Altamiro Borges: “Tenho horror a CPI”, disse ex-presidente do PSDB; no caso da merenda, tucanos seguem a lição
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A farsa da CPI da máfia da merenda em SP
Por Altamiro Borges, em seu blog
Os tucanos detestam CPIs – como confessou o falecido coronel Sérgio Guerra, ex-presidente nacional do PSDB, em um vídeo que a mídia amiga já tratou de arquivar.
Eles só gostam de comissões parlamentares de inquérito para desgastar os adversários políticos e para achacar os supostos envolvidos em mutretas.
Quando há risco de virarem alvos, eles fazem de tudo para sabotar as investigações.
Prova disto ocorre – pela enésima vez – em São Paulo.
Nesta quarta-feira (22), houve a primeira sessão da “CPI da Merenda” na Assembleia Legislativa do Estado.
Há inúmeras provas de que tucanos de alta plumagem, a começar do presidente da Alesp, o moralista sem moral Fernando Capez, roubaram a comida das escolas.
A sessão, porém, deixou evidente que a CPI será uma farsa.
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Foi eleito para presidi-la o deputado Marcos Zerbini, um tucano famoso pelo servilismo diante de Geraldo Alckmin.
Dos nove membros da CPI, oito pertencem à tropa de choque do governador. O PSDB, que nunca caiu na conversa fiada do tal “republicanismo”, sequer permitiu que o único deputado da oposição, o petista Alencar Santana Braga, fizesse parte do colegiado.
Os secundaristas, que ocuparam as escolas e a própria Alesp, reagiram à patética encenação. Diante dos protestos, Marcos Zerbini encerrou intempestivamente a sessão e informou que utilizaria a prerrogativa regimental para indicar o relator da matéria.
Ou seja: tudo indica que a “investigação” não vai dar em nada, que a máfia da merenda não será punida e que o “picolé de chuchu” seguirá incólume.
Apesar do inicio lastimável, os secundaristas prometem manter a pressão e a bancada da oposição, composta por PT e PCdoB, já anunciou que reforçará as investigações.
Na sessão desta semana, os petistas apresentaram requerimento pedindo a convocação de Fernando Capez e de assessores de Geraldo Alckmin – como Fernando Padula, ex-chefe de gabinete da Secretaria de Educação, e Luiz Roberto Santos, o Moita, ex-chefe do gabinete de Casa Civil.
Estes e outros tucanos aparecem nas gravações colhidas pela Operação Alba Branca, do Ministério Público e Polícia Civil, sobre a máfia da merenda. Marcos Zerbini, porém, rejeitou o requerimento.
A bancada da oposição pretende insistir nestas convocações e já estuda ingressar na Justiça para ampliar a sua participação na CPI.
Para quem já não se lembra do caso da máfia das merendas – até porque a mídia chapa-branca evita dar destaque para o assunto –, a Operação Alba Branca foi deflagrada em janeiro deste ano.
Ele tinha como foco a Coaf, uma cooperativa agrícola acusada de superfaturar o preço dos produtos da merenda escolar vendidos ao governo estadual e a 22 prefeituras de São Paulo.
No curso das investigações, a Polícia Civil descobriu o envolvimento de vários políticos do PSDB – inclusive do presidente da Alesp.
Em sua delação premiada, o lobista Marcel Ferreira deu detalhes sobre a participação de Fernando Capez e de vários integrantes do governo de Geraldo Alckmin.
Eles teriam recebido propinas em que contratos que somaram mais de R$ 32 milhões.
Os estudantes secundaristas, que no ano passado deram uma aula de cidadania ao ocupar dezenas de escolas contra o projeto de reestruturação do ensino de Geraldo Alckmin, passaram a exigir a punição dos corruptos da máfia da merenda.
A torcida organizada do Corinthians, “Gaviões da Fiel”, também levou o assunto para os estádios de futebol.
Após vários protestos de rua e da ocupação do plenário da Alesp, em maio último, os deputados governistas se viram obrigados a aceitar a criação da CPI.
Agora, porém, eles manobram para transformá-la numa farsa.
