André Barrocal: Weintraub é suspeito de tentar forçar TCU a reprovar contas da reitora da UnB

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Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Sabotagem e misoginia embalam perseguição do MEC à UnB

Ministro Weintraub é suspeito de tentar forçar TCU a reprovar contas da reitora Márcia Abrahão

por André Barrocal, em CartaCapital

Em 9 de dezembro, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, esteve no Tribunal de Contas da União (TCU) para se reunir com o ministro Walton Alencar.

Às 11h11 daquele dia, quatro horas antes da hora da reunião, a reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão Moura, recebeu um email com uma dica. Weitraub pediria a Alencar que reprovasse as contas de 2017 da UnB.

O ministro, que está de férias para talvez não voltar mais ao cargo, tinha mesmo esse objetivo? É um mistério até agora, mas as ações de Weintraub e do governo Jair Bolsonaro em geral não deixam dúvidas de que a UnB, criada no governo do presidente trabalhista João Goulart (1961-1964), seja um alvo do bolsonarismo.

Dois dias depois de ir ao TCU, Weintraub participou de uma audiência pública na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e fugiu do assunto, embora tenha sido perguntado a respeito por vários parlamentares.

CartaCapital questionou o Ministério da Educação, via assessoria de imprensa, se as contas da UnB foram tratadas na reunião, e a pasta respondeu que não iria comentar.

Weintraub esteve na Câmara na condição de convocado, sempre um constrangimento para as autoridades, exatamente por uma história que também tem a UnB como personagem.

Em 22 de novembro, ele disse a um site bolsonarista, o Jornal da Cidade, que havia plantação de maconha e produção de drogas sintéticas nas universidades federais.

No dia seguinte, citou duas delas no Twitter, a UnB e a UFMG, de Minas Gerais, e postou reportagens para ilustrar suas acusações.

A Andifes, associação nacional dos reitores, entrou com uma ação judicial contra o ministro, que foi intimado.

Por iniciativa da oposição, Weintraub foi convocado pelos deputados para se explicar. E não recuou. Repetiu tudo.

A reportagem citada por Weintraub no Twitter sobre maconha na UnB era de 2017 e tratava de uma apreensão da droga em uma área que seria da universidade.

Soube-se depois que a notícia era incorreta. Uma sindicância da UnB, levada adiante por um professor da faculdade de Direito em paralelo a um inquérito policial, mostrou que a plantação ficava em um terreno da Marinha localizado próximo à universidade.

A reitora na época já era a atual, Márcia Abrahão Moura, eleita em 2016, primeira mulher no cargo na UnB.

A UFMG, outra atacada por Weintraub, também tem uma reitora, Sandra Regina Goulart Almeida, da área de Letras (Márcia é geóloga).

O ministro demonstra misoginia latente. Em 15 de novembro, escreveu no Twitter que a proclamação da República foi o “primeiro golpe de estado” no Brasil, uma internauta comentou que ele seria “bobo da corte”, se o País voltasse à monarquia, e o ministro reagiu assim: “Prefiro cuidar dos estábulos, ficaria mais perto da égua sarnenta e desdentada da sua mãe”.

Em 25 de novembro, Jair Bolsonaro recebeu no Palácio do Planalto Marcelo Hermes Lima, líder dos “docentes livres” da UnB, eufemismo para direitistas e opositores de Márcia Abrahão, uma reitora tida como progressista.

Agora em dezembro, a UnB teve a nota de seus cursos rebaixada pelo MEC de 5 para 4, após anos com nota máxima. Não reconhece o rebaixamento, que diz ser obra de erros e de “um centésimo”, e tenta reverter a decisão.

Com menos de um mês no ministério da Educação, Weintraub anunciou o corte de 30% da verba de três universidades federais, por razões ideológicas, e uma delas era a UnB – as outras eram a UFBA, da Bahia, e a UFF, do Rio de Janeiro.

A perseguição do ministro à UnB foi tema de uma reunião do órgão máximo da instituição, o Conselho Universitário, na quarta-feira 18.

Houve quem tenha apresentado aprovar uma moção a favor da demissão do ministro e um pedido de retratação.


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Comentários

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Montolvani

Só toupeiras não vêem que as universidades federais estão tomadas de drogas. Este ministro deixa inveja nas esquerdalhas, por isso é visado. Compare com a tralha que tínhamos nos tempos PTralha.

Valdir Rocha de Freitas

Lamentável ver o Brasil nas mãos covardes destes fascistas.
Lamentável.

a.ali

o que essas criaturas aprontarão ? de que submundo emergiram ?

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