simultâneo de Trump a universidades, centros
culturais, institutos de pesquisa, à Ciência e aos miseráveis
em geral acontece num contexto de ascensão do neofascismo
— que ele [e seus Comparsas Submissos Locais] pretende[m] reimplantar no Brasil.
Íntegra em:
https://semanal.revistaforum.com.br/wp-content/uploads/2025/08/Revista-Forum-176-15.8.2025-3.pdf
https://revistaforum.com.br/global/2025/8/14/ideias-que-hitler-copiou-dos-eua-renascem-sob-trump-185440.html