Alberto Tamer: O Brasil está sozinho nesta crise

Tempo de leitura: 3 min

por Alberto Tamer, em O Estado de S. Paulo

O FMI elevou o tom e lançou um desafio. A crise – “que se desdobra e aumenta” – não pode ser resolvida por um grupo de países, mas por todos em todas as regiões do mundo. Todos serão atingidos. O cenário é cada vez mais sombrio. Ou se aplica uma ação coletiva ou teremos um quadro similar ao dos anos 30. Só resta um caminho: um acordo da comunidade internacional, canalizando recursos via FMI, que não tem recursos suficientes para salvar a Europa com a urgência que se agrava.

30 bilhões só em janeiro. Não contem com o plano aprovado pela União Europeia que prevê em princípio 200 bilhões para o FMI em 2012. A dívida grega a ser vencida neste ano é de mais de 300 bilhões, 80 bilhões só em janeiro, mais 130 bilhões cuja liberação está sendo posta em dúvida pelo FMI, BCE e governos europeus porque o novo governo não cumpriu as metas de austeridade fiscal. O mesmo está sendo imposto à Itália. Os bancos europeus não têm condições de rolar essa dívida. O BCE os estimula e oferece empréstimos para essas operações, mas ao mesmo tempo não aumenta a compra dos títulos da Itália e da Espanha. Por que, em vez de emprestar, não compra diretamente esses papéis? Porque a Alemanha não deixa. Não é função do BCE, afirma Merkel, e pede socorro ao FMI… que pede socorro aos outros países… que, agora, corre para o G-20 …que continua dizendo não. O susto da Lagarde não assustou muito. Parece que sua credibilidade está em baixa, porque, como ex-ministra das Finanças da França, se comprometeu muito com o que está acontecendo. Em uma frase, o alerta do FMI a todos os países é “não contem com a União Europeia para financiar a dívida soberana e muito menos para crescer.”

Brasil responde. Parece que o governo brasileiro entendeu o recado. “Nós não contamos com o auxílio de ninguém para enfrentar a crise internacional”, afirmou a presidente Dilma em café da manhã com os jornalistas no Alvorada. “Contamos com o que temos de força, o mercado consumidor. É hora de fortalecê-lo”, acrescentou. O país está mais preparado que em 2008, quando a crise foi maior. “O crédito que era de R$ 400 bilhões, passou para quase R$ 1,94 trilhão.” E há mais recursos próprios que podem ser usados para financiar a atividade econômica e conseguir um crescimento de 4,5% a 5% em 2012, afirmou. Com a União Europeia ou sem ela.

Os dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que o comércio com a União Europeia representou 20,7% das vendas brasileiras, entre janeiro e novembro, mas ainda não foi afetado pela crise. A exportações totalizaram US$ 38,5 bilhões, o que representa uma alta de 25,8% sobre igual período do ano anterior. É o terceiro mercado, depois da Ásia, América Latina e Caribe (leia-se Estados Unidos). O superávit comercial com a Europa é de US$ 6,1 bilhões, quase 50% mais até novembro do ano passado. Há sinais de recuo. Eles continuam importando 51% de produtos básicos, decorrentes de commodities. Grande parte, alimentos.

Há sinais de recuo, mas também de aumento das exportações para outros países. Aqui um novo realismo toma conta do Itamaraty. O ministro Antonio Patriota aproveitou a reunião da OMC, em Genebra, e reuniu-se isoladamente com 15 governos europeus para oferecer oportunidade de negócios com o Brasil e exportar mais. Sinal de pragmatismo do novo ministro, que recebeu a pesada herança de indiferença comercial de Celso Amorim, que impediu qualquer acordo isolado com outros países fora da OMC. Aquela história de Doha …

Podem gritar que não escuto. Parece que é essa a nova política comercial do Brasil. Vocês se defendem, e por que eu não? Foi o que deu a entender o ministro na reunião de Genebra. Não é hora em falar em multilateralismo quando, em meio à desaceleração mundial, todos se defendem desvalorizando suas moedas. Na área comercial e financeira, é cada um por si. Veja a Lagarde pedindo socorro que ninguém ouve para a Europa. Tempos sombrios estão para vir e a presidente está certa. O Brasil não conta com ninguém para enfrentar a crise.

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