Dados confirmam que Lava Jato tem potencial de transformar Dallagnol num milionário das palestras
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Da Redação
Quando o procurador da República Deltan Dallagnol se tornará um milionário das palestras?
Sabe-se que, em 2016, ele doou 219 mil reais referentes a 12 palestras a um hospital dedicado a combater o câncer infantil. Não está claro se a doação foi o total ou apenas parte do recebido naquelas palestras específicas, nem se ele fez palestras adicionais remuneradas.
Doar dinheiro a um hospital é excelente iniciativa, mas está longe de esclarecer o principal: deve um procurador da República ganhar dinheiro a partir da notoriedade obtida num cargo público?
O dinheiro e a fama obtidos não podem incentivar um procurador a turbinar suas acusações, usando power points repletos de convicções mas com poucas provas?
A lista completa de clientes de Dallagnol permanece desconhecida. Ele alega que assinou cláusula de confidencialidade.
Não se sabe quantas palestras fez ao longo da carreira, quantas foram pagas, nem se houve ganho financeiro pessoal.
Ao Valor Economico, Dallagnol disse que a atividade é “legal, lícita e privada”.
O ex-ministro da Justiça, Eugenio Aragão, não concorda. Pegou pesado numa carta aberta ao colega:
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Como funcionário público que você é, reputação é um ativo imprescindível, sobretudo para quem fica jogando lama “circunstancializada” nos outros, pois, em suas acusações, quase sempre as circunstâncias parecem mais fortes que os fatos. E, aqui, as circunstâncias, o conjunto da obra, não lhe é nada favorável.
Sempre achei isso muito curioso. Muitos membros do Ministério Público não se medem com o mesmo rigor com que medem os outros.
Quando fui corregedor-geral só havia absolvições no Conselho Superior. Nunca punições.
E os conselheiros ou as conselheiras mais lenientes com os colegas eram implacáveis com os estranhos à corporação, daquele tipo que acha que parecer favorável ao paciente em habeas corpus não é de bom tom para um procurador.
Ferrabrás para fora e generosos para dentro.
Você também se mostra assim. Além de comprar imóvel do programa “Minha Casa Minha Vida” para especular, agora vende seu conhecimento de insider para um público de voyeurs moralistas da desgraça alheia.
É claro que seu sucesso no show business se dá porque é membro do Ministério Público, promovendo sua atuação como se mercadoria fosse.
Um detalhe parece que lhe passou talvez desapercebido: como funcionário público, lhe é vedada atividade de comércio, a prática de atos de mercancia de forma regular para auferir lucro.
Dallagnol foi alvo de reclamação dos deputados petistas Wadih Damous e Paulo Pimenta. O Conselho Nacional do Ministério Público abriu procedimento para apurar.
Segundo o Valor, a mais recente palestra de Dallagnol foi para a XP Investimentos, em São Paulo. O ingresso custou R$ 800. A empresa, que atua no mercado financeiro, diz que tem 230 mil cientes com R$ 65 bi em valor sob custódia.
Durante a campanha pelas 10 Medidas contra a Corrupção, uma ação institucional do Ministério Público Federal, Dallagnol fez palestras em igrejas protestantes que arrecadam dinheiro nos cultos eletrônicos através de depósitos bancários.
Este fato suscita várias perguntas: é lícito e moral um procurador da República, representante de um Estado laico, usar sua presença para turbinar um evento que serve a uma causa religiosa? É lícito um agente do Estado, pago por contribuintes que podem ser ateus ou budistas, emprestar prestígio acumulado em sua carreira pública para arrecadação financeira de um grupo religioso privado e específico?
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