A professora e o imposto

Tempo de leitura: 2 min
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Por Marco Aurélio Mello

por Marco Aurélio Mello

A professora chega na sala de aula e conta para os alunos que vai visitar a filha no fim do ano, no hemisfério Norte.

A molecada tem 10 anos de idade, entre eles, o meu filho caçula.

A ideia da professora é comprar um casaco bem grosso (de seiscentos reais!) para enfrentar o inverno.

Pelo telefone a filha se espanta: com o mesmo valor ela comprou luvas, gorros, cachecóis e casacos para ela e o marido.

A professora conclui que “a culpa” é dos impostos.

Meu filho está abismado com tamanha diferença, pergunta, quer entender…

Digo a ele que a professora esqueceu de contar algo muito importante.

Ela está comparando nossa sociedade com a maior sociedade de consumo do planeta.

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Expliquei que numa sociedade de consumo com esse grau de intensidade, quase sempre, as pessoas têm muito mais do que precisam.

E são estimuladas a comprar o tempo todo.

E é tanto, mas tanto estímulo, que elas compram sem pensar, o que gera um enorme desperdício.

Para facilitar ainda mais a compreensão apelei para algo do universo dele.

– Quando você sai para comer um sanduíche, o que você pede?

– Pão, carne e queijo; fritas (embalagem pequena) e suco de uva (copo pequeno).

– Quanto custa?

– Dezenove reais.

– Sabe quanto custa o combo com sanduíche duplo, fritas média e refrigerante médio?

– Não.

– Dezenove reais e noventa centavos.

– Entendeu?

– Sim, é mais vantagem, né?

– É a lógica do combo, filho. Somos sempre estimulados a consumir mais do que precisamos.

– Sim.

– Já imaginou o impacto disso em nós todos e no planeta?

– Sim.

– Não é à toa que há tantas crianças obesas hoje em dia, não acha?

– Sim.

– Pensando bem, não sei se ter impostos altos não é tão ruim…

– Verdade.

Depois deste pequeno diálogo fiquei pensando o quão importante é o papel do professor.

Tenho certeza de que da próxima vez a professora não vai “vender seu peixe” para ele assim tão fácil.

E eu nem falei da lógica das matérias-primas, do trabalho semi escravo nos países periféricos, do consumo de energia e água em larga escala, da poluição…

Se você é do tipo que defende escola “sem partido”, é melhor abrir o olho!

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Marco Aurélio Mello

Jornalista, radialista e escritor.


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