Daí a importância da intensa pressão da sociedade. Para ajudar neste esforço reproduzo abaixo o nome dos integrantes da comissão de inquérito. Não custa pressioná-los e denunciá-los:
— Marcos Zerbini (titular), Orlando Morando (suplente) – PSDB
— Barros Munhoz (titular), Carlão Pignatari (suplente) – PSDB
— Estevam Galvão (titular), Cezinha de Madureira (suplente) – DEM
— Adilson Rossi (titular), Caio França (suplente) – PSB
— Jorge Caruso (titular), Jooji Hato (suplente) – PMDB
— Gilmaci Santos (titular), Wellington Moura (suplente) – PRB
— Coronel Camilo (titular), Marta Costa (suplente) – PSD
— Delegado Olim (titular), Antonio Salim Curiati (suplente) – PP
— Alencar Santana (titular), Luiz Turco (suplente) – PT
Gravação mostra líder tucano Sérgio Guerra sabotando CPI, diz PF
A Polícia Federal afirma que um vídeo gravado por câmeras de segurança comprovaria uma reunião entre o então presidente do PSDB e senador Sérgio Guerra (PE) e o então diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e empreiteiros para paralisar a CPI da Petrobras, em 2009.
Na gravação, Guerra afirma que “não vamos polemizar”, diz que tem “horror a CPI” e que considera “deplorável” um deputado “fazendo papel de polícia”.
O tucano, que morreu em 2014, era um dos integrantes da comissão. As informações são da Folha de S. Paulo.
A reportagem teve acesso a relatório da PF com a transcrição das conversas, que ocorreram no escritório de um amigo do lobista Fernando Soares, o Baiano, também presente.
Em sua delação premiada, Costa disse que Guerra pediu R$ 10 milhões para enterrar a CPI e que o pagamento foi feito pela empreiteira Queiroz Galvão.
Segundo a Folha, participam da reunião um então executivo da Queiroz Galvão, Ildefonso Colares Filho, e um da Galvão Engenharia, Erton Medeiros.
Presos na Operação Lava Jato em novembro de 2014, ambos foram soltos em 2015 por ordem do Supremo Tribunal Federal.
Ouvidos sobre o vídeo, Costa e Baiano teriam interpretado, segundo a reportagem, um determinado trecho da gravação como sendo um acerto velado de pagamento.
Eles conversavam sobre a defesa da Petrobras contra uma empresa que apresentava problemas. Guerra comenta: “Acho que a defesa não foi completa, a defesa não foi [o advogado] Antônio Fontes?”.
Depois, pergunta: “E aí, como é que tá [inaudível] bem?”. Colares responde: “Dando suporte aí ao senador, tá tranquilo”. Guerra diz: “Conversa aí entre vocês”.
Guerra deixa clara sua disposição em não avançar na CPI, segundo a transcrição. O tucano afirma inclusive que seu então colega de partido, o senador Álvaro Dias (atualmente PV-PR), queria mandar “algumas coisas pro Ministério Público”, mas que ele tentaria “controlar isso”.
De acordo com a Folha, Guerra também chega a questionar Costa sobre atrasos nas obras e acusações de sobrepreço.
O então executivo da Petrobras cita custos, exemplificando com a mão de obra, e diz que não havia irregularidades. “Aí você vai na obra lá, tem refeitório com ar-condicionado, nutricionista e tal. Custa mais caro, custa.”
Guerra o tranquiliza: “Nossa gente vai fazer uma discussão genérica, não vamos polemizar as coisas. […] Eu tenho horror a CPI, nem a da Dinda [possível referência à investigação contra o então presidente Fernando Collor] eu assinei, é uma coisa deplorável, fazer papel de polícia. Parlamentar fazendo papel de polícia”.
Em nota, o PSDB informou que “não conhece a gravação e por isso não comentará, mas reitera seu apoio às investigações da Lava Jato”.
A Queiroz Galvão informou que “não tem conhecimento do suposto vídeo e de seu conteúdo” e que não comenta investigações em andamento.
A Galvão Engenharia nega as acusações e disse que Erton Medeiros já deu esclarecimentos às autoridades.
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