Soberania, resistência e esperança marcam a abertura do XVIII Congresso da Alames no Brasil

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Em noite marcada por posicionamentos políticos e celebração popular, abertura do congresso reafirma o papel da saúde coletiva na luta por democracia e soberania dos povos

Por Fernanda Regina da Cunha, no site Cebes

Em um marco histórico para a saúde coletiva e a medicina social latino-americana, teve início a abertura oficial do XVIII Congresso da Associação Latino-Americana de Medicina Social e Saúde Coletiva (ALAMES), reunindo vozes plurais, trajetórias comprometidas e lutas compartilhadas por justiça social, democracia e soberania dos povos. A cerimônia aconteceu na noite de ontem, terça-feira (5).  

O evento celebra os 40 anos da associação e acontece na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), reafirmando a urgência de articular saberes, territórios e movimentos diante dos desafios contemporâneos que atravessam a América Latina.

A mesa de abertura reuniu representantes de instituições nacionais e internacionais comprometidas com a defesa da saúde como direito e a construção de sociedades mais justas. Entre os presentes, lideranças da ALAMES, do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde – Cebes, da OPAS/OMS, da UERJ, do Ministério da Saúde, da FIOCRUZ e do Conselho Nacional de Saúde.

A presidenta do Congresso, a médica sanitarista Ana Maria Costa, destacou o simbolismo de realizar o evento no Brasil, país onde a ALAMES foi fundada há 40 anos. Ela relembrou a primeira reunião em Ouro Preto, com menos de 30 participantes, e ressaltou o papel da UERJ e do Instituto de Medicina Social na consolidação do pensamento crítico em saúde coletiva no país.

Ana também agradeceu o colegiado da ALAMES e o Cebes, responsável por coordenar a comissão organizadora, e celebrou a força coletiva que tornou possível a realização do evento. “É o maior congresso da história da ALAMES e o primeiro realizado de forma independente no Brasil”, afirmou. O evento reúne 2.100 participantes inscritos.

O presidente da Fiocruz, Mario Moreira, trouxe à abertura um tom de esperança em meio às adversidades políticas enfrentadas pelo Brasil e por outros países da região. “Enfrentamos tempos difíceis, em que nossa soberania enquanto nação tem sido colocada à prova. Mas, diante dessa plateia latino-americana, eu volto a acreditar: a luta pela saúde e pela democracia vale a pena”. Representando a instituição pública que há 125 anos atua na defesa da saúde no Brasil e na América Latina, Moreira destacou o fortalecimento das cooperações científicas e acadêmicas com países da região, além de anunciar uma nova etapa de atuação internacional da Fiocruz: a diplomacia tecnológica. 

Anfitriã do congresso, a reitora da UERJ, professora Gulnar Azevedo, destacou o simbolismo do encontro em um espaço público de ensino comprometido historicamente com a saúde coletiva. “Somos vivos, resilientes e, mais do que isso, resistentes. Nossos países são soberanos e a gente está aqui para afirmar isso”, afirmou. 

O presidente do Cebes, Carlos Fidelis, reforçou o caráter político do evento como espaço de resistência diante das ameaças neoliberais e autoritárias que se intensificam na América Latina. Ele relembrou a origem comum dos países da região marcada pelo colonialismo, o genocídio dos povos originários e a escravidão negra, e destacou o potencial criativo latino-americano na formulação de conceitos como saúde coletiva, determinação social da saúde e bem-viver.

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Ao criticar o avanço do rentismo e das políticas de austeridade, Fidelis fez um alerta contundente sobre a estrutura desigual da economia brasileira: “Só em 2024, quase um trilhão de reais foram retirados em pagamento de juros. Com esse valor, poderíamos ter feito uma revolução na saúde e na educação”. Ele também questionou o uso de isenções fiscais e as emendas parlamentares.

A cerimônia de abertura foi marcada pela ênfase na soberania dos povos como fundamento para a construção de sociedades e sistemas de saúde mais justos. As falas trouxeram, com coragem, denúncias sobre o genocídio em curso na Faixa de Gaza e outros ataques que ameaçam a democracia, os direitos humanos e os territórios na América Latina e no mundo. Em meio à gravidade dos temas, o encerramento surpreendeu o público com a vibrante participação da Escola de Samba Vila Isabel, que trouxe alegria, memória popular e espírito coletivo à noite de abertura do congresso.

Primeira Conferência – A presidenta do Congresso, Ana Maria Costa abriu a primeira conferência do evento. 

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