Toni Reis: Parada LGBT e a guerra de números

Tempo de leitura: 3 min

por Toni Reis

No dia último domingo, 10 de junho, a Avenida Paulista foi palco novamente da monumental e colorida Parada do Orgulho LGBT, já em sua 16ª edição. Parabéns aos organizadores pelo belo tema: “Homofobia tem cura: criminalização e educação”.

Para nós, o mais importante é visibilidade massiva, a mobilização social. É o tema e o conteúdo das reivindicações da Parada LGBT o que de fato importa. Impressionante como parte da cobertura midiática, quase sempre, se perde em um grande número de superficialidades.

Ano após ano, assistimos a um debate fútil sobre os números de participantes da Parada, ou a publicação de dezenas de outros dados triviais (quilos de lixo, número de celulares roubados…) que ofuscam e desviam a atenção pública da verdadeira razão de ser da Parada.

Se o número de participantes tem alguma importância, é no sentido de destacar o tamanho da multidão e o fenômeno espetacular que é a Parada LGBT de São Paulo, considerada a maior do mundo.

As “guerras de números”, além de desviar do foco da Parada, acabam servindo de biombo para setores atrasados, conservadores e fundamentalistas fazerem ataques gratuitos contra as pessoas e o movimento LGBT.

Não queremos competir com ninguém. A Parada LGBT não é concurso de multidões. Não importa quantas pessoas participam da Parada LGBT: se um, dois ou três milhões – bem como de qualquer ou qualquer outra Marcha, passeata ou coisa que o valha, independente de seu propósito ou motivação.

Para recorremos ao nosso grande idealista, Gandhi: “uma civilização é julgada pelo tratamento que dispensa às minorias”. O que importa é o objetivo e a pauta da nossa manifestação. Nosso objetivo é muito nítido: queremos direitos iguais, nem menos, nem mais. Queremos o fim da violência e da discriminação contra a população LGBT e queremos políticas públicas de combate à homofobia em todas as áreas, inclusive na educação.

Queremos ser respeitados(as) como cidadãos e cidadãs deste país. Queremos cidadania plena para todos e todas. Por isso saímos às ruas para manifestar, da nossa forma própria, com alegria e festa, porque atualmente – apesar das garantias constitucionais – a população LGBT não vem sendo tratada com igualdade neste país e nem conta com a proteção jurídica já existente para as demais assim chamadas “minorias sociais”.

Parabéns a todos os líderes políticos presentes na Parada LGBT de São Paulo pelo exemplo de respeito que deram. Parabéns à nossa querida senadora Marta Suplicy, ao governador Geraldo Alckmin, ao prefeito Gilberto Kassab, ao Fernando Haddad que visitou a organização da Parada, ao deputado federal Jean Wyllis, ao ex-deputado Celso Russomanno, à ex-vereadora Soninha Francini, entre outros(as) parlamentares que se fizeram presentes, como o vereador Ítalo Cardoso.

Parabéns a todos e todas que querem um Brasil republicano, laico, que respeite a dignidade humana, independente da orientação sexual, identidade de gênero, das características ou peculiaridades de cada pessoa.

Com a decisão do Supremo Tribunal Federal do dia 5 de maio de 2011, reconhecendo a igualdade das uniões estáveis homoafetivas, ninguém perdeu qualquer direito, mas nós pessoas LGBT ganhamos muito. A decisão deu uma nova perspectiva: reconheceu os princípios da igualdade, da liberdade, da laicidade, da dignidade humana, e que a liberdade de expressão não seja utilizada como um salvo-conduto para agredir ou incitar o ódio.

Somos um movimento de paz e em defesa da pluralidade. Somos contra o preconceito, a discriminação e a violência.

Viva a diversidade humana, viva a cidadania plena de todos e todas.

