Meus queridos,
Em que pese parecer que o assunto está se esgotando, farei uma reflexão aqui sobre os tais “efeitos colaterais” da operação militar realizada no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro. A controvérsia se dá em função da existência de ocorrências como a narrada no vídeo em que mostra o morador dizendo-se roubado pelos policiais, o que não é um fato impossível de acontecer. Tomando-se pois por verdadeiro o fato, digo que é inaceitável a atitude que levou às lágrimas o senhor protagonista do referido vídeo, porém, nesse momento não é o Estado agindo, mas sim, os delinquentes agindo infiltrados nas instituições oficiais do Estado.
Ou seja, é o Estado contaminado por aquilo que o Estado se propôe a combater.
O fio de luz no fim do túnel, é que quando este tipo de comportamento se manifesta em instituições oficiais do Estado, existe a possibilidade, por mais difícil que seja, por mais remota, de se cobrar, corrigir e reaver o dano sofrido. Enquanto que sob os tentáculos da delinquência marginal não há essa possibilidade.
Não sei exatamente o termo que devo empregar mas chamarei de “delinqüência marginal” vez que estou me referindo à delinqüência que, semelhante em sua conduta, está à margem das instituições oficiais.
A delinquência marginal, diferentemente da operação militar empregada para combatê-la, não provoca efeitos colaterais: ela é todo o mal direto que há.
Temos então a seguinte realidade: a) uma delinqüência marginal cujos tentáculos abarcam um número maior de vítimas e que emprega uma variedade ilimitada de métodos cruéis; b) uma urgência em combater essa anomalia da sociedade; c) e uma delinqüência infiltrada nas instituições oficiais de combate à delinqüência marginal (aqui me restrinjo às instituições oficiais que participaram e participam da operação acima referida, em especial às polícias Militar e Civil).
Parece-me então que estamos diante de um caso às avessas da escolha de Sófia. Ou seja, temos de imediato que escolher um entre os dois males unicamente possíveis nesse instante. Até o dia em que o ideal proposto pelo comentarista Roberto Locatelli tornar-se realidade.
Não se trata de ter o coração duro e de não estar nem aí para a população vítima das duas delinqüências aqui referidas, trata-se de uma constatação fática.
Pensando no aqui e agora, em que pese nenhum ser humano saudável desejar viver sob jugo de traficantes ou de polícia corrupta, chego à conclusão que algum ser humano saudável nesse momento vive sob o jugo de traficantes ou de polícia corrupta. Essa é a razão pela qual por vezes assumo o comportamento de louco, para não enlouquecer.
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Em tempo: não sou especialista em nada. Sou alguém que também apanha e tenta ao menos tirar alguma lição das lapadas que leva.
“Mestres da Filosofia: com mais saber e engenho, o meu gato mia” – Agostinho da Silva
Gerson Carneiro




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