Toni Reis é presidente da ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.  É doutor em Educação, Mestre em Filosofia, Especialista em Sexualidade Humana e formado em Letras pela UFPR


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Comentários

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Maria do Rosário: Campanha promove ódio contra a comunidade LGBT « Viomundo – O que você não vê na mídia

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Wandson

Com essa atitude os Gays estão cavando a propria cova, nós vivemos em um mundo machista, tradicionalista e hetero, o resto é o resto e nunca vai ser parte, recolhan-se ao seu mundo e vivam felises! como sempre viveram, no armario! rsrs

Geysa Guimarães

Bruno:
Sei lá se cabem mil ou milhões, mas que a Paulista tava cheia, é inegável.
Mar de gente significa, sim, que tinha MUUUUUUUUUUUITA GENTE!
Agora virou festa, sim, os direitos principais já foram conquistados.
Espiei a Parada no início, quando morava bem perto, na al. Franca.

Warlem

Farsa de números, multidão, festa a céu aberto, reivindicações de direitos… blá,blá,blá. E quem perde é só a família brasileira com isso, o homem natural tem direito de deixar pai e mãe unir se a sua mulher e ser os dois uma só carne.

Fabio Passos

Penso que é isso mesmo.
O PIG faz discussões fúteis e apresenta informações triviais para esconder o verdadeiro objetivo da Parada Gay.
O tema deste ano faz referência a projeto de lei que precisa ser aprovado no congresso: “Homofobia tem cura: criminalização e educação”.

Esta direita medieval que o jose serra e o PIG representam são o atraso.

Vlad

E se os números tivessem aumentado?
O discurso seria o mesmo?
Ótica seletiva.
Ok…faz parte, mas não pense que a gente não percebe.

Rodrigo Leme

Ou seja, camarada faz uma rave, uma festança com música, gente fantasiada, etc. ao céu aberto, e quer que as pessoas se prendam “ao tema sério”. Então está fazendo errado…

Willian

Mas a guerra de números começa justamente com os organizadores da parada, que a cada ano inflam mais os números, com a intenção de arrecadar cada vez mais Aí, alguém tem que colocá-los no devido lugar.

    MariaC

    Em se tratando de argumentação estamos mesmo nas trevas.

    Se não há inscrição para cada participante, então não importa o número de pessoas para aferir-se a arrecadação. Arrecadação de quem caro leitor?

LEANDRO

MOSCOU — Em uma nova onda de proibições a manifestações na Rússia, a justiça de Moscou negou nesta quinta-feira a realização da marchas de orgulho gay pelos próximos 100 anos, decisão que a comunidade homossexual do país já afirmou que irá recorrer no Tribunal de Direitos Humanos em Estrasburgo. O tribunal municipal de Moscou negou uma apelação de Nikolái Alexéyev, ativista e principal líder LGBT do país, que solicitava a realização da parada gay na cidade nos próximos 100 anos. Uma medida anti-propaganda gay já havia entrado em vigor em cinco regiões da Rússia.

Moacir Moreira

Ao que tudo indica a Parada Gay aos poucos vai se recolhendo à sua natural insignificância.

O povo brasileiro tem problemas muito mais urgentes e graves a resolver.

    Geysa Guimarães

    Insignificância? E as fotos com aquele mar de gente, significa o quê?
    Nota – sou hetero mas não preconceituosa, como vc parece ser.

    Bruno

    “Mar de gente” não significa nada. Não é porque se vê a avenida lotada que existem 4 milhões de pessoas nela. A Corrida de São Silvestre toma toda a Paulista, do Paraíso à Consolação, nos seus minutos iniciais, com apenas 20 mil participantes (das pessoas que já chegaram à primeira curva àquelas que sequer começaram a se mover). E, sob a óptica da quantidade de participantes, pode-se considerar que ela é menos de 10% menos movimentada que a direção quer fazer parecer. Ora, por quê? Qual o problema em ter “apenas” 200, 300 mil participantes?

    Note bem, não se trata de homofobia: creio que os direitos dos gays etc devem ser rigorosamente os mesmos dos heterossexuais. Mas creio também que esta farsa do número de participantes tira credibilidade da organização. E, além, Me parece que é uma grande festa a céu aberto, muito mais do que uma manifestação, para a maior parte de seus frequentadores.

Geysa Guimarães

Danado, esse Toni Reis.
Expressa-se lindamente. Muito bom texto.

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